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Opinião | Trump é imprevisível ou improvisa?

Mauricio Claver-Carone, ex-assessor sênior da Casa Branca para assuntos latino-americanos, afirma que a estratégia mais eficaz do presidente americano é incutir medo em seus adversários

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Foto do author Andrés Oppenheimer

O Enviado Especial para as Américas do governo do presidente Donald Trump pode ser acusado de várias coisas, mas ser tímido em suas declarações públicas não é uma delas.

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Mauricio Claver-Carone, 49 anos, nascido em Miami, filho de pais cubanos e ex-assessor sênior da Casa Branca para assuntos latino-americanos durante o primeiro mandato de Trump, me fez erguer as sobrancelhas várias vezes durante uma entrevista de uma hora na semana passada.

Quando perguntei a ele sobre o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) por Trump, ele sugeriu que o governo dos EUA não apenas revisasse seus programas de ajuda externa, mas também suas contribuições para organizações regionais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Donald Trump durante coletiva de imprensa na Casa Branca. Foto: Ludovic Marin/AP

Claver-Carone, que atuou como presidente do BID por cerca de dois anos, me disse que o principal banco regional de desenvolvimento “é uma farsa”. A maioria dos que trabalham lá o faz para se beneficiar de vistos dos EUA e boas pensões, em vez de ajudar a região, disse ele.

“E onde está o impacto e o que é ‘desenvolvimento’ hoje?”, pergunto. “Acho que precisamos reavaliar o desenvolvimento.”

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Claver-Carone foi forçado a deixar o BID em 2022 depois que uma investigação interna o acusou de ter um relacionamento romântico com uma colaboradora e de aumentar substancialmente seu salário. Ele negou qualquer irregularidade.

Quando questionado a respeito do México, Claver-Carone fez elogios surpreendentes à presidente esquerdista Claudia Sheinbaum. Falando da ameaça de Trump de impor uma tarifa de 25% ao México, que Trump justificou em parte alegando que há uma “aliança intolerável” entre o governo mexicano e os cartéis de drogas, Claver-Carone disse que Sheinbaum “mostrou ser uma grande líder” e que sua cooperação na questão da imigração foi “extraordinária”.

As palavras excepcionalmente gentis de Claver-Carone para Sheinbaum me levam a pensar que Trump talvez esteja preparando o terreno para adiar novamente a aplicação de suas tarifas ao México. Trump disse que as tarifas entrarão em vigor no início de março, a menos que o México aumente sua cooperação em questões de imigração e combate às drogas.

Em relação à Argentina, Claver-Carone não pareceu muito otimista quanto à proposta do presidente Javier Milei de assinar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Observando que Trump não é um grande fã de acordos de livre comércio, Claver-Carone me disse que “um acordo de promoção de investimentos (com a Argentina) é muito mais viável do que um acordo de livre comércio”.

Sobre a Venezuela, Claver-Carone questionou a percepção generalizada de que Trump traiu a oposição venezuelana e fez um acordo de troca de “deportados por petróleo” com o regime de Maduro.

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Trump revogou o Status de Proteção Temporária (TPS) contra a deportação de cerca de 600 mil imigrantes venezuelanos nos Estados Unidos e mandou seu enviado especial à Venezuela, Richard Grenell, para se encontrar com Maduro em Caracas. Após essa reunião, Maduro libertou vários reféns americanos e concordou em receber venezuelanos deportados.

Enquanto isso, contrariando as esperanças da oposição venezuelana de que Trump aumentaria as sanções econômicas à Venezuela, Trump não revogou a licença da petrolífera Chevron para exportar petróleo venezuelano.

“Não houve concessões (por parte dos Estados Unidos)”, disse-me Claver-Carone. Ele acrescentou que Maduro concordou com as exigências dos EUA de aceitar deportados e libertar reféns por medo de que Trump impusesse sanções econômicas drásticas, como fez durante seu primeiro mandato, se a Venezuela não cumprisse sua parte.

Segundo Claver-Carone, a estratégia mais eficaz do presidente americano é ser “imprevisível” e incutir medo em seus adversários.

“A pior coisa que pode acontecer é ser previsível”, disse ele. “Ser previsível ajuda outros jogadores a antecipar suas jogadas e fazer seus movimentos.”

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Depois da entrevista, não pude deixar de me perguntar se o governo Trump é deliberadamente imprevisível ou simplesmente finge sê-lo, para encobrir suas políticas erráticas. As declarações duras e contraditórias a respeito da Venezuela do Secretário de Estado Marco Rubio e as fotos do enviado de Trump, Grenell, apertando a mão de Maduro me fazem suspeitar que o caos reina na Casa Branca de Trump.

Mas este segundo governo Trump está apenas começando. Em breve saberemos melhor se sua característica mais notável é a imprevisibilidade ou a improvisação./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Opinião por Andrés Oppenheimer

Andrés Oppenheimer foi considerado pela revista Foreign Policy 'um dos 50 intelectuais latino-americanos mais influentes' do mundo. É colunista do The Miami Herald, apresentador do programa 'Oppenheimer Apresenta' na CNN em Espanhol, e autor de oito best-sellers. Sua coluna 'Informe Oppenheimer' é publicada regularmente em mais de 50 jornais

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