Abdel Fattah al-Burhan: o discreto general por trás do golpe no Sudão

Militar desempenhou um papel discreto como comandante do Exército sudanês até à queda do ditador Omar al-Bashir, em 2019

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Por Redação
Atualização:

CARTUM - O general Abdel Fatah al-Burhan, que nesta segunda-feira, 25, dissolveu o governo de transição no Sudão, desempenhou um papel discreto como comandante do Exército até emergir das sombras no dia seguinte à queda do ditador Omar al-Bashir, em 2019.

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Com uma longa carreira militar sob a tirania de Bashir, o militar teve papéis de destaque no comando das forças terrestres, até que o tirano o nomeou inspetor-geral do Exército em fevereiro daquele ano, dois meses antes de ser deposto.

Nascido em 1960 em Gandatu, uma cidade ao norte de Cartum, al-Burhan estudou em uma academia militar sudanesa e, mais tarde, no Egito e na Jordânia. Casado e com três filhos, ele também foi adido militar do Sudão em Pequim.

General Abdel Fattah al-Burhan faz pronunciamento na TV estatal sudanesa após a prisão do primeiro-ministro Abdallah Hamdok. Foto: Sudan TV / AFP

A mídia sudanesa e analistas afirmam que al-Burhan coordenou o envio de tropas sudanesas ao Iêmen, integradas a uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, que desde 2015 luta contra os rebeldes houthis, aliados do Irã.

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Willow Berridge, que escreveu o livro Civil Uprisings in Modern Sudan (Levantes civis no Sudão moderno, em tradução livre) e leciona história na Universidade de Newcastle, observa que al-Burhan trabalhou em estreita colaboração com os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF) sudanesas, que mais tarde o apoiaram.

"Precisamente, o papel neste último golpe das RSF, descrito por muitos como uma nova versão das milícias 'Janjaweed' que cometeram inúmeras atrocidades em Darfur, fará com que muitos sejam cautelosos", comenta.

O envio de tropas para o Iêmen em 2015 representou uma grande mudança em sua política externa, com Cartum rompendo seus antigos laços com Teerã e se juntando à coalizão saudita. O Sudão sofreu pesadas baixas no Iêmen.

Após a destituição de Bashir, al-Burhan foi empossado como líder interino em 11 de abril de 2019 e, posteriormente, assumiu a presidência do órgão governamental responsável pela transição para a democracia, o Conselho Soberano.

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Mas, nesta segunda-feira, o general, usando sua habitual boina verde e uniforme militar, apareceu na televisão informando que o gabinete e o conselho que liderava haviam sido dissolvidos. Ele então declarou estado de emergência nacional. 

Essas declarações foram feitas depois que as forças armadas detiveram civis do governo interino, incluindo o primeiro-ministro Abdallah Hamdok, após confrontos na capital. al-Burhan deu o golpe aproveitando as divisões entre as facções que lideravam a transição e que resultaram em protestos de grupos opostos dias atrás. O próprio militar foi alvo de protestos rivais, com alguns instando-o a assumir o governo, outros pedindo que ele o deixasse.

Como presidente do Conselho Soberano, al-Burhan consolidou os laços do Sudão com potências mundiais e atores regionais, incluindo os Estados Unidos e Israel. 

Em fevereiro de 2020, reuniu-se em Uganda com o ex-primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu.

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Vencedor da disputa interna

Antes de liderar o Conselho Soberano sudanês, ele chefiou o conselho militar de transição que derrubou Bashir. Posteriormente, sucedeu o ex-ministro da Defesa do conselho, general Awad Ibn Uf, que renunciou.

Os manifestantes, que esperavam um governo civil depois de três décadas do governo de Bashir, viam Ibn uf como parte de seu regime. Sua partida catapultou al-Burhan das sombras para chefe de Estado "de fato". 

"al-Burhan tem um posto muito alto nas Forças Armadas, mas é basicamente um soldado veterano", confidenciou um oficial do Exército, sem se identificar. 

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"Ele nunca foi o centro das atenções como Ibn Uf ou o general Kamal Abdelmarof foram", acrescentou ele, referindo-se a outro ex-chefe do Exército. 

Nos últimos meses, al-Burhan continuou a manter um perfil relativamente baixo, muitas vezes deixando outros membros do conselho militar à frente das câmeras de televisão./ AFP

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