O acidente de helicóptero que resultou na morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, ocorreu por conta de uma falha técnica, segundo informações da agência estatal iraniana IRNA. Esta foi a primeira vez que a causa do acidente foi indicada pelas autoridades iranianas.
Analistas entrevistados pelo The New York Times avaliam que décadas de sanções econômicas contra o Irã também podem ter contribuído com o acidente de helicóptero, devido a dificuldade de Teerã de renovar a sua Força Aérea e realizar a manutenção de seus helicópteros.
Nesta segunda-feira,20, o antigo chanceler do Irã Mohammad Javad Zarif apontou que, ao impor sanções à indústria da aviação do país, os Estados Unidos foram responsáveis pelo acidente. Seus comentários foram divulgados pela agência de notícias oficial iraniana, IRNA.
Sanam Vakil, especialista em Oriente Médio da Chatham House, um think tank com sede em Londres, apontou que o setor da aviação iraniano sofre muito com sanções, desde a revolução islâmica, em 1979.
“O Irã viu muitos incidentes aéreos, não apenas acidentes de helicóptero, mas de avião, e acho que isso está definitivamente ligado a sanções”, disse ela.
Vakil afirmou que, embora não tivesse detalhes sobre as circunstâncias do acidente que ocorreu no domingo, 20, o fato de o helicóptero em que Raisi e o chanceler iraniano Hossein Amir Abdollahian, estavam viajando ser muito velho, ressalta as dificuldades de Teerã neste setor.
A mídia estatal iraniana mostrou imagens do helicóptero, um Bell 212, modelo que foi originalmente desenvolvido para os militares canadenses na década de 1960, segundo a agência de notícias Reuters.
Setor aéreo
Historicamente, o Irã tem um setor aéreo significativo – a sua companhia aérea é a Iran Air – que serve a sua população de 88 milhões de pessoas em rotas domésticas e internacionais. Em 1995, os Estados Unidos, sob a presidência de Bill Clinton, implementaram sanções que impediram o Irã de atualizar a sua frota aérea comercial. O Irã teve que usar usar aviões russos de qualidade inferior e a consertar jatos mais antigos, muito além dos seus anos normais de serviço, recorrendo por vezes a peças sobressalentes compradas no mercado informal.
O acordo nuclear de 2015 que o Irã alcançou com potências mundiais, incluindo os Estados Unidos, viu algumas dessas sanções serem levantadas, mas foram em grande parte restabelecidas três anos mais tarde, quando o então presidente americano Donald Trump retirou Washington do acordo. A administração Trump também cancelou as licenças da Boeing para vender aeronaves ao Irã, anulando um acordo de 16,6 milhões de dólares que a gigante da aviação alcançou com Teerã em 2016 para a venda de 80 aviões.
Saiba mais
A reintrodução das restrições, que o então presidente do Irã, o moderado Hassan Rouhani, descreveu como guerra econômica, ameaçou ainda mais as indústrias petrolífera, naval e bancária do país, bem como a sua moeda.
As autoridades iranianas tentaram aumentar a produção interna e o fornecimento de peças de aeronaves em linha com uma política mais ampla de desenvolvimento de uma economia de resistência como um baluarte contra as sanções. Mas as peças sobressalentes de alta tecnologia, importantes na aviação, podem ser difíceis de fabricar internamente, segundo especialistas./com NYT
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