Líderes de todo o mundo parabenizaram a vitória de Donald Trump - menos aqueles que silenciaram.
Os aliados dos EUA, que haviam sinalizado preferências pela continuidade, mostraram-se resignados, com os líderes europeus dizendo que estavam prontos para trabalhar com Trump.
As autoridades russas pareciam satisfeitas com a notícia de uma vitória de Trump, enquanto o presidente da Ucrânia foi um dos primeiros a parabenizar o presidente eleito e manifestou sua esperança de que o apoio dos EUA à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia continuasse. A China, por sua vez, não revelou muita coisa.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, estava claramente ansioso pelo apoio incondicional de Trump - e pelo fim de sua disputa com o governo Biden sobre as guerras em Gaza e no Líbano.
Rússia
As autoridades russas tentaram fingir indiferença antes das eleições nos EUA, mesmo com acusações de que o Kremlin dirigiu várias campanhas de desinformação contra Kamala Harris. Mas na manhã de quarta-feira, muitos deles não conseguiram conter a alegria, saudando as perspectivas de um reinício nas relações entre os EUA e a Rússia e o fim da guerra na Ucrânia - nos termos de Moscou.
“Kamala Harris estava certa quando citou o Salmo 30:5: ‘O choro pode perdurar à noite, mas a alegria vem pela manhã’”, escreveu a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, no Telegram. “Aleluia, eu acrescentaria”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, foi mais cauteloso, dizendo que o Kremlin estava aguardando “ações concretas” e que não sabia se o presidente Vladimir Putin ligaria para Trump para parabenizá-lo. Os Estados Unidos, acrescentou, “são um país hostil que, direta e indiretamente, está envolvido em uma guerra contra nosso Estado”.
Trump sempre falou com admiração de Putin, até ficando ao lado do presidente russo em vez de suas próprias agências de inteligência na questão da interferência da Rússia na eleição de 2016. E criticou a assistência dos EUA à Ucrânia, dando esperança ao establishment russo de que, sob a presidência de Trump, a Rússia conseguiria chegar a um acordo em seus termos.
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Leonid Slutski, chefe do comitê de relações exteriores do parlamento russo, disse que a vitória de Trump poderia levar ao colapso do governo do presidente ucraniano Volodmir Zelenski e ao fim da ajuda ocidental à Ucrânia. “A julgar pela retórica pré-eleitoral”, disse ele, ‘a equipe republicana não vai enviar cada vez mais dinheiro do contribuinte americano para a fornalha da guerra por procuração contra a Rússia’.
“Kamala está acabada. ... Que ela continue cacarejando de forma contagiante”, escreveu o ex-presidente russo Dmitri Medvedev no X.
Em suas felicitações enviadas rapidamente, Zelenski lembrou Trump de uma “grande reunião” que os dois homens tiveram em setembro nos Estados Unidos, quando discutiram “maneiras de pôr fim à agressão russa contra a Ucrânia”.
Escrevendo no X, Zelenski disse que apreciava “o comprometimento do presidente Trump com a abordagem da ‘paz por meio da força’ nos assuntos globais”, que ele disse ser “exatamente o princípio que pode aproximar a paz justa na Ucrânia”.
A atitude de Zelenski mascarou uma relação frequentemente tensa entre os dois líderes, que remonta a 2019, quando uma ligação telefônica entre ele e Trump levou ao primeiro processo de impeachment contra Trump.
No período que antecedeu o dia da eleição, apesar da intenção declarada das autoridades ucranianas de permanecerem neutras, Zelenski também criticou o companheiro de chapa de Trump, JD Vance, chamando-o de “radical demais” por causa de seu pedido para que a Ucrânia concedesse território à Rússia.
Algumas autoridades ucranianas expressaram a esperança de que uma mudança em Washington possa ser vantajosa para Kiev, e criticaram o ritmo lento com que o governo Biden liberou armas e as restrições que impôs aos ataques de longo alcance dentro do território russo.
“A chegada de Trump significa que algumas novas oportunidades estão se abrindo para nós”, disse Oleksandr Merezhko, presidente do comitê de relações exteriores do parlamento ucraniano, citado pela mídia ucraniana na quarta-feira.
Israel
Entre os primeiros a saudar o retorno de Trump estava o premiê israelense Binyamin Netanyahu, que em um post no X disse que a vitória era “um novo começo para os EUA e um poderoso compromisso com a grande aliança entre Israel e os Estados Unidos”.
Netanyahu entrou em conflito com o presidente Joe Biden por causa da forma como ele lidou com a guerra em Gaza e acusou seu governo de tentar atar as mãos de Israel e impedir a “vitória total” que o líder israelense prometeu alcançar por mais de um ano.
Netanyahu espera que, com o apoio incondicional de Trump, ele possa conduzir livremente as guerras de Israel contra os representantes regionais do Irã, bem como cumprir um acordo de normalização há muito prometido com a Arábia Saudita.
Mas o impacto de uma nova presidência de Trump também não é claro, com o presidente eleito prometendo “terminar” as guerras, e não iniciá-las, e se alinhar estreitamente com a Arábia Saudita, que deseja uma resolução rápida para os inúmeros conflitos na região.
Israel Ganz, chefe do Conselho Yesha, que representa os colonos judeus em toda a Cisjordânia ocupada, saudou a vitória de Trump, dizendo que ela tirou a solução de dois Estados “da mesa”.
O grupo terrorista Hamas, que Israel está combatendo na Faixa de Gaza, disse em um comunicado que reservaria seu julgamento sobre o governo dos EUA até ver o “comportamento prático do presidente eleito em relação ao nosso povo palestino, seus direitos legítimos e sua causa justa”.
Otan
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que estava ansioso para trabalhar com Trump em uma declaração de congratulações que não mencionou a Ucrânia. Rutte citou desafios, incluindo “uma Rússia mais agressiva”, a concorrência com a China e os papéis da Coreia do Norte e do Irã - e disse que Trump demonstrou “forte liderança dos EUA” na Otan durante seu primeiro mandato.
Muitos formuladores de políticas europeus, no entanto, têm se preocupado há meses com a perspectiva de uma segunda presidência de Trump, que poderia prejudicar o apoio dos EUA à Ucrânia e as garantias de segurança americanas na Europa. Na quarta-feira, os líderes europeus destacaram as relações transatlânticas ao se comprometerem a trabalhar com Trump. O presidente eleito dos EUA se gabou de que incentivaria a Rússia a atacar os aliados da Otan que não cumprissem seu papel.
Preocupadas com uma possível mudança na política dos EUA em relação à Ucrânia, as autoridades europeias correram para aprovar pacotes de ajuda antes da eleição de novembro. Um novo comando da Otan começou a assumir algumas das principais responsabilidades dos EUA na coordenação da ajuda militar a Kiev, mas as autoridades europeias reconhecem que a diminuição do apoio dos EUA a Kiev poderia ser um grande golpe.
A vitória de Trump desencadeou um novo coro de apelos de autoridades europeias para que o país gaste mais em Defesa e fortaleça seu papel na aliança militar ocidental.
O presidente da França, Emmanuel Macron, lembrou Trump de sua parceria anterior e disse que estava “pronto para trabalharmos juntos como fizemos durante quatro anos”. Macron também conversou com o chanceler alemão Olaf Scholz assim que os resultados ficaram claros, pedindo uma Europa “mais unida” e “mais soberana” em face da segunda presidência de Trump, sugerindo que a Europa poderia ter que fazer mais por si mesma.
União Europeia
Não é segredo que muitos europeus estão desconfiados de um retorno de Trump. Na sede da União Europeia, uma força-tarefa se reuniu nos últimos meses para se preparar para o retorno de Trump, traçando estratégias sobre a ajuda à Ucrânia e respostas a uma possível guerra comercial, caso Trump imponha as tarifas prometidas.
Bronwen Maddox, diretora da Chatham House, um think tank com sede em Londres, disse que a vitória de Trump foi “um pouco chocante” e que na Europa haveria um “recálculo bastante rápido” com os líderes avaliando o que uma presidência de Trump significará para as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, bem como possíveis tarifas e impostos corporativos.
A Europa não é um bloco uniforme, mas muitos países teriam optado por Kamala em vez de Trump se tivessem que escolher, segundo a Gallop International. No entanto, disse Maddox, as preocupações de Trump com a migração “ressoam na Europa e muitos políticos olharão para isso e pensarão: também precisamos dar muita atenção a isso”.
Um admirador de longa data de Trump, o primeiro-ministro húngaro Viktor Órban, foi efusivo, chamando a vitória de Trump de “muito necessária para o mundo!” O líder favorável a Moscou, que por várias vezes bloqueou a ajuda da UE para a Ucrânia, procurou cada vez mais se posicionar como um aliado de Trump na Europa antes da eleição.
Alguns analistas e diplomatas alertaram que a vitória de Trump poderia encorajar correntes de extrema direita e figuras populistas na Europa que ganharam força desde sua última presidência.
Alice Weidel, co-líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), tuitou suas congratulações: “Não foi a Hollywood identitária que decidiu essa eleição, mas o povo americano trabalhador”.
Índia
Muitos meios de comunicação e apoiadores do governo do primeiro-ministro Narendra Modi aplaudiram a vitória de Trump. Na quarta-feira, o líder indiano publicou uma foto dele de mãos dadas com Trump em um comício em Houston há quatro anos. Ele ofereceu a seu “amigo” suas “mais sinceras congratulações” pelo retorno ao poder.
Durante anos, os líderes do Partido Bharatiya Janata, de Modi, falaram frequentemente de sua preferência por Trump em relação aos democratas, mesmo quando o governo Biden priorizou o cultivo de laços com a Índia e o apoio ao país como contrapeso à China. Agora, quaisquer atritos que existiam no relacionamento bilateral - incluindo a raiva dos funcionários de Biden em relação a uma suposta operação de inteligência indiana para assassinar um separatista sikh americano em Nova York, suas preocupações com o histórico de direitos humanos de Modi e seu desconforto com sua amizade com Putin - podem ficar no passado.
Sudeste da Ásia
Ferdinand Marcos Jr., presidente das Filipinas, um aliado do tratado dos EUA, parabenizou Trump e disse que tinha fé que essa “aliança inabalável, testada na guerra e na paz, será uma força para o bem, abrindo um caminho de prosperidade e amizade na região e em ambos os lados do Pacífico”.
As Filipinas, que têm enfrentado a crescente agressão chinesa no Mar do Sul da China, aprofundaram os laços de segurança com os Estados Unidos durante o governo Biden. Em particular, algumas autoridades filipinas temem que, sob Trump, possa haver um recuo em seus compromissos de Defesa, disse uma importante autoridade de defesa filipina. “Percebemos que não há garantias”, disse o funcionário.
As Filipinas são fundamentais para o objetivo dos EUA de conter o expansionismo chinês no Indo-Pacífico, disse a autoridade, acrescentando: “Estamos contando com seus conselheiros para fazê-lo ver as coisas como elas são”.
As Filipinas e outros países do Sudeste Asiático passaram os últimos quatro anos tentando manter laços “à prova de Trump” com os Estados Unidos, por exemplo, assinando acordos de segurança vinculativos e expandindo a cooperação econômica. Mas esses países também reconhecem que “é impossível tornar algo realmente à prova de Trump”, disse Huong Le Thu, vice-diretor do Programa da Ásia do Crisis Group.
Nos principais países exportadores, como a Malásia e o Vietnã, que mantêm um superávit comercial com os Estados Unidos, alguns líderes disseram que estavam se preparando para tarifas mais altas.
China
As autoridades de Pequim ainda não se manifestaram sobre a vitória de Trump. Em uma coletiva de imprensa antes da contagem dos votos, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse que a eleição dos EUA é “um assunto interno”.
Isso não impediu os comentários animados nas mídias sociais chinesas. No Weibo, a versão chinesa do X, a eleição foi tendência, com a mídia chinesa enfatizando as divisões políticas. No Global Times, um tabloide estatal nacionalista, uma manchete declarava: “Começa a votação no dia da eleição nos EUA em meio a temores de violência e agitação”, sobre uma foto de uma loja fechada com tábuas perto da Casa Branca.
Do outro lado do estreito, um porta-voz do presidente de Taiwan, Lai Ching-te, disse que “o relacionamento entre Taiwan e os EUA não apenas se tornou mais robusto, mas também continuou a se aprofundar, independentemente do partido político que esteja no poder”.
Vizinhos dos EUA
No Canadá e no México, as autoridades procuraram oferecer garantias de que seus países - altamente dependentes do comércio com os Estados Unidos - não sofreriam com a vitória de Trump.
O republicano prometeu impor tarifas “automáticas” de 10% a todos os países e ameaçou impor tarifas de até 100% ao México se o país não reduzir drasticamente o tráfico de drogas e a migração irregular. Ele se comprometeu a realizar deportações em massa de migrantes, incluindo muitos mexicanos.
Uma revisão do acordo EUA-México-Canadá, que rege o comércio entre os três países, deverá ser feita em 2026, e as autoridades temem que a tendência protecionista de Trump o faça erguer mais barreiras comerciais.
Este ano, as autoridades canadenses reviveram um esforço de lobby, com funcionários de alto escalão se espalhando pelos Estados Unidos em uma tentativa de evitar políticas protecionistas que poderiam colocar em risco os interesses canadenses.
“Sei que muitos canadenses estão ansiosos”, disse Chrystia Freeland, vice-primeira-ministra do Canadá, aos repórteres na quarta-feira em Ottawa, ‘e quero dizer com toda a sinceridade e convicção aos canadenses que o Canadá ficará absolutamente bem’.
A nova presidente do México, Claudia Sheinbaum, procurou dar um tom semelhante, dizendo em uma entrevista coletiva pela manhã que “não há necessidade de se preocupar”.
“Digo aos nossos migrantes e suas famílias aqui, e aos nossos empresários mexicanos, que não há absolutamente nenhum motivo para preocupação”, disse ela. “Haverá um bom relacionamento com os Estados Unidos. Estou convencida disso.”
No entanto, o peso caiu cerca de 3% no início do pregão, atingindo seu nível mais baixo em dois anos, a 20,8 por dólar, dando continuidade a uma queda que começou quando o partido esquerdista Morena, de Sheinbaum, obteve uma vitória retumbante em junho.
Martha Barcena, ex-embaixadora mexicana em Washington, tuitou na quarta-feira que o país estava passando por um período difícil. Ela observou a ameaça de Trump de fechar a fronteira no primeiro dia de sua presidência. “Lembremos que nosso nível de comércio é de US$ 3 milhões por minuto, através de 57 passagens de fronteira”, escreveu ela no X./W.Post
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