Quatro estudantes da cidade do Cabo, na África do Sul, enfrentarão uma audiência disciplinar por causa de um vídeo viral no qual aparecem “leiloando” estudantes negros como escravos. A filmagem mostra alunos negros em uma gaiola enquanto outros estudantes fazem lances e causou indignação quando foi compartilhada nas redes sociais, na última sexta-feira, 26. As informações são da BBC.
De acordo com a emissora, o vídeo foi filmado na Pinelands High School e envolveu alunos do primeiro ano do ensino médio, que têm em torno de 14 anos. A Comissão Sul-Africana de Direitos Humanos (SAHRC) disse que abriu sua própria investigação sobre o incidente. O caso acontece no momento em que duas outras escolas no país estão lidando com supostos incidentes racistas.
“É preocupante que esses incidentes continuem a ocorrer 30 anos após o início da democracia”, disse a SAHRC , acrescentando que era ainda mais preocupante que tivessem ocorrido nas escolas. Os quatro alunos da Pinelands High School que se acredita estarem por trás do “leilão” simulado estão atualmente suspensos.
“A investigação está em andamento e quase concluída, com 24 alunos entrevistados nos dois primeiros (dias letivos) desde que as alegações foram feitas”, disse na quarta-feira, 31, Bronagh Hammond, porta-voz do Departamento de Educação de Cabo Ocidental, em uma declaração enviada à BBC. “Também serão tomadas medidas contra outros alunos que possam ter transgredido certas disposições do código de conduta”, acrescentou ela.
O incidente veio à tona depois que um dos alunos mostrou a filmagem para sua mãe, Merle Potgieter, que então contou à direção da escola e à mídia local. Ela diz que seu filho, de 14 anos, lutou contra os meninos que tentavam forçá-lo a entrar no recinto junto com outros meninos negros que já estavam lá dentro.
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Segundo a BBC, nas imagens do “leilão” simulado é possível ouvir crianças dando vários lances de até 100.000 rands (cerca de R$ 30 mil). Após o ocorrido, o apoio de aconselhamento foi priorizado para os alunos que foram vítimas - e todos os alunos do oitavo ano passaram por sessões de esclarecimento, disse Hammond.
A escravidão na Cidade do Cabo remonta à década de 1650, quando os holandeses colonizaram a península e milhares de pessoas escravizadas foram trazidas para a região do sudeste da Ásia, de Madagascar e de Moçambique, destaca a BBC.
Hoje, a Cidade do Cabo é considerada uma das cidades mais segregadas racialmente e desiguais da África do Sul, apesar de sua mistura multiétnica. Isso se deve ao legado do apartheid, regime que, na década de 1950, empurrou comunidades negras para municípios segregados fora da cidade. O governo do apartheid também consolidou uma hierarquia racial, que colocava os negros no nível mais baixo.
Medidas disciplinares
Na terça-feira, 30, o deputado Makhi Feni, presidente do comitê parlamentar de educação, pediu às escolas envolvidas nos últimos escândalos que “considerassem programas significativos que promovessem a coesão social e a identidade sul-africana. “A pergunta que todos nós deveríamos fazer genuinamente é o que encoraja uma pessoa, um adolescente, sem conhecimento de onde viemos como país, a agir de uma maneira que aponta para o racismo. Certamente, nossos filhos não são e não deveriam ser racistas”, disse ele.
Enquanto isso, o partido de oposição Economic Freedom Fighters (EFF) exige que os alunos sejam suspensos por pelo menos dois anos e realizem serviços comunitários em áreas de comunidades negras. O partido ameaçou convocar protestos e fechar a escola caso considere que a forma como as autoridades lidaram com o incidente não foi satisfatória.
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