O presidente Donald Trump afirmou em seu recente discurso sobre o estado da União que os Estados Unidos estão vivendo “a maior e mais bem-sucedida era” de sua história. Perdoe-me pela má notícia, senhor presidente, mas as últimas pesquisas e um novo estudo sobre felicidade ao redor do mundo contam uma história muito diferente.
As pesquisas mais recentes da CNN e da Fox News mostram que uma maioria de 56% dos americanos desaprova a forma como Trump tem conduzido a economia, que é o principal tema para os eleitores neste país. As guerras comerciais de Trump e a queda do mercado de ações geram temores sobre uma recessão.
Ao mesmo tempo, o novo Relatório Mundial da Felicidade 2025 mostra que o nível de satisfação com a vida nos EUA continua diminuindo, como vem ocorrendo há mais de uma década. Tanto é verdade que os americanos de hoje são menos felizes do que — vejam só — os mexicanos.

O novo estudo, que mede os índices de felicidade em 147 países ao redor do mundo, descobriu que a Finlândia é o país mais feliz pelo oitavo ano consecutivo, seguida pela Dinamarca e vários outros países do norte da Europa.
Pela primeira vez desde que as pesquisas globais do instituto Gallup começaram a ser publicadas, em 2012, dois países latino-americanos apareceram entre as 10 nações mais felizes: a Costa Rica ficou em 6.º lugar e o México, em 10.º.
Em comparação, os EUA ficaram em 24.º lugar, significativamente abaixo do 11.º lugar de 2012. Mais abaixo no ranking de felicidade estão Brasil (36), Argentina (42), Chile (45), Colômbia (61) e Peru (65). Entre os países menos felizes do mundo está a Venezuela (82).
A maioria dos especialistas concorda que o nível de felicidade nos EUA está diminuindo devido ao isolamento social, especialmente entre jovens com menos de 30 anos. Os jovens americanos têm cada vez mais seguidores no Instagram, mas menos amigos na vida real. Muitos perderam a fé no sonho americano.
Os americanos também estão cada vez mais preocupados com seu futuro, pois robôs e inteligência artificial eliminam mais empregos e a polarização política aumenta o isolamento social.
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Em comparação, no México e em outros países latino-americanos as pessoas tendem a ter uma vida mais social. Muitos vivem em lares com quatro ou cinco parentes, e suas famílias são fonte de alegria e apoio.
“Na América Latina, a felicidade não se explica por fatores econômicos, mas pela força das relações humanas”, disse-me a professora Lina Gutiérrez, da Universidade ICESI, na Colômbia, e coautora do capítulo sobre a América Latina do Relatório Mundial da Felicidade.
No entanto, se os mexicanos são tão mais felizes que os americanos quanto o ranking indica, a pergunta sobre por que tantos mexicanos querem cruzar a fronteira para os EUA e não o contrário fica sem resposta.
O professor Mariano Rojas, do Instituto Tecnológico do México e outro coautor do capítulo sobre América Latina do estudo, disse-me que o número de mexicanos que cruzam a fronteira é muito pequeno se comparado aos 130 milhões de habitantes do país. Na verdade, há muito menos mexicanos cruzando a fronteira do que haitianos, cubanos ou venezuelanos.
“As pessoas não estão fugindo do México em massa”, disse-me Rojas. “A maioria fica aqui e é feliz, em parte por causa das relações calorosas que existem por aqui.”
De acordo com Rojas, a ascensão do México ao top 10 dos países mais felizes do mundo provavelmente não se deve ao fato de as coisas estarem muito melhores no México, mas aos EUA e vários outros países desenvolvidos terem caído no ranking.
Minha conclusão, depois de estudar a felicidade ao redor do mundo por vários anos e escrever um livro recentemente sobre o assunto, é que a antiga conclusão ainda é válida: países ricos são geralmente mais felizes do que os pobres, o que explica por que a Finlândia e outras nações europeias costumam liderar os rankings de felicidade.
Mas também é verdade que a prosperidade econômica é essencial, mas não suficiente: família, amigos e vida social são fatores-chave para aumentar a satisfação com a vida. Os casos da Costa Rica e do México são os melhores exemplos disso. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO