A China está expandindo suas capacidades de armas nucleares mais rapidamente do que se acreditava, alertou o Pentágono em um relatório divulgado nesta quarta-feira, 3.
"A República Popular da China pretende ter pelo menos 1.000 ogivas nucleares até 2030, excedendo o ritmo que o Departamento de Defesa projetou em 2020", disse a cúpula da Defesa americana na última edição de um relatório anual entregue ao Congresso. O documento também cita a construção de pelo menos três silos nucleares pela China, dizendo que eles armazenarão "centenas" de novos mísseis balísticos intercontinentais.
"A China está investindo e expandindo o número de suas plataformas de lançamento nuclear terrestre, marítima e aérea e construindo a infraestrutura necessária para apoiar esta grande expansão de suas forças nucleares", disse o Departamento de Defesa. Isso significa que a China "possivelmente já estabeleceu uma tríade nuclear" de sistemas de lançamento e está "aumentando sua capacidade de produzir e separar plutônio por meio da construção de reatores reprodutores rápidos e instalações de reprocessamento".
A nova estimativa do Pentágono que aponta o número de 1.000 ogivas nucleares até 2030 - incluindo 700 prontas para lançar já em 2027, que poderiam ser montadas imediatamente em vários mísseis - é baseada em uma avaliação de sua capacidade de produção.
O prognóstico ainda mantém os EUA muito à frente na contagem nuclear, com 3.750 ogivas. No entanto, a modernização das forças nucleares pela China levanta questões sobre as intenções finais do país, de acordo com um alto funcionário da defesa dos EUA que conversou com a Bloomberg na terça-feira sob condição de anonimato.
A publicação do relatório, intitulado "Desenvolvimentos Militares e de Segurança Envolvendo a República Popular da China", vem no momento em que Washington está em alerta sobre a modernização militar chinesa e o aumento das tensões entre as duas maiores economias do mundo.
O oficial da Defesa que falou à Bloomberg disse que o relatório foi baseado em desenvolvimentos do ano passado e não trata diretamente das recentes tensões militares entre os EUA e a China, incluindo as repetidas incursões na Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan e relatos de que a China testou um míssil hipersônico.
O general do Exército e presidente da junta de Chefes de Estado-Maior dos Estados Unidos, Mark Milley, alertou em uma entrevista à Bloomberg que foi ao ar na semana passada que o teste de sistemas hipersônicos da China - incluindo um que foi lançado em órbita - estava perto de um "momento Sputnik" para os Estados Unidos. A tecnologia, se aperfeiçoada, poderia ser usada para enviar ogivas nucleares atravessando o Polo Sul, contornando sistemas antimísseis americanos no Hemisfério Norte.
A China acusou repetidamente os EUA de exagerar na ameaça representada pelo programa de modernização do Exército de Libertação do Povo. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse a repórteres que os EUA deveriam parar de "perceber a China como uma ameaça imaginária" quando ele foi questionado sobre os comentários de Milley.
As autoridades chinesas também disseram que seu acúmulo de armas nucleares é puramente defensivo e, no passado, apontaram seu compromisso público de "não usar primeiro", uma consagrada política de armas nucleares.
Ainda assim, os líderes da China pediram ao país que acelere seu esforço para criar um Exército de primeiro mundo. Em comentários a uma conferência militar na semana passada, o presidente Xi Jinping pediu à China para "abrir novos caminhos" no desenvolvimento de armas, acrescentando que a nação deve criar uma "nova situação" para apoiar a produção de armamento e equipamento militar.
Parte da urgência da China decorre de seu desejo de dissuadir potências externas - especialmente os EUA - de intervir se Pequim usar a força para cumprir sua posição em casos como Taiwan, que a China considera parte de seu território.
"O Exército de Libertação do Povo apresentou, e está desenvolvendo, recursos para fornecer opções para a China tentar dissuadir, impedir ou, se ordenado, derrotar a intervenção de terceiros durante uma campanha em grande escala, como uma contingência a Taiwan", disse o relatório do Pentágono.
O documento também detalhou a expansão de alcance dos equipamentos militares chineses. As chamadas "capacidades antiacesso" de seus mísseis antinavio de longo alcance já se concentraram na "Primeira Cadeia de Ilhas", que vai do Japão a Taiwan e Filipinas, para manter os porta-aviões dos EUA e outras forças à distância.
Agora, os militares da China estão se estendendo para mais longe, segundo o Pentágono, para chegar à chamada "Segunda Cadeia de Ilhas", uma faixa marítima que inclui Guam, onde os EUA têm uma base importante, e Palau, onde as autoridades americanas expressaram interesse em estabelecer uma presença militar maior.
"A China está começando a colocar em campo recursos significativos capazes de conduzir operações na região e busca fortalecer suas capacidades para chegar mais longe no Oceano Pacífico e em todo o globo", diz o relatório.
O Pentágono também repetiu avaliações anteriores de que a China busca expandir sua pegada militar no exterior. Além de sua base atual em Djibouti, a China considerou bases em países como Camboja, Mianmar, Tailândia, Cingapura, Indonésia, Paquistão, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos, Quênia, Seychelles, Tanzânia, Angola e Tajiquistão, disse o relatório./ BLOOMBERG E NYT
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