Após mortes, Ortega enfrenta protestos por fim de autoritarismo na Nicarágua

Manifestações começaram no dia 18, contra reforma da previdência, mas aumentaram em razão da repressão que deixou 31 mortos, e agora ameaçam governo do ex-guerrilheiro, que está há 11 anos no poder

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Por Redação

MANÁGUA - O que começou como uma insatisfação generalizada contra a reforma da previdência na Nicarágua tornou-se uma manifestação nacional contra a repressão do governo do presidente Daniel Ortega, há 11 anos no poder. Os protestos, que começaram na semana passada, já deixaram 31 mortos – incluindo estudantes e jornalistas. 

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Daniel Ortega disse que"temos de restabelecer a ordem. Não podemos permitir que aqui se imponha o caos, o crime, o saque" Foto: EFE/Paolo Aguilar

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A crise começou com o projeto do governo de tentar reformar o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). De acordo com a mudança, a contribuição dos trabalhadores passaria de 6,25 para 7% a partir de julho. A cota dos patrões subiria de 19% para 21% – e aumentaria gradualmente até chegar a 22,5%, em 2020. A reforma foi criticada por todos os setores: empresários, especialistas e trabalhadores. 

A maior reclamação é que as medidas não evitariam a falência do sistema de segurança social, aumentariam o desemprego, a informalidade e diminuiriam o consumo, a competitividade dos produtos nacionais e o clima geral de negócios. Diante da pressão, Ortega recuou e revogou a reforma no domingo. 

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No entanto, a brutal repressão da polícia resultou no assassinato de um jornalista que cobria as manifestações na cidade de Bluefields – ele recebeu um disparo na cabeça durante uma transmissão ao vivo pelo Facebook – e na morte de quatro estudantes da Universidade Politécnica da Nicarágua (Unipoli), executados por policiais dentro do câmpus. Os protestos se intensificaram, em vez de diminuírem. 

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Na terça-feira, 24, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu uma investigação “transparente” sobre os assassinatos, muitos dos quais poderiam ser “execuções ilegais”. “As pessoas estão pedindo nas ruas democracia, liberdade, eleições livres, um governo transparente e um Estado de direito”, afirmou Norman Caldera, ex-chanceler do país. O governo confirmou nesta terça-feira, 24, que dezenas de presos foram libertados e garantiu que o sinal de uma TV, que havia sido bloqueado, já estava restabelecido. 

Ortega, de 72 anos, líder da revolução de 1979 que pretendia redimir os oprimidos, governa a Nicarágua ao lado de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, poetisa de 66 anos que exagera no uso de pulseiras e lenços. O casal tem um poder quase absoluto. 

Os estudantes que desde o dia 18 ocupam as ruas questionam a rigidez do governo. Ortega e Rosario mantêm controle sobre todas as instituições do Estado: Exército, polícia, Congresso e tribunal eleitoral. Seus antigos aliados o acusam de minar os ideais sandinistas, de autoritarismo e nepotismo – seus oito filhos são donos ou diretores de estatais e alguns ocupam cargos públicos.

“Na década de 80, Ortega era parte de um projeto de mudança revolucionária, agora é um capitalista amante do poder, dedicado a aumentar seus privilégios, sua fortuna”, disse a ex-guerrilheira Mónica Baltodano, que deixou a FSLN em 2000. “Ele defende o poder com os mesmos métodos da ditadura de Somoza.”

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Os aliados descrevem Ortega como um homem pragmático e político hábil, protegido por líderes da esquerda latino-americana, como Nicolás Maduro, Raúl Castro e Evo Morales. Sua imagem, porém, vem se deteriorando desde as acusações de abuso sexual, feitas em 1998 por sua enteada, Zoila América, atualmente exilada na Costa Rica.

O rosto público do governo, no entanto, é o de Rosario, mãe de nove filhos, sete deles com Ortega. Ela nasceu na capital e formou-se como educadora na Universidade Autônoma de Manágua. Na juventude, integrou um movimento de artistas e poetas contra a ditadura. Depois, aderiu à FSLN, quando conheceu Ortega. Durante os protestos, foi ela que mostrou o rosto em nome do governo – pelo menos até Ortega dar as caras no domingo, para revogar a reforma. / REUTERS, AFP e AP