Donald Trump disse a autoridades nesta segunda-feira, 8, que apoia um rascunho de uma nova plataforma do Partido Republicano, que reflita a nova posição do provável candidato sobre os direitos ao aborto e reduza as especificidades políticas em todas as áreas do governo.
O rascunho da plataforma, conforme descrito ao The New York Times por pessoas informadas sobre assunto, consolida a tomada ideológica do Partido Republicano por Trump. A plataforma é ainda mais nacionalista, mais protecionista e menos conservadora socialmente do que a plataforma republicana de 2016, que foi replicada na eleição de 2020.
Trump tinha o rascunho há vários dias e convocou uma reunião com autoridades do partido nesta segunda-feira, na qual disse que o apoia. O documento foi aprovado pela esmagadora maioria durante uma votação pelo comitê de plataforma, passando por 84 a 18, de acordo com uma fonte que falou sob condição de anônimato.
A seção sobre aborto foi suavizada. Não há mais referência ao “casamento tradicional” como entre “um homem e uma mulher”. E não há mais ênfase na redução da dívida nacional, apenas uma breve linha sobre “cortar gastos governamentais desnecessários”.
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O restante do documento reflete as prioridades de Trump, conforme descritas no site de sua campanha: uma política linha dura para imigração, incluindo deportações em massa; uma política comercial protecionista com novas tarifas sobre a maioria das importações; e seções sobre o uso do poder federal para remover ideias supostamente de esquerda da academia, das forças armadas e de qualquer outro lugar onde possam ser encontradas no governo dos Estados Unidos.
Trump e seus principais assessores alienaram alguns ativistas ao excluí-los do desenvolvimento da plataforma. O ex-presidente estava especialmente focado em suavizar a linguagem sobre o aborto — a questão que ele vê como sua maior vulnerabilidade após a decisão da Suprema Corte de derrubar Roe v. Wade.
Um porta-voz da campanha de Trump não respondeu a um e-mail solicitando comentários.
A seção sobre proteção da vida humana foi significativamente diminuída no rascunho da plataforma de 2024. Na plataforma de 2016 e 2020, essa seção incluía detalhes específicos e extensos sobre o que o Partido Republicano faria para limitar os abortos, incluindo o apoio a uma proibição federal do aborto após 20 semanas. Ela afirmava que “o feto tem um direito fundamental à vida que não pode ser violado”.
O rascunho da plataforma de 2024, conforme descrito ao Times, é chamado de “America First: A Return to Common Sense” (América Primeiro: um retorno ao bom senso, em tradução livre) e suaviza a linguagem do aborto, deslocando a questão de uma de consciência para uma questão que é melhor administrada pelos Estados. “Acreditamos que a 14ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos garante que nenhuma pessoa pode ter a vida ou a liberdade negadas sem o devido processo e que os Estados são, portanto, livres para aprovar leis que protejam esses direitos”, diz o rascunho.
O documento não faz menção a uma proibição federal do aborto, a qual Trump disse que se opõe. Em vez disso, a nova plataforma enfatiza que os republicanos se opõem ao “aborto tardio” e enfatiza que o partido apoia “acesso a métodos contraceptivos e FIV (tratamentos de fertilidade).”
Marjorie Dannenfelser, presidente da Susan B. Anthony Pro-Life America, que estava preocupada com as mudanças na plataforma antes da aprovação do comitê, pareceu aprová-las.
“É importante que o Partido Republicano tenha reafirmado seu compromisso em proteger a vida antes do nascimento hoje por meio da 14ª Emenda”, disse em comunicado. “De acordo com esta emenda, é o Congresso que promulga e aplica suas disposições. O Partido Republicano permanece fortemente pró-vida no nível nacional.” Ela acrescentou: “A missão do movimento pró-vida, pelos próximos seis meses, deve ser derrotar a extrema agenda pró-aborto de Biden-Harris.”
Ralph Reed, presidente da Coalizão Fé e Liberdade, partido socialmente conservador, também expressou otimismo.
“A plataforma do Partido Republicano deixa claro que o feto tem direito à vida, que é protegido pela Constituição sob a cláusula do devido processo da 14ª emenda”, disse Reed, acrescentando que isso está há muito tempo na plataforma republicana e elogiando Trump. “Embora seja aspiracional, aplica-se tanto aos estados quanto ao governo federal. A proibição proposta do aborto tardio também implica ação federal e estadual.”
A nova linguagem da plataforma também afirma a posição de Trump sobre o Medicare e a Previdência Social como a postura do Partido Republicano, dizendo que o republicano “não cortará um centavo” de nenhum dos programas. A plataforma de 2016, em contraste, declarou: “Rejeitamos a velha máxima de que a Previdência Social é o ‘Terceiro Trilho’ da política americana” e que “todas as opções devem ser consideradas para preservar a Previdência Social”.
Notavelmente, a plataforma também retirou a linguagem que dava suporte à condição de estado para Porto Rico, algo que tem sido uma parte fundamental das plataformas republicanas por décadas. O novo projeto da plataforma também inclui uma linha geral de que “o Partido Republicano deve defender a igualdade de tratamento para todos”, acrescentando que isso se aplica a qualquer pessoa “independentemente de filiação política ou crenças pessoais”.
Por outro lado, segue fazendo uma referência indireta às múltiplas acusações que o Trump enfrenta. “As recentes perseguições políticas lideradas pelos democratas ameaçam destruir 250 anos de princípios e práticas americanas e devem ser interrompidas”, diz.
Em geral, a plataforma parece explicitamente voltada para vencer em 2024, em vez de delinear uma visão mais ampla para o Partido Republicano. Os dois primeiros capítulos são dedicados às questões que o Trump quer tornar centrais para esta corrida: inflação e imigração.
O comitê da plataforma se reunirá em Milwaukee na segunda-feira antes da convenção completa na semana que vem. Após a votação do comitê para aprovar o documento, a plataforma seguirá para uma votação completa na semana que vem.
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