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Opinião|Qual é o plano de Nicolás Maduro para se ater ao poder na Venezuela?

Ditador venezuelano segue duas estratégias: falsifica secretamente dados eleitorais para ter o que mostrar ao mundo e, se não funcionar, convocar novas eleições

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Foto do author Andrés Oppenheimer

Muitos se perguntam qual será a estratégia do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, para enfrentar a crescente indignação interna e internacional motivada por sua grotesca fraude eleitoral em 28 de julho. A resposta é muito simples: ganhar tempo e torcer para que o mundo se esqueça da Venezuela.

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A boa notícia é que o plano não está funcionando, porque a ameaça iminente de um novo êxodo em massa de venezuelanos vem criando pânico em todo o continente.

Mais de 7,7 milhões de venezuelanos já fugiram de seu país desde que Maduro chegou ao poder, em 2013, e pesquisas recentes sugerem que pelo menos mais 4 milhões partirão em breve se ele permanecer na função depois de ter roubado as eleições.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, em reunião de gabinete com o Conselho Nacional de Defesa em Caracas, na Venezuela Foto: Zurimar Campos/ Presidência Venezuelana / AFP

O novo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, convocou uma cúpula de presidentes latino-americanos para a terça-feira com objetivo de discutir a crise venezuelana. Ele disse que o encontro buscará estudar “mais ações que apoiem a democracia e a vontade popular nesse país irmão”.

O Panamá e outros seis países latino-americanos – incluindo Argentina, Peru, Equador e Uruguai – já reconheceram o candidato da oposição venezuelana, Edmundo González Urrutia, como o vencedor das eleições venezuelanas.

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Separadamente, os presidentes esquerdistas de Brasil, Colômbia e México pediram que Maduro publique atas eleitorais detalhadas que comprovem a sua suposta vitória, conforme exigido pela lei venezuelana.

Cópias das atas verificadas que foram divulgadas pela oposição e pesquisas de boca de urna mostram que González Urrutia venceu com 67% dos votos, contra 30% de Maduro.

Os Estados Unidos afirmaram que há provas contundentes de que González Urrutia venceu as eleições e pedem para Maduro negociar uma “transição democrática” de poder.

A desculpa que Maduro deu para não divulgar as atas de votação é uma suposta invasão hacker do sistema informático eleitoral, supostamente organizado pela líder opositora María Corina Machado e lançado a partir da “Macedônia do Norte”. Mas nenhum observador sério acredita nessa história.

Jennie Lincoln, que liderou a missão de especialistas eleitorais do Centro Carter na Venezuela, disse-me que o suposto ataque informático é uma “alegação falsa”.

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“Existem empresas na região que monitoram interrupções de serviços, e nenhuma relatou falha na Venezuela na noite das eleições”, disse-me Lincoln. “Qualquer referência a um suposto ataque informático é uma manobra do governo para desviar a atenção e evitar a publicação das atas.”

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Lincoln acrescentou que o Centro Carter e várias outras organizações analisaram os dados das atas verificadas que a oposição divulgou, “e elas mostram que a oposição venceu por uma margem de dois para um”.

O regime venezuelano passou a inventar novos truques para desviar a atenção do público da obrigação do Conselho Nacional Eleitoral de divulgar as atas esperando que outros acontecimentos mundiais, como as guerras no Oriente Médio, tirem a Venezuela das manchetes.

Entre outras coisas, Maduro solicitou uma auditoria do Supremo Tribunal de Justiça sobre as eleições, incluindo em relação ao suposto ataque informático. Uma investigação desse tipo, que não está prevista nas leis venezuelanas, poderia durar meses.

O ex-presidente colombiano Iván Duque me disse que o ditador venezuelano segue duas estratégias simultâneas: falsifica secretamente dados eleitorais para ter o que mostrar ao mundo e, se isso não funcionar, ordenará que o Supremo Tribunal de Justiça convoque novas eleições.

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Mas esta última opção é uma armadilha que poderia ser apoiada por Brasil, Colômbia e México para dar a Maduro um respiro político, disse-me Duque.

“Deveria haver uma transição de poder, não uma nova eleição”, afirmou o ex-presidente. “A comunidade internacional deve pressionar por uma saída negociada de Maduro em vez de permitir que ele permaneça no poder”.

De qualquer maneira, o plano de Maduro para tentar ganhar tempo e esperar que a sua fraude eleitoral seja esquecida pelo restante do mundo está fracassando. Sua fraude eleitoral é tão grosseira e a perspectiva de um novo êxodo de milhões de venezuelanos é tão real que América Latina, Europa e Washington provavelmente manterão a pressão por uma transição democrática na Venezuela./ TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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