Friedrich Merz, da União Democrática Cristã (CDU), partido conservador tradicional, venceu as eleições federais na Alemanha neste domingo, 23. Com as urnas de todos os 299 distritos apurados, o partido de Merz conseguiu 28,5% dos votos, seguido pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), com 20,8%, e o Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, que ficou em terceiro com 16,4%. Com estes números, a AfD alcança o melhor resultado para a extrema direita alemã desde a 2ª Guerra Mundial.
Merz declarou vitória após os resultados de boca de urna e o chanceler Olaf Scholz também já concedeu a derrota. O líder da CDU confirmou o favoritismo previsto nos resultados de boca de urna e também nas pesquisas de opinião antes da eleição, que colocavam seu partido na dianteira, seguido pela AfD e pelo SPD.
A grande fatia de votos recebida pelo Alternativa para a Alemanha deve prejudicar as negociações para a formação de um governo, já que todos os principais partidos do país se recusam a formar uma coalizão com a AfD — uma estratégia criada desde o fim da 2ª Guerra para impedir o retorno de extremistas ao poder após a derrota do nazismo.
Apesar de descartar formar um governo com a AfD, Merz já mostrou que pode dialogar com o partido. No começo do mês, o então líder da oposição conseguiu a aprovação de uma moção no Parlamento alemão com o apoio da legenda de extrema direita. A moção não vinculativa no parlamento pedia que a Alemanha barrasse mais imigrantes nas fronteiras.

Durante a campanha, Merz prometeu reduzir impostos e regulamentações para empresas e construir novos reatores nucleares para reduzir os custos de energia. O político também afirmou que irá reformar o sistema migratório do país, uma demanda da maioria da população por conta de diversos ataques terroristas cometidos por requerentes de asilo.
Ele irá substituir Olaf Scholz, que está no cargo de chanceler desde dezembro de 2021. No cargo mais alto da Alemanha, Scholz lançou um esforço para modernizar as Forças Armadas da Alemanha após a invasão da Ucrânia e fez do país o segundo maior fornecedor de armas da Kiev. Mas seu governo caiu após debates sobre como revitalizar a economia da Alemanha.
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Formação de governo
Ainda não está claro como será o governo de Merz. Ele deve se juntar com o Partido Social-Democrata (SPD), de Scholz, e pode precisar de um segundo partido para formar a coalizão. Os Verdes podem entrar na coalizão ou o BSW, de esquerda.
Em discurso para os apoiadores, Merz se declarou vitorioso e ressaltou a necessidade de estabelecer um governo viável na Alemanha. “Estou ciente da responsabilidade”, disse Merz. “Também estou ciente da escala da tarefa que temos pela frente. Abordo isso com o maior respeito e sei que não será fácil.”

A líder do AfD, Alice Weidel, afirmou que a legenda de extrema direita está “aberta a negociações de coligação” com o partido de Merz. Mas o líder do CDU não deseja formar uma coalizão com a AfD.
Weidel afirmou que uma coalizão de Merz com o SPD e os Verdes será “instável”. “Se essa for a coalizão, o governo não durará quatro anos e Merz será um chanceler interino. Eventualmente nos passaremos a CDU nas urnas”.
Papel da Alemanha na UE
A vitória de Merz ocorre em um período frágil para a União Europeia (UE), em meio a ameaça de tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e negociações de Trump com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para o fim da guerra na Ucrânia. Até agora, Kiev e Bruxelas não estiveram na mesa de negociação e os europeus temem que o republicano feche um acordo com Moscou sem consultá-los.
Na semana passada, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D Vance, chocou os líderes europeus ao afirmar que a maior ameaça à segurança mundial não era uma guerra com a Rússia ou a China, mas a supressão da liberdade de expressão, em uma crítica às medidas adotadas pelos europeus para conter a disseminação de discurso de ódio nas redes sociais.

Em um discurso na Conferência de Segurança de Munique, Vance frustrou os líderes europeus que esperavam que ele elaborasse os planos de Washington para uma série de temas como a Otan e a guerra na Ucrânia. Vance fez coro às críticas de partidos como a Alternativa para a Alemanha, o Reform UK no Reino Unido, a Frente Nacional francesa, além dos espanhóis do Vox e os portugueses do Chega, sobre supostos excessos no combate à disseminação de notícias falsas e conteúdos racistas.
O presidente da França, Emmanuel Macron, já parabenizou Merz pela vitória e afirmou que Paris e Berlim irão “trabalhar por uma Europa forte”. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também parabenizou Merz. “Parabéns a Friedrich Merz pela vitória eleitoral de hoje na Alemanha. Estamos ansiosos para trabalhar com você neste momento crucial para nossa segurança compartilhada. É vital que a Europa intensifique os gastos com defesa e a sua liderança será fundamental”, apontou Rutte, em um comunicado.
Já o presidente americano Donald Trump afirmou que a vitória dos conservadores nas eleições federais foi um “grande dia para a Alemanha e para os Estados Unidos”. “Assim como nos Estados Unidos, as pessoas na Alemanha se cansaram da agenda sem bom senso, especialmente em energia e imigração, que permaneceu por tantos anos”, disse Trump em uma publicação em sua plataforma Truth Social.
Quem é Friedrich Merz?
Friedrich Merz, de 69 anos, enriqueceu no setor privado como advogado e lobista. Ele foi eleito pela primeira vez para o Parlamento Europeu em 1989 e depois para o Parlamento Alemão em 1994, mas saiu da política por discordar dos rumos da CDU sob a direção da ex-chanceler Angela Merkel.
Ele é considerado o oposto da ex-chanceler e só retornou à vida política quando ela estava prestes a se aposentar. Merz foi eleito em 2021 no Parlamento Alemão e conquistou a liderança do partido em 2022. O político conseguiu unir a legenda à sua volta e direcionou o partido para uma postura mais conservadora.
Como chanceler, Merz é considerado um nome melhor para lidar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O político tem ideias de política externa mais alinhadas com a retórica de Trump sobre a necessidade de aumentar a responsabilidade da Europa em sua própria defesa. Ainda assim, Merz – que é conhecido por ser assertivo e direto– rejeitou fortemente os últimos comentários de Trump em que o republicano apoia a Rússia e culpa a Ucrânia pelo início da guerra.

A ousadia é a característica que melhor define Merz, segundo analistas, e reflete a convicção de que a Alemanha deve estar mais envolvida nos assuntos europeus e globais. Merz prometeu conquistar um papel alemão mais proeminente dentro da União Europeia e da Otan, procurar melhorar as relações com a França e a Polônia e assumir uma posição mais dura contra a China, que descreveu como um membro do “eixo das autocracias”.
Ele também prometeu um apoio mais direto à Ucrânia contra a Rússia – dizendo, por exemplo, que forneceria mísseis de cruzeiro de longo alcance a Kiev. Merz também prometeu que a Alemanha irá superar a meta atual de gastar 2% do PIB em defesa./com NYT