Afegãs protestam contra Taleban por proibição de mulheres nas universidades

Apesar da promessa de um regime mais tolerante quando tomaram o poder em agosto de 2021, os fundamentalistas islâmicos multiplicaram as restrições

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Por Redação

CABUL - Um pequeno grupo de mulheres afegãs organizou um protesto relâmpago em Cabul, nesta quinta-feira, 22, para desafiar o regime taleban, depois que foram proibidas de estudar na universidade. No dia anterior, guardas armados impediram a entrada de centenas de jovens nas universidades, após o anúncio proibindo o acesso das mulheres ao Ensino Superior.

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“Direitos para todos, ou para ninguém”, gritavam as manifestantes em um bairro da capital afegã, segundo imagens de vídeo obtidas pela agência France-Press. Cerca de 20 mulheres afegãs, vestidas com hijabs e algumas usando máscaras faciais, gritaram com os punhos erguidos na rua para serem autorizadas a estudar.

Segundo uma manifestante, “algumas mulheres foram detidas e levadas por policiais”. “Duas mulheres foram libertadas, mas várias permanecem presas”, acrescentou.

Afegãs protestam contra proibição de irem a universidades anunciada nesta semana pelo Taleban Foto: AFP

Os protestos das mulheres se tornaram menos frequentes no Afeganistão desde a prisão de ativistas proeminentes no início deste ano. As participantes correm o risco de serem presas, submetidas à violência e estigmatizadas.

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Inicialmente planejada para acontecer em frente ao campus de Cabul, o maior e mais prestigioso do país, a manifestação desta quinta ocorreu em outro local, devido à presença de um grande efetivo de segurança.

“As meninas afegãs são um povo morto (...). Elas choram sangue”, disse Wahida Wahid Durani, estudante de jornalismo da Universidade de Herat (oeste). “Eles estão usando toda sua força contra nós. Receio que logo anunciarão que as mulheres não têm nem o direito de respirar”, lamentou a estudante.

Promessa quebrada

Apesar da promessa de um regime mais tolerante quando tomaram o poder em agosto de 2021, os fundamentalistas islâmicos do Taleban multiplicaram as restrições contra as mulheres, afastando-as da vida pública, e mostrando que prevalece a interpretação ultrarrigorosa do Islã de sua primeira fase no poder (1996-2001).

Em uma carta concisa, o ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, ordenou na terça-feira que todas as universidades públicas e privadas do país proíbam as alunas de frequentar as aulas por tempo indeterminado. “Recomenda-se que implementem a ordem de suspender a educação das mulheres até novo aviso”, diz a carta.

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Imagem de outubro de 2022 mostra afegãs em universidade de Cabul  Foto: Wakil KOHSAR / AFP

Desde que o grupo fundamentalista islâmico recuperou o controle do Afeganistão em agosto do ano passado, as universidades se viram obrigadas a implementar novas regras, entre elas a segregação por gênero nas salas de aula e nas entradas dos edifícios. Além disso, as estudantes apenas podiam ter aulas com docentes mulheres ou homens idosos.

A maioria das adolescentes do país já havia sido banida do Ensino Médio, limitando significativamente suas opções de acesso às universidades. O veto, porém, ainda não havia sido aplicado ao Ensino Superior e milhares de mulheres fizeram as provas do vestibular há menos de três meses.

Na quarta-feira, a indignação foi manifestada nas redes sociais através da hashtag #LetHerLearn (DeixeElaAprender). Vários internautas compartilharam imagens de alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Nangarhar (leste do país) que pararam suas provas em solidariedade às colegas mulheres.

Um professor de matemática de Cabul também anunciou no Facebook que pediu demissão, justificando que não queria ensinar “onde as mulheres não estão autorizadas a estudar”.

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Jornalistas da AFP observaram estudantes reunidas em frente às universidades da capita, cujos portões estavam trancados e protegidos por seguranças armados. “Estamos condenadas. Perdemos tudo”, disse uma delas, que pediu para não ser identificada.

“Não temos palavras para expressar nossos sentimentos”, explicou outra, Madina. “Eles tiraram nossa esperança. Enterraram nossos sonhos”, completou a estudante.

Afegãs são impedidas de entrar em universidade de Cabul após decisão do Taleban Foto: Wakil KOHSAR / AFP

“Quando vi a notícia na internet, fiquei chocada e surpresa”, disse Amini, de 23 anos, que estuda enfermagem em Kunduz (norte do país). É como ser um “pássaro engaiolado”, acrescentou.

Interpretação do Islã

Estudantes homens também expressaram choque. “Isso realmente mostra seu analfabetismo e baixo conhecimento do Islã e dos direitos humanos”, disse um deles, sob condição de anonimato.

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O líder supremo do Taleban, Hibatullah Akhundzada, e seu círculo próximo defendem uma interpretação ultrarrigorosa do Islã contra a educação moderna, especialmente para mulheres. A posição diverge da adotada por alguns líderes em Cabul, e até mesmo entre suas bases, que esperavam que o novo regime tolerasse a educação feminina.

“Essa decisão vai ampliar as divergências”, comentou um comandante taleban localizado no noroeste do Paquistão.

Reações Internacionais

“O Taleban não pode esperar ser um membro legítimo da comunidade internacional se não respeita plenamente os direitos de todos no Afeganistão. Esta decisão terá consequências”, afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Durante uma visita a Washington, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Bilawal Bhutto Zardari, se declarou “decepcionado com a decisão”. Ao mesmo tempo, o ministro paquistanês defendeu a negociação: “Ainda acredito que o caminho mais fácil para nosso objetivo, apesar dos muitos contratempos quando se trata de educação feminina e outras coisas, é através de Cabul e do governo interino”.

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O secretário geral da ONU, Antonio Guterres, também se declarou “profundamente alarmado” com esta decisão.

A França e a Alemanha condenaram a iniciativa, uma medida que vai “destruir o futuro de seu próprio país”, nas palavras da chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock.

Para o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, este é um “grave passo para trás”. / AFP

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