Quando Donald Trump fez da Arábia Saudita seu primeiro destino após a posse, obteve uma barganha com os sauditas: não falaria sobre direitos humanos em troca da venda de armas e equipamentos militares.
Agora, com o caso de Jamal Khashoggi, este acordo enfrenta seu maior desafio. Até agora, Trump rejeita a pressão para punir o sauditas, argumentando que isso custaria aos americanos dinheiro e empregos.
O fato de ele priorizar o dinheiro não é nenhuma surpresa. Outros presidentes americanos também fecharam os olhos para os direitos humanos em nome dos interesses econômicos dos Estados Unidos. O que é diferente é como Trump expõe abertamente esta realpolitik, não importa o quão grosseira ou cínica ela possa parecer.
“Qualquer presidente ficaria preso no mesmo impasse”, afirmou Steven Cook, especialista do Council on Foreign Relations. “A diferença é que Trump está disposto a dizer claramente que não se importa.”
A visita de Trump à Arábia Saudita, em maio de 2017, foi um claro sinal de suas prioridades em política externa. Ele esperava reconstruir a aliança dos Estados Unidos com Riad, que havia se desgastado durante o governo de Barack Obama.
“Não estamos aqui para dizer aos outros como viver, o que fazer, quem ser ou a quem adorar”, afirmou Trump. Em vez disso, ele se concentrou nos benefícios econômicos, gabando-se de ter conseguido US$ 110 bilhões em vendas de armas durante a viagem.
Os números, porém, são enganosos. O pacote de Trump não passava de uma carta de intenção. “Dezessete meses depois, a Arábia Saudita ainda não comprou nada”, observa Bruce Riedel, analista do Brookings Institution.
Mesmo assim, Trump permanece comprometido, se gabando do pacote vendido e rejeitando qualquer suspensão da venda de armas. “Se eles não comprarem dos Estados Unidos, comprarão da Rússia ou da China”, diz o presidente americano.É JORNALISTA
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