WASHINGTON - Roger Stone é um conhecido consultor político, lobista, amigo de longa data e aliado do presidente dos EUA, Donald Trump. Nesta quinta-feira, 20, ele foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão por obstruir a investigação do Congresso sobre a interferência da Rússia na campanha eleitoral de 2016 e por fornecer falso testemunho. A decisão foi anunciada em um tribunal federal e ainda cabe recurso. Stone também deverá pagar uma multa de US$ 20 mil.
Antes mesmo de a sentença ser anunciada, Trump falou em indultar o amigo. O presidente disse que não pretende fazer nada agora, mas que deseja “perdoar” Stone. “Pessoalmente, adoraria fazer isso, porque ele foi tratado de maneira muito injusta”, disse.
No entanto, antes de pensar em comutar a pena, segundo Trump, o “processo deve ser concluído”.
Segundo o indiciamento de Stone, apresentado pelo promotor especial Robert Mueller, que chefiou a investigação sobre a interferência da Rússia na eleição de 2016, Stone coordenou as ações estrangeiras, obstruiu o trabalho da Justiça, fez cinco declarações falsas em depoimento no Congresso e intimidou uma testemunha, o radialista Randy Credico, que foi ameaçado de morte.
O amigo de Trump foi preso em sua casa na Flórida, em janeiro de 2019, mas foi libertado após pagar fiança de US$ 250 mil. Ele se declarou inocente, mas foi considerado culpado em julgamento realizado em novembro.
O caso ganhou mais notoriedade porque Trump decidiu pressionar a Justiça americana. Primeiro, o presidente atacou os promotores que supervisionaram o julgamento. Depois, tentou intimidar a juíza Amy Berman Jackson, que presidiu o caso. Em seguida, pressionou o secretário de Justiça, William Barr, a reduzir a pena de Stone – a promotoria havia pedido de 7 a 9 anos. O resultado foi a renúncia simultânea dos quatro promotores que trabalhavam no processo.
Criticado por mais de 2 mil promotores federais por aceitar passivamente a pressão de Trump, Barr acabou reclamando do presidente em uma entrevista à rede ABC. “As críticas de Trump tornam impossível fazer o meu trabalho e garantir aos tribunais e promotores que estamos trabalhando com integridade”, disse. “É hora de parar de tuitar sobre os casos criminais do Departamento de Justiça.”
Direito de intervir
No dia seguinte, o presidente afirmou que tem o direito de intervir em decisões da Justiça e, também pelo Twitter, se colocou como “chefe da lei”. “Eu sou, na verdade, o chefe da execução das leis no país”, escreveu Trump. Nos bastidores, assessores relatam um presidente irritado com o indiciamento de aliados, enquanto muitos desafetos, como Hillary Clinton, ex-candidata democrata, e James Comey, ex-diretor do FBI, escaparam da Justiça. Hoje, Stone chegou ao tribunal vestindo sobretudo preto, chapéu da mesma cor e os óculos escuros redondos, como manda seu estilo pessoal. Na calçada, alguns manifestantes gritavam “Traidor!”, enquanto que outros pediam sua absolvição. Dentro da corte, ele ouviu calado a sentença de Berman Jackson.
“A verdade ainda existe”, afirmou a juíza, ao pronunciar sua sentença. “A verdade ainda importa. A insistência de Roger Stone de que isso não importa, sua beligerância, seu orgulho de suas próprias mentiras são uma ameaça para nossas instituições mais fundamentais, para o próprio fundamento de nossa democracia.”
Passado polêmico
Stone é um velho lobista, conhecido desde os anos 70, quando foi acusado de espionar adversários do presidente Richard Nixon. Ao lado de Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Trump, ele representou os interesses de ditadores, como Mobutu Sese Seko, do antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo). Trump era um de seus clientes, na época, envolvido em negócios com cassinos.
Em 2015, Stone deixou oficialmente a campanha de Trump, mas continuou em seus bastidores. Segundo as investigações de Mueller, ele manteve contato com os responsáveis pelo vazamento de e-mails do Comitê Nacional Democrata, que prejudicaram a campanha de Hillary. Ele nega ter mantido relacionamento com os russos, mas admitiu manter um canal indireto com Julian Assange, fundador do WikiLeaks, onde as mensagens foram publicadas. / NYT, WP, REUTERS e AP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.