Quando Donald Trump disse há um ano que os EUA avaliavam uma “opção militar” na Venezuela, quase ninguém achou que era uma boa ideia. Hoje, enquanto o país entra em colapso, o apoio a essa medida é abertamente discutido. A noção de usar a força para derrubar Nicolás Maduro ganha adeptos, embora continue minoritária. Marco Rubio, senador republicano da Flórida, disse que há anos procura uma solução pacífica para a Venezuela, mas agora existe um “argumento muito forte” de que o país é uma ameaça à segurança dos EUA que pede a participação dos militares americanos.
Na Colômbia, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse que a intervenção militar não deve ser descartada, embora mais tarde ele tenha sugerido ter sido mal interpretado. Na terça-feira, Trump voltou ao assunto. “É um regime que deveria ser derrubado rapidamente, se os militares quiserem.”
Esta semana, Fernando Cutz, ex-consultor do Conselho de Segurança Nacional, disse que uma intervenção militar multilateral poderia ser a melhor solução para a Venezuela. Parte do que está mudando é a percepção de que o Exército venezuelano, há muito tempo visto como espinha dorsal do governo, mostra fissuras cada vez maiores.
No ano passado, houve várias pequenas tentativas militares de derrubar Maduro, incluindo o uso de um drone em uma parada militar. Alguns exilados venezuelanos também apoiam a ideia. O líder da oposição, Antonio Ledezma, pediu uma “intervenção humanitária”, enquanto o professor Ricardo Hausmann, economista de Harvard, diz que a solução passa “pela mudança de regime”.
De sua parte, o governo intensificou a repressão, usando as tentativas de golpe e percebendo a ameaça de um ataque como pretexto para prender opositores. Somando-se isso à sensação de que Washington possa estar se aquecendo para a intervenção, os falcões da área de segurança estão assumindo posições no governo.
Historicamente, as intervenções americanas tiveram resultados fracos. Séculos de ações criaram hostilidade na América Latina e qualquer movimento para derrubar Maduro enfrentará a oposição dos vizinhos da Venezuela, que temem um banho de sangue. Hausmann, no entanto, rejeita o argumento. “As Forças Armadas da Venezuela estão entrando em colapso”, disse. “Os militares não têm capacitação operacional e não são uma ameaça militar a ninguém.”
David Smilde, especialista da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, é contra a intervenção, mas diz que Trump pode fazer exatamente isso se achar que precisa de uma vitória em política externa com a reeleição se aproximando. “Em razão da falta de alternativas democráticas e da crise migratória, não é surpresa que essa conversa de intervenção esteja se disseminando. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO
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