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Após vitória na Itália, apoio à Rússia é primeiro teste de coalizão de direita de Giorgia Meloni

Entre confirmação da vitória nas urnas e começo do novo governo, liderança precisa confirmar alianças da campanha no Parlamento

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Por Redação

A líder da direita radical italiana, Giorgia Meloni, deu início nesta segunda-feira, 26, às negociações para formar uma coalizão de governo depois da ampla vitória da coalizão de direita nas eleições do domingo, 25. Apesar de favorável, o cenário não é de todo certo para a líder do Fratelli D’Italia. Ela terá de articular com Matteo Salvini, da Liga, e Silvio Berlusconi, do Forza Italia o desenho de seu gabinete de ministros e superar eventuais diferenças com os dois aliados, sobretudo no que diz respeito ao papel da Itália no apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia.

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Segundo o Ministério do Interior Italiano, a coalizão de direita conquistou cerca de 44% dos votos válidos. A aliança de centro-esquerda liderada pelo Partido Democrático, com 26%, e o antissistema Movimento 5 Estrelas, com 15%, completam a lista dos mais votados.

O porcentual de votos é suficiente para garantir à coalizão um número de acentos majoritário tanto na Câmara quanto no Senado italiano, o que significa que a direita será capaz de formar governo sem a necessidade de ampliar sua aliança ou negociar com outros partidos. Em contrapartida, a diferença não deve ser suficiente para o grupo conseguir a sonhada maioria de dois terços no Parlamento, o que permitiria fazer alterações na Constituição sem o consentimento da oposição.

De toda forma, a estabilidade da coalizão dependerá fundamentalmente da habilidade de Meloni em manter seus aliados satisfeitos. E um dos focos de desacordo mais latentes é a Rússia.

“Gerenciar a coalizão do governo não será fácil. De um lado, está Matteo Salvini, o líder efervescente da Liga. Ressentido com a ascensão de Meloni - que veio às suas custas - e inflexivelmente pró-Putin, ele pode causar problemas sem fim. Do outro, Silvio Berlusconi, que já avisou seus sócios que o Forza Italia ‘vai romper com o governo se for preciso’”, escreveu Mattia Ferraresi, editora-chefe do jornal italiano Domani.


Giorgia Meloni deposita voto na urna em seção eleitoral de Roma no domingo, 25. Foto: Gianni Cipriano/The New York Times

Apoio à Ucrânia

Como líder da oposição ao governo do primeiro-ministro Mario Draghi, Meloni, criticou tudo, desde requisitos de vacinas até projetos orçamentários. Mas na questão da Ucrânia, talvez a mais importante para o governo, ela criticou inequivocamente a invasão. Recentemente, disse que continuaria a fornecer armas italianas aos ucranianos.

O mesmo não pode ser dito dos parceiros da coalizão de Meloni, que admiram profundamente o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e muitas vezes soam como seus defensores. Poucos dias antes da votação, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que já foi o melhor amigo de Putin entre os líderes da Europa Ocidental, afirmou que “Putin foi pressionado pela população russa, por seu partido e por seus ministros a inventar essa operação especial”.

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Salvini, por sua vez, é tão próximo da Rússia que frequentemente tem de rejeitar acusações de que recebeu dinheiro de Moscou. Recentemente, o líder da Liga duvidou da sabedoria de sanções à Rússia, que segundo ele prejudicam a Itália mais do que o governo de Putin.

Um futuro de tensões

Analistas acreditam que a resolução dessas tensões internas sobre a Rússia dentro da coalizão de Meloni serão um fator-chave no sucesso do apoio europeu à Ucrânia. Se Meloni vacilar, especialmente nas sanções contra Putin, a unidade europeia contra a guerra pode se desfazer. Mas a votação discreta de Salvini e Berlusconi, ambos abaixo dos 10%, pode dar margem de manobra a Meloni.

“Duvido muito de que Meloni mudará de posição sobre a Rússia. A posição dela sobre isso é muito firme”, diz Natalia Tocci, diretora do Instituto de Assuntos Internacionais de Roma.

Em Moscou, no entanto, o tom foi de otimismo após a vitória da coalizão de direita. “Estamos prontos para trabalhar com qualquer força política que possa se mostrar mais construtiva em suas relações com a Rússia”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, após os resultados das eleições italianas.

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Ao contrário de outros políticos da direita radical, Meloni, pelas suas origens pós-fascistas, vê a Rússia como uma força hostil descendente da guerra fria, que ameaça as identidades da Europa Ocidental. Durante a campanha, ela ficou feliz em apontar essa diferença com seus parceiros de coalizão, e isso a ajudou a tranquilizar o Ocidente quanto à sua credibilidade.

Nas próximas semanas, o presidente Sergio Mattarella deve realizar consultas com os líderes partidários para descobrir quais forças políticas estão dispostas a se unir em uma coalizão.

Só depois de ouvir as lideranças o presidente aponta quem está incumbido de formar o novo governo. Enquanto isso, Mario Draghi continua ocupando o cargo interinamente

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Resistência da União Europeia

As críticas de Meloni e de seus aliados colocou em alerta autoridades europeias, que demonstraram preocupação com o futuro da terceira economia do bloco, principalmente com a formação de uma possível aliança com países como Hungria e Polônia, que travam debates no âmbito da União Europeia com suas posições iliberais.

“Eles viram como Orbán pode ser disruptivo de um país pequeno sem papel sistêmico na UE. Meloni diz que não vai derrubar imediatamente o consenso sobre a Ucrânia, mas pode ser uma força para uma forma muito mais virulenta de euroceticismo nas reuniões do conselho”, disse Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores,

Pouco antes da eleição, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deixou transparecer a apreensão do bloco com a possível eleição de Meloni. Von der Leyen alertou que Bruxelas tinha “as ferramentas” para lidar com a Itália se as coisas fossem em uma “direção difícil” - afirmação que foi recebida como um sinal de que o país poderia ser cortado de fundos do bloco se fosse houvesse algum fato considerado violação dos padrões democráticos do bloco.

À época, Salvini respondeu classificou a fala da presidente como “arrogância vergonhosa” e questionou se a declaração se tratava de uma ameaça. “Respeite o voto livre, democrático e soberano do povo italiano”, disse o líder da Liga à von der Leyen./ W.POST, NYT, AP e AFP

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