O mediador da ONU para o conflito na Síria, Kofi Annan, abandonou ontem seu apelo para que um cessar-fogo seja respeitado e passou a pedir que civis não sejam alvo de ataques do governo. A mudança de discurso representa um reconhecimento, ainda que indireto, de que o plano de paz negociado por ele há pouco mais de um mês não dá sinais de ser implementado e o objetivo, a partir de agora, seria limitar os danos colaterais de um confronto aberto no país.Ontem, segundo o Comitê de Coordenação Local, grupo dissidente com sede em Londres, 93 pessoas morreram em confrontos entre rebeldes e forças de segurança em todo o país. O número exato, no entanto, não foi confirmado por organizações independentes nem pela missão de observadores da ONU. As cidades de Homs e Haffa estariam cercadas por tropas do governo, que teria bombardeado ambas. Vários focos de fumaça negra podiam ser vistos ontem nos céus de Homs, um dos redutos dos rebeldes que lutam contra o regime de Bashar Assad.Annan alertou ontem que milhares de civis estão encurralados em cidades e povoados, presos em meio a combates entre rebeldes e as forças de segurança sírias. O enviado da ONU se recusa a declarar publicamente que seu plano de paz fracassou. No entanto, nos bastidores, diplomatas já consideram seu plano como parte de uma estratégia que não conseguiu acabar com a violência. Agora, segundo observadores, a meta é garantir que civis não sejam alvo de novos massacres.Ontem, Annan declarou que estava "profundamente preocupado" com a escalada da violência e dos combates, tanto por parte das "forças do governo como da oposição". Armamento pesado. Ahmad Fawzi, porta-voz de Annan, disse que o mediador e a ONU estão alarmados com as informações sobre os bombardeios aéreos contra Homs, principalmente diante da confirmação dos observadores da missão internacional de que helicópteros, tanques e morteiros estão sendo usados. "Há indicações de que um grande número de civis está preso em várias cidades", declarou Fawzi.Annan apelou para que todas as partes garantam que civis não sejam atingidos e pediu que os observadores da ONU tenham acesso "imediato" à cidade de Haffa, também afetada pelo conflito. Segundo uma militante ouvida pela France Presse "não há um só médico que cuide dos feridos na cidade" abandonada, segundo ela, pela maioria de seus 30 mil habitantes.
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