A presidente-eleita do México, Claudia Sheinbaum, mandou sinais preocupantes dias antes de assumir o cargo: assustou investidores ao apoiar uma polêmica reforma judicial, apoiou uma disputa desnecessária com a Espanha e convidou os ditadores de Cuba e Venezuela para sua cerimônia de posse, no dia 1.º de outubro.
Sheinbaum, a candidata apoiada pelo atual presidente populista, Andrés Manuel López Obrador, dificilmente poderia se dar ao luxo de se desentender com investidores ou com os principais parceiros comerciais do México.
Em parte devido à inépcia do presidente de saída, a previsão de crescimento econômico do México foi recentemente rebaixada pelo Banco Central do país para mero 1,5% em 2024 e 1,2% em 2025.
Ainda mais importante, o México terá de iniciar negociações no próximo ano para atualizar seu acordo de livre-comércio com os Estados Unidos e o Canadá, que expira em 2026. Mais de 80% das exportações do México vão para o mercado americano.
Sheinbaum deveria pelo menos ter ficado em silêncio sobre a reforma judicial de López Obrador. A reforma dará ao governo efetivamente controle sobre o Poder Judiciário, o que faz investidores temerem a possibilidade de não ter proteção legal contra possíveis expropriações ou outras medidas que considerem injustas.
Em vez de se manter calada a respeito do assunto, Sheinbaum apoiou entusiasticamente a reforma judicial, mesmo depois de a agência de classificação de crédito Moody’s e grandes bancos, como o Morgan Stanley, terem alertado que isso poderia afastar o investimento. O embaixador dos EUA no México, Ken Salazar, disse que a reforma judicial “ameaça a relação comercial histórica” entre México e EUA.
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Numa entrevista concedida na semana passada, o presidente do Senado do México, Gerardo Fernández, do partido de esquerda radical no poder, Morena, disse-me que “os investidores não têm nada a temer” em relação à reforma judicial.
Mas é fato que, independentemente do que digam as autoridades mexicanas, os investidores acreditam muito mais no que as agências de crédito e os meios de comunicação financeiros lhes dizem. O Wall Street Journal informou que a reforma judicial poderia fazer com que as multinacionais congelem cerca de US$ 35 bilhões em investimentos planejados no México.
Os convites de Sheinbaum a vários ditadores são difíceis de explicar: a presidente-eleita convidou os autocratas de Cuba, Venezuela e Rússia, mas não estendeu os convites ao rei da Espanha ou aos presidentes constitucionais do Equador e do Peru.
O presidente russo, Vladimir Putin, já disse que não poderá comparecer e enviará um alto funcionário em seu lugar. O ditador de Cuba, Miguel Díaz-Canel, pretende aceitar o convite, e o governante da Venezuela, Nicolás Maduro, ainda não confirmou sua presença, mas é possível que vá.
Sheinbaum não convidou o rei da Espanha, Felipe VI, porque ele não respondeu a uma carta de López Obrador de 2019, na qual o presidente mexicano exigia que a Espanha pedisse desculpas pelos crimes cometidos durante a Conquista. O governo espanhol respondeu que a exclusão do rei é “absolutamente inaceitável” e que não enviará nenhuma delegação oficial para a posse de Sheinbaum.
Faz sentido que Sheinbaum exclua o rei espanhol por queixas de 500 anos de idade e, ao mesmo tempo, dê boas-vindas com tapete vermelho aos ditadores de Cuba e Venezuela, que cometem graves violações dos direitos humanos hoje?
Claro que não. E, no entanto, Sheinbaum assumiu como se fosse sua a briga absurda de López Obrador com a Espanha, afirmando que a recusa espanhola em pedir desculpas por seus abusos durante a Conquista é uma ofensa ao povo mexicano.
Igualmente inconsistente, ou mais, é o fato de Sheinbaum não ter convidado os presidentes constitucionalmente eleitos do Equador e do Peru. López Obrador afirmou falsamente que eles não são legítimos, e Sheinbaum apoiou essa narrativa. Por mais difícil que lhe seja politicamente, ela deveria se distanciar do seu antecessor e se concentrar em atrair investimentos e reduzir a pobreza./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO.
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