A líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado, e o diplomata Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória nas eleições de 28 de julho, participaram nesta terça-feira, 3, de um debate na Câmara dos Deputados, onde pediram mais ações do Brasil, especialmente no caso dos opositores asilados na embaixada da Argentina.
Maria Corina pediu a presença da embaixadora brasileira na Venezuela, Gilvânia Maria de Oliveira, na embaixada argentina, onde seis opositores membros de sua equipe estão asilados desde março. O Brasil assumiu a custódia da representação argentina em agosto depois que a delegação do país foi expulsa da Venezuela.
“Estamos há 10 dias sem luz na embaixada, onde não há água e onde estão sentindo toda a pressão e perseguição do regime, que está transformando a sede de uma embaixada em um centro de tortura psicológica e uma verdadeira prisão”, disse em sua participação virtual no Congresso. “Isso não tem precedentes.”
“Queremos pedir a vocês que falem muito e que solicitem à embaixadora do Brasil para que possa, por favor, apresentar-se na embaixada, demonstrando a preocupação e os exercícios dos direito que tem o Brasil neste tema”.
Desde o dia 28, a embaixada tem estado sob novo cerco de policiais do regime chavista. Os opositores asilados denunciam corte de energia e água nos últimos dias. A líder opositora também falou que sua mãe, de 84 anos, tem estado sob cerco de policiais chavistas. “Sirenes tocando muito alto, tentando intimidar a minha mãe e me intimidando também”.
Segundo ela, se não houver mudanças no cenário político da Venezuela e o ditador Nicolás Maduro não entregar o cargo em 10 de janeiro a Edmundo González Urrutia, milhões de migrantes deixarão a Venezuela novamente, muitos deles com destino ao Brasil. “Não fazem isso somente pela situação da Venezuela, mas também por falta de futuro”.
“É o momento de avançar para uma transição pacifica. Precisamos do Brasil, do seu povo, do seu governo e do seu Congresso. Tenham confiança que apesar da perseguição e da ameaça vamos avançar pacificamente para fazer valer a verdade”, concluiu.
O debate foi promovido após requerimentos do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e do deputado Lucas Redecker (PSDB-RS). Além dos líderes opositores participou também do jornalista venezuelano Eugenio Gonzalez Martínez.
Representantes do Centro Carter chegaram a ser convidados, mas alegaram conflitos de agenda para comparecer. Os legisladores também convidaram a Misión de Observación Electoral e o Instituto Atlas Intel, que não responderam.
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Edmundo González pediu ao Brasil para que faça mais pressão para que o regime de Nicolás Maduro dê salvo-conduto aos seis asilados para que deixem o país. “O que o Brasil pode fazer em sua condição de garantidor dos interesses argentinos? Pressionar o regime de Nicolás Maduro para que ele ortogue o salvo-conduto para as seis pessoas venezuelanas que estão ali.”
“Também é importante aumentar a pressão nas instâncias internacionais como a OEA, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ONU”, continuou. Ele também defendeu que a pressão para que o regime permita a presença permanente de diplomatas brasileiros na representação argentina.
O governo brasileiro não reconheceu a vitória declarada de Maduro, pois o Conselho Nacional Eleitoral nunca publicou as atas que provassem o resultado. A oposição, no entanto, juntou cerca de 85% das atas, que foram postas a escrutínios da imprensa, observadores internacionais e entidades não vinculadas aos partidos políticos da Venezuela, todas atestando sua veracidade.
Os documentos apontariam uma vitória de Edmundo González com mais de 60%, algo que o governo brasileiro de Luiz Inácio Lula da Silva também não reconheceu. Em 25 de novembro, o opositor Gustavo Silva foi a Brasília levando o que disse ser uma amostra das atas originais.
No debate no Congresso, o jornalista Eugenio Martínez apresentou uma ata, com logos do Conselho Nacional Eleitoral, dizendo que o documento prova que os dados dos resultados existem, só não foram oficializados. “A não publicação foi resultado de uma ação coordenada”, disse.
A sessão contou apenas com participação de deputados da oposição ao governo do PT, entre eles o deputado General Girão e a deputada Carla Zambelli, ambos do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O presidente do debate, o deputado Lucas Redecker, disse que membros do Congresso foram convidados pela oposição para serem observadores na Venezuela em 28 de julho, mas não obtiveram autorização para ir. “A comissão encaminhou ofícios para a embaixada da Venezuela aqui no Brasil e nós não tivemos retornos, consequentemente não conseguimos montar essa missão internacional”.
Ele pediu para que o governo brasileiro não compareça ao evento de posse de Nicolás Maduro caso ela ocorra em 10 de janeiro, “nem por meio da embaixada”.
Em agosto, o assessor especial da presidência, Celso Amorim, foi chamado ao Senado para explicar a sua atuação como representante do governo Lula na mediação da crise política na Venezuela. Por iniciativa da oposição, Amorim teve de dar satisfações aos senadores sobre a condução de negociações após a suspeita de fraude eleitoral.
A relação entre o governo petista e a ditadura chavista desandou recentemente depois que o Brasil vetou a adesão da Venezuela como país parceiro do Brics na cúpula de Kazan, na Rússia. Em novembro, Lula afirmou em uma entrevista televisiva que Maduro era um “problema” da Venezuela e não do Brasil, uma declaração que o presidente venezuelano recebeu de forma positiva, afirmando estar “de acordo” com o colega brasileiro.
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