A resposta de Zelenski à anexação da Rússia: ‘soldados russos, fujam!’

Em um discurso, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, avisa aos soldados russos: ‘Se quiserem viver, corram’

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Por Andrew E. Kramer
Atualização:

KIEV, Ucrânia — O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e seu governo estão respondendo em tom de desafio e com um toque de bravata à torrente de ameaças da Rússia à medida que o país invasor se prepara para fazer a provocação de declarar território russo partes da Ucrânia de maneira infundada.

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Em meio a sinais ameaçadores de Moscou sobre escalar a guerra, sugerindo até o uso de armas nucleares, as forças ucranianas pressionam adiante com seu ataque contra as tropas russas no leste e no sul, em regiões que a Rússia pretende declarar território russo nesta sexta-feira. E autoridades do governo ucraniano estão perseguindo também uma vantagem em propaganda, postando em redes sociais instruções em língua russa a respeito de como os solados russos podem se render em segurança.

Zelenski tem se esforçado para sinalizar que não está desdenhando da ameaça russa. Ele disse não acreditar que Putin esteja blefando em suas ameaças de escalada militar ou uso de armas nucleares.

Reservistas russos convocados para a guerra se despedem de familiares em São Petersburgo. Foto: Yuri Kochetkov/ EFE - 29/09/2022

Mas o presidente ucraniano também marcou publicamente os recentes sucessos da Ucrânia na quarta-feira, entregando medalhas a 320 soldados e outros membros de serviços de segurança em razão do contra-ataque deste mês na região de Kharkiv, no nordeste ucraniano.

A Rússia acionou seus planos de reivindicar território da Ucrânia depois da ofensiva ucraniana romper as linhas do Exército russo e forçá-lo a abandonar milhares de quilômetros quadrados.

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Ao reivindicar território ucraniano, a Rússia pretende afirmar que a Ucrânia está atacando território russo, não ao contrário. Autoridades russas têm falado em defender suas terras a qualquer custo, sugerindo o possível uso de armas nucleares. A Rússia também anunciou uma convocação militar para alistar centenas de milhares de novos soldados.

O estratagema já está em andamento: líderes que representam a Rússia em quatro regiões ucranianas viajaram para Moscou para solicitar formalmente ao presidente Vladimir Putin a integração de suas regiões à Rússia após referendos fraudulentos apoiarem ostensivamente a ideia. Um palco foi montado na Praça Vermelha.

Em Kiev, as autoridades estão respondendo com o mesmo toque de arrogância que tem caracterizado suas declarações públicas ao longo de toda a guerra, apesar de respostas mais cautelosas dos aliados ocidentais.

“Se querem viver, corram”, afirmou Zelenski em seu discurso noturno da quarta-feira, falando russo e se dirigindo aos soldados russos. “Se vocês querem viver, se rendam. Se querem viver, lutem nas ruas de seu país por sua liberdade.”

O ministro da Defesa ucraniano, Olexii Reznikov, afirmou em uma conferência de especialistas em segurança que muitas nações ocidentais tinham achado que o governo ucraniano colapsaria no início da invasão russa, mas se equivocaram. “Os ucranianos jamais se renderão”, afirmou ele.

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Depois da contraofensiva na região de Kharkiv, a iniciativa no campo de batalha pendeu para o lado da Ucrânia, afirmaram analistas militares. As tropas ucranianas têm pressionado a partir de várias direções a cidade de Liman, sob controle russo, no leste da Ucrânia, e parecem ter estabelecido um cerco completo.

Se soldados russos forem capturados ou forçados a fugir por uma estrada que continua sob seu controle, isso representaria uma derrota embaraçosa para os russos em uma região que eles estão se mobilizando para declarar parte de seu país.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a Rússia pretende capturar ao menos toda Donetsk, onde fica Liman. A Ucrânia controla agora cerca de metade da região.

Presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski participa de cerimônia de memória a judeus mortos por tropas nazistas na 2ª. Guerra; Kiev subiu o tom contra movimentos russos. Foto: Ukranian Presidential Press Service via AFP

A queda de Liman também minaria as linhas de defesa russas no leste da Ucrânia, escreveu o Instituto para o Estudo da Guerra, um grupo de análise dos Estados Unidos.

Ataques de foguetes e mísseis russos atingiram duas cidades ucranianas, Dnipro e Krivii Rih, entre a noite da quarta-feira e a madrugada da quinta-feira, danificando residências, matando dois civis e ferindo outros 15. O governo ucraniano não divulga informações sobre baixas militares decorrentes de ataques russos.

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Ucranianos comuns, prontos para esperar o pior da Rússia depois dos bombardeios de áreas civis e da descoberta de covas coletivas em territórios retomados pelo Exército ucraniano, estão aflitos. Muitos expressam em redes sociais seu medo da guerra nuclear.

“O próximo ataque será nuclear, em breve”, afirmou o músico Stanislav Kotliar no Facebook. “Esta é a principal razão pela qual mandei as pessoas que amo para a Alemanha, apesar delas quererem ficar na Polônia: para afastá-las da nuvem radioativa.”

Ainda assim, até analistas ucranianos e ex-autoridades de segurança consideram a ameaça nuclear da Rússia um sinal de fraqueza em vez de força. Oleksandr Daniliuk, ex-secretário do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia, afirmou em entrevista que a Ucrânia não cessará suas ofensivas se a Rússia declarar as quatro regiões território russo.

Se as linhas russas continuarem a colapsar depois da chegada dos reforços da mobilização, afirmou ele, isso aumentaria o risco de um ataque nuclear tático. Mas ele acrescentou: “Para Putin, seria uma ilusão pensar que a Ucrânia e o Ocidente recuarão. É importante continuar retomando território ocupado pela Rússia. É isso o que Putin está tentando evitar, então é isso o que devemos fazer”.

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