WASHINGTON - Mesmo diante da pandemia de coronavírus, o Partido Democrata realiza nesta terça-feira, 17, primárias em três Estados: Flórida, Arizona e Illinois. Em Ohio, que faria a quarta prévia do dia, o governador Mike DeWine ordenou o fechamento dos locais de votação, contrariando uma decisão da Justiça que dizia que o pleito deveria seguir normalmente.
DeWine, que é republicano, afirmou que a diretora de saúde do estado, Dra. Amy Acton, havia emitido o pedido com base em preocupações de que o surto de coronavírus colocasse eleitores e trabalhadores em risco em potencial.
O anúncio do cancelamento das eleições foi feito poucas horas depois que o juiz Richard A. Frye, do Tribunal de Comuns do Condado de Franklin, rejeitou o pedido do estado de adiar a votação para 2 de junho. Ohio já registra 50 casos de coronavírus, segundo dados oficiais.
"Durante esse período em que enfrentamos uma crise de saúde pública sem precedentes, a realização de uma eleição amanhã forçaria os trabalhadores e eleitores a se colocarem em um risco inaceitável para a saúde de contrair o vírus da coronavírus", disse DeWine.
O Estado da Geórgia já remarcou suas primárias para o dia 24 de março. A Louisiana, para o dia 4 de abril. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendou o cancelamento de todos os eventos com mais de 50 indivíduos. Na segunda-feira, 16, autoridades americanas pediram para que a população evite reuniões com mais de 10 pessoas.
O coronavírus já afetou a campanha eleitoral americana. No domingo, o senador Bernie Sanders e o ex-vice-presidente Joe Biden realizaram um debate a portas fechadas. Durante o enfrentamento, os dois prometeram escolher uma mulher como vice-presidente. Na segunda-feira, ambos optaram por eventos virtuais, sem contato com os eleitores.
Em princípio, analistas acreditam que a pandemia poderia afetar mais diretamente a campanha de Biden, que tem um apoio muito maior entre os eleitores mais velhos, grupo de risco que talvez se sinta ameaçado pelo coronavírus e não compareça hoje às urnas. Sanders, cuja base é composta por jovens, seria beneficiado. No entanto, nos quatro Estados existe votação antecipada, que tem batido recorde nesta temporada de primárias.
No Arizona, que tem 16 casos confirmados de coronavírus, a metade dos eleitores já votou. Em Phoenix, cerca de 80% das seções de votação foram fechadas, seja por falta de mesários ou de material de limpeza para higienizar os locais. Por isso, o governo do Estado autorizou que os eleitores votem em qualquer seção – e não apenas na mais perto de casa.
Em Chicago, maior cidade de Illinois, o número de pessoas que votou antecipadamente foi o maior desde a 2.ª Guerra. O Estado já tem 93 casos confirmado de coronavírus e alterou 168 dos 2.069 locais de votação, que foram retirados das proximidades de asilos para idosos. Todas as mudanças poderiam atenuar a desvantagem de Biden, que lidera as pesquisas em todos os quatro Estados.
Na Flórida, o quadro parece mais grave. Com 155 casos confirmados, 5 pessoas já morreram. Os números da votação antecipada são fracos e cerca de 20% da população está acima dos 65 anos. O governador republicano Ron DeSantis declarou estado de emergência e trocou locais de votação, para afastar as seções eleitorais de setores da população mais vulneráveis.
O Estado também enfrenta escassez de voluntários. Em Palm Beach, das 3,5 mil pessoas que trabalham nas 435 seções do condado, 650 disseram que não aparecerão nos locais de votação hoje, o que pode significar atrasos e longas filas. “Eu não tenho ideia de como serão as coisas”, disse Wendy Sartory Link, que supervisiona as eleições em Palm Beach, o segundo maior dos 67 condados do Estado.
A situação caótica e a incerteza embaralham ainda mais a disputa democrata em um momento decisivo. Biden mantém uma vantagem de 151 delegados sobre Sanders. O placar atual seria de 894 a 743, segundo estimativa da Associated Press – 1.991 delegados são necessários para obter a nomeação do partido.
Sanders precisa, portanto, de vitórias decisivas sobre o rival nas primárias que ainda restam, um resultado que vem sendo cada vez mais improvável. Em condições normais, com vitórias devastadoras de Biden, segundo pesquisas, as prévias de hoje significariam o último suspiro de sua candidatura. No entanto, agora tudo parece possível.
“O coronavírus vem afetando cadeias de suprimentos globais, derrubando mercados e estimulando países a fecharem suas portas para isolar suas populações. Seria muita arrogância pensar que a campanha presidencial americana ficasse imune a esse caos”, disse Joe Trippi, estrategista democrata. /WP, NYT, AP e REUTERS
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