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Putin conquista Mariupol, mas vitória maior no Donbas se distancia; leia análise

Perdas de tropas e equipamentos por parte de forças russas e envio de armas para a Ucrânia mudam relação de forças na guerra

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Por Tom Balmforth e Jonathan Landay
Atualização:

REUTERS - Mesmo enquanto se prepara para assumir o controle total da cidade de Mariupol, a Rússia enfrenta a crescente perspectiva da derrota em sua tentativa de conquistar totalmente a região do Donbas, no leste da Ucrânia. As unidades militares foram severamente contra-atacadas e faltam recursos para avanços significativos.

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O presidente russo, Vladimir Putin, terá de decidir enviar mais tropas e equipamentos para fortalecer as forças militares à medida que mais armamentos enviados pelo Ocidente reforçam o poder de combate da Ucrânia, dizem analistas.

É improvável que as forças da Rússia sejam derrotadas rapidamente, mesmo em uma situação em que não haja um novo destacamento de tropas se preparando para a continuação da batalha no Donbas, que já dura quatro semanas. “Acho que elas serão derrotadas com a atual posição ou se mobilizarem novas forças. Não acho que haja um meio-termo”, disse Konrad Muzyka, diretor da consultoria Rochan, com sede na Polônia.

Imagem mostra tanque russo destruído no vilarejo de Mala Rogan, próximo a Kharkiv, nesta quarta-feira, 18; forças russas sofrem baixas com contra-ataque ucraniano Foto: Sergey Bobok / AFP

Ele e outros analistas dizem que as forças russas enfrentam perdas insustentáveis de tropas e equipamentos, e que a janela para um avanço se estreita com os novos carregamentos de armas recebidos pela Ucrânia.

“O tempo está definitivamente trabalhando contra os russos. Estão ficando sem equipamento e sem mísseis particularmente avançados. E, é claro, os ucranianos estão ficando mais fortes quase todos os dias”, disse Neil Melvin, do centro de estudos, em Londres.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse na terça-feira, 17, que “tudo está planejado” para o alcance da vitória. “Não há dúvida de que todos os objetivos serão alcançados”, informou a agência de notícias RIA.

Mas em um comentário inesperadamente crítico no principal canal de televisão da Rússia nesta semana, um analista militar influente disse que os russos deveriam parar de engolir “tranquilizantes informativos” sobre o que Putin chama de operação militar especial.

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Com o aumento do fluxo de suprimentos de armas dos Estados Unidos e da Europa para os ucranianos, “a situação ficará francamente pior para nós”, disse Mikhail Khodarionok, coronel aposentado.

Campanha no leste

A Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro com a intenção de capturar a capital, Kiev. A tentativa fracassou e as tropas mudaram de estratégia, se retiraram dos arredores da capital e passaram a se concentrar na região do Donbas, território que está parcialmente nas mãos de separatistas apoiados por Moscou desde 2014.

A Rússia também focou no sul da Ucrânia no início da guerra para criar um corredor terrestre para as suas forças militares. O plano foi prejudicado pelas tropas ucranianas que resistiram a bombardeios maciços por 82 dias na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, antes de se renderem nesta semana.

Imagem obtida de vídeo gravado no dia 17 e divulgada pelo Ministério da Defesa da Rússia nesta quarta-feira, 18, mostra soldados ucranianos se retirando da usina de Azovstal, em Mariupol. Rendição deu controle da cidade aos russos Foto: Ministério da Defesa da Rússia / via AFP

Enquanto a resistência ocorria, os russos pressionaram os ucranianos no leste, tentando romper os territórios sob domínio da Ucrânia com um cerco maciço em direção ao sul da cidade de Izium.

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Cerca de um terço do Donbas foi detido por separatistas apoiados pela Rússia antes da invasão. Os russos agora controlam cerca de 90% de Luhansk, uma das regiões localizadas no Donbas, mas não conseguiram fazer grandes ataques em Sloviansk e Kramatorsk, principais cidades de Donetsk, a outra região do Donbas. Isso impediu que eles estendessem o controle sobre todo o território.

Michael Kofman, especialista em militares russos da CNA, organização americana de pesquisa e análise, disse que está “profundamente cético” com relação às perspectivas russas de conquistarem todo o Donbas. “Eles estão com uma força drasticamente enfraquecida, provavelmente com o moral muito reduzida”, declarou.

Muzyka, da Rochan, analisou que a Rússia parece mudar o foco no Donbas ao levar os grupos táticos do batalhão para outras cidades depois de não conseguir quebrar as defesas ucranianas em Donetsk. “Eles não conseguiram avançar em Izium, então se mudaram para Sievierodonetsk e Liman, possivelmente com o objetivo de tentar cercar as forças ucranianas dessas cidades. Se isso vai ocorrer ou não, é uma questão totalmente diferente”, afirmou.

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O general Valeri Gerasimov, chefe do Estado-Maior do Exército russo, visitou o front de batalha este mês em uma aparente tentativa de resolver os problemas, mas não há evidências de que ele tenha conseguido, analisou Jack Keane, presidente do Instituto para o Estudo da Guerra em Washington. “A ofensiva realmente estancou”, disse.

Ao norte de Donbas, a Ucrânia montou uma contra-ofensiva perto da cidade de Kharkiv, no nordeste do país. A ação resultou no afastamento das forças russas para linhas que deixam Kharkiv, a segunda maior cidade do país, longe do raio de bombardeios. Em um dos fronts, as tropas russas chegaram à fronteira.

Muzyka disse que a Ucrânia pode garantir o domínio de uma parte significativa da fronteira com a Rússia ao norte de Kharkiv nesta semana.

Entretanto, Michael Kofman acredita que a Ucrânia não será capaz de replicar esse rápido avanço no Donbas, onde as tropas russas estão mais concentradas. “Vai ser uma luta árdua e potencialmente longa. Os militares russos não se saíram bem na ofensiva, mas também não são derrotados ou se rendem facilmente”, disse.

Guerra de artilharia

O envio de canhões pesados por parte do Ocidente, incluindo dezenas de obuses M777 dos EUA - e alguns canadenses - que têm alcance maior do que seus equivalentes russos, pode dar à Ucrânia uma vantagem em uma guerra que gira em torno de duelos de artilharia. “Os ucranianos estão começando a superar os russos. Isso significa que eles são capazes de operar sem a ameaça de contra-ataque dos russos”, disse Muzyka.

“Os russos ainda desfrutam da superioridade geral da artilharia em termos de números, mas não tenho certeza se o mesmo vale para a qualidade atual”, acrescentou o analista. “Esta é uma guerra de artilharia.”

Muzyka e Kofman disseram que mesmo que Putin envie mais tropas, tal movimento pode levar meses para ser organizado. “Está muito claro que eles estão se preparando para pelo menos algum tipo de medida para convocar homens com experiência anterior de serviço. Mas agora, pelo que posso analisar, Putin está apenas deixando a situação com os militares piorarem”, disse Kofman.

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“Por enquanto”, disse ele, “esta parece ser a última ofensiva dos russos”.

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