Cada vez mais preocupados com as perdas que possam sofrer em novembro, muitos republicanos estão levantando o espectro do impeachment para motivar as bases partidárias a comparecer em massa às urnas. Entretanto, com o advogado pessoal do presidente dizendo em juízo que cometeu crimes por ordens pessoais do presidente dos EUA, Donald Trump (outros malfeitos virão à tona, suspeito eu), tornou-se difícil evitar o assunto. Mas, como informa o repórter do Post Michel Scherer, líderes democratas no Congresso estão aconselhando os candidatos do partido a tratar cuidadosamente o tema.
“Um dia após o ex-advogado de Trump implicá-lo em ordenar um crime, líderes democratas aumentaram os ataques eleitorais contra o Partido Republicano, ligando-o à corrupção. Mas, num esforço para manter o foco eleitoral mais em problemas do dia a dia, eles vêm evitando discutir impeachment...
“Em vez disso, incentivam seus candidatos e parlamentares já eleitos a cobrar o prosseguimento das investigações em andamento no Departamento de Justiça sobre Trump e seus aliados, emitindo um claro sinal de que confiam em que o sentimento nacional contra o presidente vá se manifestar nas urnas sem necessidade de levar aos comícios cobranças que possam dividir o eleitorado.”
Em certos círculos democratas, o conselho será entendido como indício de covardia, pois não há dúvida de que muitos eleitores democratas acreditam já haver motivos mais que suficientes para o impedimento de Trump. De fato, não dá para se ignorar uma frustração de décadas do eleitorado democrata com políticos que evitam confrontar os republicanos com a mesma agressividade destes. Nos últimos dias, muita gente à esquerda qualificou de “admirável, mas ingênua” a afirmação de Michelle Obama de que “quando eles baixam o nível, nós subimos”.
Acreditar que Trump mereça impeachment não significa, substantiva ou politicamente, que isso vá levar os democratas à Casa Branca.
Primeiro, é preciso se considerar uma realidade: são necessários 67 votos para condenar Trump no Senado, e nada deve fazer com que 15 ou 20 senadores republicanos (dependendo de quantos republicanos haverá no Senado no próximo ano) votem pela remoção do presidente do cargo. Assim, apoiar o impeachment na verdade significa barrar Trump na Câmara para em seguida vê-lo absolvido pelo Senado.
Pode-se argumentar que, mesmo assim vale a pena tentar. Mas, se a intenção for realmente tirar Trump do poder, é preciso levar-se em conta que a chance de que isso venha a ocorrer é muito pequena.
Por que deveriam os democratas ponderar cuidadosamente sobre a questão? Não bastaria que seguissem em frente com o que acreditam, e pronto? Não é o que os eleitores esperam de quem disputa uma eleição? Sem dúvida. Mas um candidato pode manifestar seus sentimentos e, ao mesmo tempo, ser realista. Assim, poderia argumentar: “Se eu acho que Trump deve deixar o poder, com base naquilo que já sabemos? Sim. Mas isso não acontecerá até que alguma coisa nova mude radicalmente o interior do Partido Republicano. Portanto, tentar removê-lo agora não levará a nada”.
Não apenas isso. É quase certeza que, quando o procurador especial Robert Muller conlcuir sua investigação, mais será revelado sobre o que Trump e seu entorno fizeram antes, durante e depois da campanha de 2016. Talvez o que venhamos então a saber torne o impeachment mais plausível. Por enquanto, porém, não dá para se prever nada.
Enquanto isso, é mais importante que os democratas discutam o que é possível cobrar do presiden te e de seu governo sem usar o impeachment. E muito pode ser feito nesse sentido se os democratas controlarem apenas uma das duas Casas do Congresso. Eis alguns pontos pelos os quais eles podem confrontar o governo, e Trump pessoalmente, se conquistarem a Câmara dos Deputados:
- Usar o controle da Comissão de Modos e Meios para ter acesso à devolução de impostos de Trump, para finalmente sabermos o que ele está escondendo.
- Promover audiências para discutir se Trump está lucrando pessoalmente com a presidência, com o envolvimento de seus próprios negócios em transações com governos estrangeiros.
- Investigar, séria e abrangentemente, o ataque cibernético russo na eleição de 2016 e a possível cooperação da campanha de Trump com esse ataque.
- Investigar acusações de irregularidades levantadas contra funcionários do gabinete presidencial como Wilbur Ross e Ryan Zinke.
- Cobrar explicações do governo sobre políticas administrativas controversas, como adicionar uma pergunta sobre cidadania ao recenceamento, afrouxar as regras para emissão de poluentes, facilitar a escolas privadas fraudar estudantes e separar crianças dos pais na fronteira.
Nada disso tem sido feito, uma vez que os republicanos se recusam a exercer um mínimo de fiscalização sobre o governo. Se e quando os democratas conseguirem assumir esses encargos, estarão cumprindo uma importante função pública – e, sim, colhendo ao mesmo tempo benefícios políticos.
A verdade é que, embora adoremos debater impeachment em Washington, não há muitos candidatos levantando seriamente essa bandeira. Eles estão mais concentrados em temas como saúde, salários e corrupção do que num eventual e dramático julgamento do presidente. Se forem coagidos a declarar sua posição sobre impeachment, a maioria vai se sair com uma resposta do tipo “vamos ver, mas no momento oportuno. Há coisas mais importantes para se pensar agora”.
O que pode ser mesmo a melhor resposta.
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