Alegações de fraude tentam manter lealdade da base de Trump

Presidente prometeu mover uma série de ações na Justiça nos próximos dias, se recusando a conceder sua derrota ao democrata Joe Biden

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

WASHINGTON - O presidente Donald Trump prometeu mover uma série de ações na Justiça nos próximos dias, se recusando a conceder sua derrota ao democrata Joe Biden e fazendo uma proposta agressiva para que os doadores de sua campanha ajudem a financiar qualquer disputa judicial.

Trump e sua campanha levantaram acusações de fraude eleitoral em larga escala na Pensilvânia e em outros Estados que elegeram Biden, até agora sem provas.

Anúncio de arrecadação de fundos para a contestação da apuração dos votos pela campanha de Trump diz: 'OS DEMOCRATAS VÃO TENTAR ROUBAR ESTA ELEIÇÃO! O presidente precisa da SUA AJUDA!'. Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

Altos funcionários, assessores de campanha e aliados de Trump disseram à Associated Press que evidências esmagadoras de fraude não são realmente o ponto.

A estratégia para travar uma batalha legal contra Biden na Pensilvânia e em outros lugares serviria mais para fornecer a Trump um palanque após uma derrota que ele não consegue entender, e não para mudar o resultado da eleição. Eles falaram com a AP sob condição de anonimato para discutir a estratégia da campanha.

Os assessores e aliados de Trump também reconheceram em conversas privadas que as lutas legais iriam - na melhor das hipóteses - adiar o inevitável, e alguns tinham profundas reservas sobre as tentativas do presidente de minar a fé na votação. Mas eles disseram que Trump e um grupo central de partidários pretendem manter sua base de apoiadores ao seu lado, mesmo na derrota.

Publicidade

Não houve nenhuma eleição em décadas recentes em que tal fraude generalizada foi alegada. O mais próximo foi a eleição de 1960, em que o democrata John Kennedy derrotou o republicano Richard Nixon, e houve alegações de que uma suposta fraude ajudou Kennedy a vencer.

Momentos depois que a AP projetou a vitória de Biden, o advogado de Trump, Rudy Giuliani, ficou em frente a um banner de campanha colado na porta da garagem de uma empresa de paisagismo na Filadélfia, espremido entre um centro de cremação e uma livraria para adultos, com um punhado de observadores das pesquisas que declararam ter sido mantidos longe demais para verificar se havia alguma imprecisão.

Anúncio da campanha de Trump apontademocratas como ameaça socialista nos EUA. Foto: Reprodução

“Não temos como saber, porque fomos privados do direito de inspecionar as cédulas”, disse ele.

Os observadores partidários das pesquisas são designados por um partido político ou campanha para relatar quaisquer preocupações que possam ter.

Eles não são funcionários que realmente fazem a contagem das cédulas. O monitoramento de locais de votação e escritórios eleitorais é permitido na maioria dos Estados, mas as regras variam e existem certos limites para evitar qualquer assédio ou intimidação. 

Publicidade

Eles não podem interferir na condução da eleição e normalmente são obrigados a se registrar com antecedência no escritório eleitoral local.

Este ano, por causa do coronavírus que matou mais de 230.000 pessoas em todo o país, houve litígios em alguns Estados, incluindo a Pensilvânia, sobre onde os observadores das pesquisas poderiam se posicionar para garantir o distanciamento social.

Os advogados podem argumentar que a contagem dos votos deve ser deixada de lado por causa da fraude observada pelos observadores das pesquisas, mas, para vencer essa discussão, eles precisariam de evidências, não apenas de alegações que os monitores não foram autorizados a ver com clareza suficiente. 

Os juízes relutam em privar de direito os eleitores e seria necessário haver provas substanciais de que a fraude havia prejudicado tanto a contagem que ela deveria ser anulada.

Os observadores das pesquisas democratas, que também tiveram o mesmo acesso, não levantaram preocupações. Giuliani chamou evidências de fraude circunstanciais na coletiva de imprensa. Ele disse que entraria com um processo no tribunal federal, mas a questão já foi aos juízes.

Publicidade

Um juiz federal na Filadélfia na noite de quinta-feira ordenou que os dois lados elaborassem um acordo sobre o número de observadores eleitorais e o quão perto eles poderiam estar da contagem. O juiz também expressou preocupação sobre a segurança dos funcionários eleitorais durante a pandemia, se os observadores das urnas pudessem olhar por cima de seus ombros.

No domingo, em entrevista à Fox News, Giuliani disse que dois processos adicionais estavam sendo elaborados, além do litígio existente na Pensilvânia.

Até o final desta semana, Giuliani previu que a campanha teria entrado com “quatro ou cinco” processos, com um total de 10 possíveis.

A fraude eleitoral é extremamente rara e, quando acontece, geralmente as pessoas são apanhadas e processadas e isso não altera o resultado da eleição. Normalmente, envolve alguém que deseja honrar os desejos de um ente querido que morreu recentemente e, conscientemente ou não, comete um crime ao preencher essa cédula.

Os oficiais da campanha de Trump também alegaram que mais de 21.000 votos foram lançados em nome de pessoas mortas na Pensilvânia. As reivindicações resultam de um processo judicial de um grupo conservador contra a secretária de Estado, acusando-a de incluir erroneamente cerca de 21.000 residentes supostamente mortos nas listas de eleitores.

Publicidade

O juiz federal responsável pelo caso, John Jones, disse ter dúvidas sobre as alegações. Ele disse que a Public Interest Legal Foundation, que entrou com as ações, estava pedindo ao tribunal que aceitasse que havia pessoas mortas nos cadernos eleitorais, e ele pediu provas e questionou por que eles esperaram até o fim da eleição para abrir o processo.

“Não podemos e não aceitaremos a palavra do demandante - em uma eleição em que todos os votos são importantes, não privaremos os eleitores potencialmente elegíveis com base apenas nas alegações de uma fundação privada”, escreveu o juiz em uma decisão de 20 de outubro.

Até mesmo a própria administração de Trump rejeitou as alegações de fraude eleitoral generalizada e votação ilegal, embora não tenha mencionado que Trump foi quem fez as acusações. 

A Cybersecurity and Infrastructure Security Agency, a agência federal que supervisiona a segurança eleitoral dos EUA, também observou que os escritórios eleitorais locais têm medidas de detecção que "tornam muito difícil cometer fraudes por meio de cédulas falsas".

Os principais funcionários eleitorais dos estados onde a disputa foi mais acirrada, caso do Arizona, Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Nevada - tanto republicanos quanto democratas - disseram não ver nenhuma irregularidade generalizada nas votações, nenhum grande exemplo de fraude ou atividade ilegal.

Publicidade

Enquanto isso, em uma ligação com os apoiadores no sábado, o gerente de campanha de Trump, Bill Stepien, os encorajou a estarem prontos para continuar a luta por Trump, inclusive aguardando comícios e manifestações. Outros assessores descreveram o que argumentaram ser irregularidades na contagem.

E os republicanos estavam aderindo à ideia de que todos os votos “legais” devem ser contados - a linguagem usada carrega uma implicação clara de que os democratas querem votos ilegais, uma afirmação para a qual não há evidências.

De acordo com um integrante da campanha, que pediu anonimato, os republicanos no Capitólio estavam dando a Trump o espaço para considerar todas as opções legais e permitindo que o processo se desenrolasse.

O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, ainda não fez nenhuma declaração pública - nem parabenizando Biden nem aderindo às reclamações de Trump sobre os resultados.

“Não tenho certeza se sua posição teria mudado: é a de contar todos os votos, e julgar todas as reivindicações”, disse Scott Jennings, um estrategista republicano em Kentucky aliado de McConnell. “Minha sensação é que não haverá qualquer tolerância para além do que a lei permite. Haverá tolerância para o que a lei permite.”

Publicidade

Foi uma opinião compartilhada por vários outros republicanos que não apoiaram nem rejeitaram o resultado.

“Nada do que vi em relação à eleição levanta uma questão legal que poderia ter sucesso. Simplesmente não há nada lá ”, disse Barry Richard, que representou George W. Bush na recontagem de 2000 na Flórida, que terminou perante a Suprema Corte dos EUA. “Quando esse tipo de processo é aberto, isso só gera desprezo por todo o sistema legal”, disse ele./ AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.