Opinião | A melhor estratégia de Trump para derrotar Kamala é bastante simples

Como disputas presidenciais são vencidas e perdidas com base na personalidade dos candidatos, Donald Trump terá que dizer aos Estados Unidos que Kamala Harris é fraca e mudou de posição quando foi conveniente

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Por Rich Lowry (The New York Times)

Com a defenestração de Joe Biden e a ascensão de Kamala Harris, o senso comum deixou de perguntar “Como Donald Trump pode perder?” e passou a indagar “Como ele pode vencer?”

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A disputa ainda será decidida por uma margem muito pequena, mas o sucesso do lançamento da candidatura de Kamala e da convenção democrata, juntamente com o desempenho vacilante de Trump desde a saída de Biden, criaram uma sensação de embalo irresistível em favor de Kamala.

Como de costume, quando ele vacila, Trump está recebendo muitos conselhos de sua própria equipe.

Desde o início da ascensão de Trump no Partido Republicano, ele embarca em alguma tangente sem sentido enquanto os republicanos o incentivam — talvez enquanto o acompanham apressados por um corredor do Capitólio dos EUA — a falar sobre a economia em vez da sua polêmica do dia.

Ex-presidente Donald Trump discursa em comício no Arizona.  Foto: Adriana Zehbrauskas/The New York Times

Um primo próximo desse conselho perpétuo é a advertência de que Trump deveria se concentrar mais nas questões políticas desta campanha. Nenhuma das recomendações está errada, mas elas são insuficientes para criticar a plataforma de Kamala.

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As disputas presidenciais são vencidas e perdidas com base na personalidade, tanto quanto nas questões políticas, e muitas vezes as questões políticas são representantes da personalidade. Não se trata de personalidade no sentido da vida pessoal de um candidato, e sim dos atributos que influenciam a adequação de alguém para a presidência — o candidato é qualificado, confiável e forte, e o candidato se importa com os americanos comuns?

As disputas presidenciais, nesse sentido, são profundamente pessoais; elas geralmente envolvem desqualificar o candidato adversário, em vez de convencer os eleitores de que a plataforma do adversário é equivocada.

A equipe de Obama atacou Mitt Romney nas questões em 2012, mas praticamente todos os argumentos políticos voltaram à alegação central de que ele era um capitalista sem coração e alienado que valorizava mais os resultados financeiros do que as pessoas. Esse acabou sendo o argumento vencedor da campanha.

Da mesma forma, Trump não vai derrotar Kamala marcando pontos no debate a respeito dos controles de preços ou da fronteira.

Tudo tem que estar conectado ao argumento mais profundo de que Kamala é fraca, uma farsa e não se importa verdadeiramente com o país ou a classe média. Os ataques dispersos de Trump a Kamala precisam ter como foco esses atributos de personalidade.

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A saber: Kamala era fraca demais para vencer a disputa primária democrata este ano. Ela era fraca demais para deixar de dizer à esquerda praticamente tudo o que ela queria ouvir quando concorreu em 2019. É fraca demais para realizar eventos públicos de campanha ou fazer extensas entrevistas com a mídia — ou, no momento, qualquer tipo de entrevista.

Ela abandonou inúmeros posicionamentos desde 2019 e 2020 sem explicação porque é uma oportunista que muda de forma, e pode e irá mudar em relação a quase tudo quando isso for politicamente conveniente. Mesmo que o que ela esteja dizendo seja moderado ou popular, não se pode confiar que ela manterá o que disse depois de assumir o cargo.

Como vice-presidente, ela não fez mais para proteger a fronteira ou lidar com a inflação porque não se importou o suficiente com as consequências para as pessoas comuns. Ela não se importa se suas políticas fiscais destruirão empregos. Fez parte de um governo que viu os salários reais estagnarem enquanto minimizava o problema porque a linha do partido importa mais para ela do que a realidade econômica dos trabalhadores americanos.

Já deu para entender. Há muito com que a campanha de Trump pode trabalhar ao longo dessas linhas.

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Em 2004, a operação de reeleição de George W. Bush basicamente pegou uma ambiguidade de John Kerry, sua frase infame a respeito de um projeto de lei de financiamento do Iraque — “Eu realmente votei a favor dos US$ 87 bilhões, antes de votar contra” — e organizou toda a campanha de Bush em torno disso.

O voto de Kerry em si não foi tão importante quanto a mensagem que a campanha de Bush transmitiu às pessoas a respeito do caráter de Kerry. Como o Times descreveu na época, “os assessores de Kerry descartam a frase como uma inevitável contradição verbal que acontece quando os candidatos interagem com os eleitores em ambientes informais e reclamam que a campanha de Bush tirou de contexto uma explicação perfeitamente razoável da realidade das negociações no Congresso. Mas a equipe de Bush alega que é emblemática do argumento mais amplo que eles estão explorando contra Kerry: retratá-lo como um insider de Washington, inconstante e desqualificado para liderar o país em tempos de guerra.”

Certamente, a equipe de Kamala a manteve em silêncio porque quer evitar uma “contradição verbal inevitável” semelhante ao interagir com as pessoas “em ambientes informais”.

Claro, Trump não precisa de muita persuasão para lançar ataques pessoais. Ele disse no início deste mês que se sente “no direito” de cometê-los. Mas chamar Kamala de burra ou questionar sua identidade racial faz mais para enfraquecê-lo do que a ela. A questão não é insultar gratuitamente, e sim apresentar uma argumentação consequente mostrando que ela não deveria ser — e não pode ser — presidente.

Vice-presidente Kamala Harris fala com apoiadores em Chicago.  Foto: Kevin Lamarque/AFP

Trump nunca se tornará um candidato respeitoso que segue rigorosamente o roteiro. Haverá inevitavelmente muita estática, muito tempo e oportunidades desperdiçadas. Mas há muito espaço para Trump fazer as coisas do seu jeito, como ele insiste que deve, e ainda ter um melhor controle da campanha.

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Um de seus talentos como comunicador é a repetição pura, que, quando ele descobre algo que funciona, atinge um certo poder. Todos sabiam em 2016 que ele queria construir um muro e fazer o México pagar por ele. Seria bem natural para ele chamar Kamala de “fraca” 50 vezes por dia, se ele optasse por essa abordagem.

Ele também foi capaz, no passado, de atacar de forma concisa e memorável as principais fraquezas de seus oponentes. Seus apelidos podem ser uma tática de recreio de escola, mas muitas vezes foram uma ferramenta eficaz, seja “Hillary Corrupta” (sublinhando os lapsos éticos de Hillary Clinton) ou “Marcozinho” (diminuindo um jovem oponente nas primárias que não tinha peso). Até mesmo pessoas que não gostam de Trump ou de seus apelidos acabaram usando esses apelidos.

A campanha de Trump foi astuta ao começar a realizar eventos menores e focados em temas políticos, em vez de apenas deixá-lo à solta em comícios, onde há mais oportunidade para frases de efeito e autossabotagem.

Trump disse que quer fazer com seus oponentes o que eles estão fazendo com ele. No final das contas, o que eles estão realizando é uma campanha focada e inteligentemente projetada para desqualificá-lo. Responder na mesma moeda não significa atacar em postagens da rede Truth Social, mas elaborar um argumento anti-Kamala abrangente que implique, por sua vez, sua adequação ao cargo mais elevado do país./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Rich Lowry

Rich Lowry é editor da National Review

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