Após críticas, Departamento de Estado dos EUA apaga texto sobre resort de Trump na Flórida

Especialistas e políticos democratas acusaram o presidente de promover interesses particulares com mensagem sobre Mar-a-Lago em blog que deveria compartilhar 'histórias interessantes e imagens que suscitem debates'

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Por Redação

WASHINGTON - O Departamento de Estado removeu de um de seus sites uma publicação que promovia o resort Mar-a-Lago, propriedade particular do presidente Donald Trump na Flórida, após uma série de críticas e questionamentos sobre um possível episódio de falta de ética.

O texto, publicado no dia 4 de abril e, depois, reproduzido por páginas das embaixadas americanas em vários países, descrevia Mar-a-Lago como "a propriedade da Trump na Flórida" onde ele recebeu líderes estrangeiros. "Ao visitar esta 'Casa Branca de Inverno', Trump está cumprindo tardiamente o sonho da proprietária e designer original de Mar-a-Lago."

Texto sobre Mar-a-Lago produzido pelo Departamento de Estado foi criticado após ser compartilhado nos sites das embaixadas americanas Foto: Reprodução/UK.USEMBASSY.GOV

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A mensagem não deixava claro, porém, que o resort é parte do império de negócios construído pelo magnata antes de chegar à Casa Branca. O texto também não revelava que após a vitória de Trump na eleição de 2016 a taxa de associação de Mar-a-Lago dobrou, chegando a US$ 200 mil. Desde que foi empossado, em 20 de janeiro, Trump já visitou a propriedade sete vezes. Além disso, todas as vezes que ele está na cidade, os restaurante do resort tem taxa de ocupação e procura acima do normal.

Na noite de segunda-feira, o Departamento de Estado afirmou que sua intenção era "informar ao público sobre (o local) onde o presidente havia recebido líderes mundiais" e se desculpou por "qualquer percepção errada" que o texto possa ter passado - esta mensagem, agora, substitui a publicação original.

A Casa Branca não comentou o caso e também não respondeu quando questionada sobre sua participação na publicação original ou na decisão de removê-la.

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A mensagem foi originalmente compartilhada no blog "Share America", um projeto do Departamento de Estado. Em sua descrição, o site diz que sua missão é "compartilhar histórias interessantes e imagens que suscitem discussão e debate sobre temas importantes como democracia, liberdade de expressão, inovação, empreendedorismo, educação e o papel da sociedade civil".

Entre os outros assuntos já abordados pelo site estão uma nova moeda em homenagem a Frederick Douglass, o debate sobre a bandeira confederada e notícias sobre a participação da primeira-dama, Melania Trump, na cerimônia de premiação internacional Mulheres da Coragem, organizada pelo Departamento de Estado.

O texto sobre Mar-a-Lago, publicado há quase três semanas, ganhou destaque na segunda-feira depois que a embaixada americano no Reino Unido o replicou em seu site. O senador democrata Ron Wyden, eleito pelo Oregon, usou sua conta no Twitter para questionar se o dinheiro do contribuinte americano estava sendo usado para "promover o clube privado do presidente" e se referiu ao caso como um episódio de "cleptocracia".

Norman Eisen, que era o principal advogado especializado em ética do ex-presidente Barack Obama, afirmou que o caso se trata de "exploração". Ele comparou o texto sobre Mar-a-Lago com a promoção feita pela conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, das roupas de Ivanka Trump, situação na qual ela foi "aconselhada", mas não repreendida pela Casa Branca.

"Esta ideia de usar o governo para ganhos privados está se espalhando", disse Eisen. "Isso é algo que tem que parar."

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Pelo Twitter, Richard Painter, que ocupou um cargo sobre atuações éticas nos governos de George W. Bush, disse que o texto publicado pelo Departamento de Estado foi "um uso de órgãos públicos para obter vantagens particulares"

Eisen, Painter e outros advogados abriram um processo contra Trump alegando violação da "cláusula de emolumentos" da Constituição dos Estados Unidos. Essa disposição diz que o presidente não pode aceitar presentes ou pagamentos estrangeiros sem o consentimento do Congresso. / AP