Acusado de fascismo, Trump retoma declarações agressivas contra latinos e mulheres na reta final

Ex-presidente defende fuzilamento de deputada rival e diz que vai defender mulheres ‘quer elas queiram ou não’; democratas apostam em retórica que acusa o rival de fascismo

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Raatz
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL À FILADÉLFIA - A menos de uma semana da eleição presidencial americana, o republicano Donald Trump tem dado, ou endossado, declarações controvertidas a respeito de grupos dos quais ele depende para derrotar a democrata Kamala Harris.

PUBLICIDADE

Após, o ex-presidente defender comentários feitos no fim de semana em um comício no Madison Square Garden, em Nova York, no qual um de seus aliados chamou Porto Rico de ‘uma ilha flutuante de lixo’, Trump disse na quinta-feira, 31 de outubro, que, caso seja reeleito “vai proteger as mulheres, quer elas queiram, quer não”.

Trump precisa de ao menos uma fração deste eleitorado de latinos e mulheres para conseguir a vitória em Estados importantes para a decisão no colégio eleitoral, como Pensilvânia e Nevada. Parte considerável da estratégia de campanha de Kamala Harris nos Estados-pêndulo consiste em estimular o comparecimento do eleitorado feminino preocupado com o fim da jurisprudência que garantia o aborto legal nos EUA em nível nacional. Kamala também tem trabalhado para melhorar seus números entre os eleitores latinos na Pensilvânia, em Nevada e no Arizona.

As declarações de Trump sobre proteger as mulheres também aumentou as preocupações da campanha republicana, que tem tido dificuldades em manter Trump dentro do script planejado. Estrategistas do republicano querem manter foco na economia e na imigração, mas o próprio candidato insiste em fugir do roteiro.

Trump em comício em Wisconsin: 'proteger mulheres, quer elas queiram ou não' Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

“Eles me dizem: por favor, senhor, não diga isso, mas eu quero protegê-las. Quer elas queiram ou não”, disse Trump em Wisconsin na quarta-feira.

Publicidade

Trump tem um histórico de denúncias de assédio sexual e já foi considerado passível de condenação por crimes sexuais em um processo civil em NY movido pela escritora E. Jean Carrol no ano passado. Ele também foi condenado por ocultar pagamentos a uma atriz pornô com quem ele manteve relações sexuais para esconder o caso do público antes da eleição de 2016.

Nesta sexta, ele deu outra série de declarações agressivas contra mulheres ao atacar a deputada Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney e crítica de Trump dentro do próprio partido.

“Ela tem posições favoráveis à guerra no exterior, não tem? Por que não a colocamos diante de um fuzil disparando contra ela?”, disse o ex-presidente em um evento de campanha em Glendale com o ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson. “Vamos ver o que ela acha disso, sabe, quando as armas estiverem apontadas para o seu rosto.”

‘Ilha flutuante de lixo’

A campanha republicana adotou um tom mais beligerante desde que a campanha democrata partiu para a ofensiva e qualificou Trump e seus aliados de fascistas. A própria Kamala deu declarações nesse sentido na semana passada à CNN e disse que uma vitória de Trump seria um perigo para a democracia americana.

A primeira inflexão de Trump e seus aliados ocorreu no fim de semana, em um comício no Madison Square Garden, em NY. “Não sei se vocês sabem, mas há literalmente uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano neste momento. Acho que se chama Porto Rico”, disse o comediante Tony Hinchcliffe, que na sequência da apresentação incluiu comentários obscenos e racistas sobre latinos, judeus e negros. O comediante disse que se tratava de uma piada e nunca pede desculpas por causa disso.

Publicidade

No mesmo comício, outros apoiadores de Trump deram declarações misóginas contra a rival dele na eleição. “Kamala e seus cafetões vão detruir nosso país”, disse o empresário Grant Cardone naquela mesma noite.

Dias depois, Trump se referiu ao comício como um festival de amor, mas sua campanha tentou se distanciar rapidamente das declarações de Hinchcliffe e Cardone.

As declarações do comediante foram uma das poucas ao longo da campanha que fizeram a equipe de Trump se distanciar de uma polêmica. Em nota, a assessora Danielle Alvarez disse: “Essa piada não reflete as visões do presidente Trump, nem da campanha.”

Fascismo na pauta da eleição

Na terça-feira, em um comício em Atlanta, Trump fugiu do script preparado por seus assessores para negar que tenha tendências totalitárias e seja um nazista. “Eu não sou Hitler. Não sou nazista. Sou o oposto de um nazista”, disse o republicano. “Meu pai me dizia: nunca use a palavra Hitler e nunca use a palavra nazista”.

A troca de ataques também indica uma mudança de estratégia na campanha democrata na reta final da eleição, depois que as médias das pesquisas indicam um crescimento de Trump nos Estados que definirão a eleição no colégio eleitoral. Ainda que muito pequena e dentro da margem de erro, essa mudança tirou a liderança numérica de Kamala em Estados como a Pensilvânia e Nevada.

Publicidade

Se no lançamento da candidatura as palavras-chave dos democratas eram “alegria e mudança”, nestes últimos dias o vocabulário foi trocado pela defesa da democracia, uma das estratégias quando o candidato ainda era Joe Biden.

Os argumentos finais de Kamala estão indo na direção de que Trump poderia, se eleito transformar o Departamento de Justiça em arma política para perseguir rivais e arruinar a separação entre poderes.

Segundo as pesquisas, a vice-presidente ainda não consegue se apresentar como uma alternativa viável a Trump no campo da economia, que é a principal preocupação do eleitor americano.

Para Matthew Levendusky, professor de ciência política da Universidade da Pensilvânia, a eleição será tão disputada que qualquer grupo demográfico pode fazer a diferença. Com isso, uma pequena variação de votos entre latinos, mulheres ou trabalhadores com formação universitária pode definir a disputa.

“Será preciso ver como esses eleitores se comportarão. Poucos milhares de votos farão a diferença”, disse ele ao Estadão.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.