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Equador recorre a startup brasileira na guerra contra o narcotráfico no maior porto do país

A startup Creatus, de Porto Alegre, irá instalar um sistema para melhorar a segurança do porto de Guayaquil, que se tornou estratégico para o escoamento de drogas para os Estados Unidos e a Europa

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Foto do author Daniel Gateno
Atualização:

Uma startup brasileira vai contribuir com a segurança do porto de Guayaquil, no Equador, em meio a batalha do país contra o narcotráfico. A violência no país ganhou contornos dramáticos nos últimos meses com o assassinato do candidato a presidência do país Fernando Villavicencio em agosto do ano passado e a onda de ataques de gangues pelo Equador, que deixou 13 mortos no dia 9 de janeiro e levou o presidente do Equador, Daniel Noboa, a declarar que o país está em um conflito armado interno, decreto que considera 22 facções equatorianas como organizações terroristas e autoriza as Forças Armadas do Equador a agir para combater os grupos.

A startup Creatus, que integra o ecossistema de inovação do Tecnopuc em Porto Alegre, irá instalar um sistema para melhorar a segurança do porto que se tornou estratégico para o escoamento de drogas para os Estados Unidos e a Europa, além de ser próximo de países produtores de drogas como Colômbia, Peru e México. Segundo militares equatorianos, 80% da cocaína que é consumida na Europa saem diretamente do porto de Guayaquil.

Estado de exceção permite que as Forças Armadas controlem as prisões do país e instaura toque de recolher no Equador Foto: Dolores Ochoa/AP

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A Creatus, em parceria com a VMI Security, empresa também brasileira com sede em Minas Gerais, deve finalizar a instalação no dia 6 de fevereiro de um software que irá vigiar o tráfego de materiais não autorizados no porto. A parceria entre as duas empresas consiste na integração de diferentes sistemas de softwares e hardwares e conta com projetos em portos brasileiros e também no exterior.

O sistema deve efetuar a leitura de placas de contêineres e caminhões que chegarem ou saírem do porto, além de poder tirar fotos dos veículos. Segundo Leonardo Barbosa, também diretor e fundador da Creatus, os equipamentos em parceria com a VMI Security também são preparados para detectar radiação das cargas submetidas à análise por meio de uma câmara de inspeção, onde também ocorre uma leitura por raio X e fazem parte de uma operação complexa a nível de segurança.

Por conta disso, Barbosa viajou de Porto Alegre a Guayaquil na segunda-feira, 29, para inspecionar a instalação do conjunto de softwares.

“Existem muitos problemas que são identificados em relação à importação e exportação no porto que estão relacionados a drogas e materiais ilegais”, aponta Barbosa.

Funcionamento

“Em 2021, desenvolvemos uma série de projetos com a VMI em relação à segurança dos portos, nós construímos integrações entre vários softwares e hardwares que não se comunicam e a Creatus tenta fazer este trabalho para que ocorra um processo decisório mais acessível em relação a segurança”, apontou João Severo, diretor e fundador da Creatus, em entrevista ao Estadão.

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O fundador da Creatus afirma que as necessidades do porto de Guayaquil são diferentes de muitos portos brasileiros. “No Brasil existem portos que fazem a integração com a CR, que identifica a placa de cada veículo, a numeração de cada container e faz o raio x. No Equador, devido a questão do narcotráfico, o objetivo é fornecer uma segurança mais robusta para que a possibilidade de erro seja menor.”

João Severo (à esquerda) e Leonardo Barbosa (à direita) são diretores e fundadores da Creatus, startup gaúcha que vai contribuir com o aparato de segurança do porto de Guayaquil, no Equador  Foto: Giordano Toldo/Divulgação

O software também captura imagens da parte inferior dos veículos e utiliza comparativos para identificar padrões de segurança, o que deve ajudar as autoridades equatorianas a melhorar a fiscalização do porto.

De acordo com Severo, a Creatus está em contato com a VMI e as autoridades do porto para que o projeto saia do papel. “Existe um respaldo das autoridades do Equador e eles querem que tudo corra bem, mas nossa relação acaba sendo mais direta com a nossa empresa parceira e órgãos responsáveis pela segurança como a polícia do Equador e fiscalizadores da receita.”

Segurança

Leonardo Barbosa, um dos diretores e fundadores da Creatus, desembarcou em Guayaquil na segunda-feira e deve ficar até o dia 6, após a instalação completa dos equipamentos de segurança. Barbosa conta que os protocolos de segurança no aeroporto de Guayaquil foram rígidos e que soldados do exército estavam fazendo toda a inspeção.

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“Passei duas vezes no raio x em equipamentos diferentes e depois tive que fazer uma entrevista com um questionário simples sobre o porque eu estava no Equador”, destaca Barbosa. O diretor da Creatus aponta que após sair do aeroporto sentiu que a maior cidade do Equador estava movimentada, aparentando normalidade apesar da crise de segurança.

No porto de Guayaquil, um dos focos de guerra contra o narcotráfico, Barbosa disse que o esquema de segurança é forte e ele teve que passar por três inspeções. O brasileiro precisou levar o computador na mão, porque não era permitido entrar com mochila.

Barbosa conta que está sendo instruído por equatorianos que trabalham com ele a não andar em certas regiões da cidade e tomar cuidado com assaltos e furtos. “Eu estou hospedado em um bairro bom da cidade, mas a zona do porto é mais perigosa e eu já vi furtos acontecerem ao lado de onde estava a minha van.”

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Onda de violência

O Equador passa por uma espiral de violência nos últimos anos com o aumento do narcotráfico no país da América do Sul. Em janeiro, facções criminosas realizaram ataques em diversas cidades do país, principalmente após a fuga de Fito, líder da facção Los Choneros. Após o decreto de Noboa de que o país está em um conflito armado interno, os militares foram mobilizados para as ruas e o Exército passou a tratar grupos criminosos como alvos militares, similar ao que ocorreria em uma guerra civil.

Depois dos ataques no dia 9 de janeiro, Noboa defendeu a construção de duas prisões no “estilo Bukele”, em referência ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Ambas as prisões terão inibição de sinal de celular e satélite, sistemas eletrônicos de última geração, controle de acesso digital e analógico, segurança de perímetro triplo e autogeração de eletricidade, todos sem precedentes nas prisões do Equador.

Nessas duas prisões, Noboa pretende prender os líderes de gangues criminosas para retomar o controle do restante das prisões, muitas das quais são dominadas internamente por esses grupos criminosos, supostamente responsáveis pela série de motins nas prisões e pela violência nas ruas.

Apesar disso, a situação parece estar melhorando gradualmente. No dia 23 de janeiro, o governo equatoriano anunciou que reduziu o toque de recolher que havia sido imposto após os ataques do dia 9 de janeiro, e estava vigente entre as 23h e as 5h. Para cidades de alto risco, como é o caso de Guayaquil, o toque de recolher agora é das 00h às 5h. Em cidades com menor risco, o toque de recolher se restringiu a estar vigente das 2h às 5h e em algumas cidades a medida foi suspensa.

Autoridades equatorianas anunciaram também no dia 23 que os homicídios diários no país diminuíram de 27 para 11 desde que militares foram destacados nas ruas.

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