RIAD - O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, apresentou este semana os planos de seu projeto de uma megacidade futurista, que se estenderá por 170 km e abrigará dois arranha-céus espelhados. A cidade, chamada de Neom, faz parte de seu projeto Vision 2030 de modernização e diversificação da economia do país, atualmente muito dependente da exportação de petróleo.
Chamados de “A Linha”, os dois arranha-céus terão 500 metros de altura e formarão o centro da cidade sobre o Mar Vermelho, um projeto de várias centenas de bilhões de dólares. As estruturas são planejadas para serem paralelas, em uma imensa linha reta até o Mar Vermelho, onde tudo o que seus moradores precisam estará “a cinco minutos a pé”.
Com seus táxis voadores e robôs domésticos, a cidade deu muito o que falar desde seu primeiro anúncio em 2017, mas arquitetos e economistas questionaram sua viabilidade.
Inicialmente, Neom se autodenominava um “Vale do Silício” regional, um centro de biotecnologia e de tecnologia digital com 26.500 km².
Mas na apresentação de “A Linha” na noite da última segunda-feira, 25, o príncipe herdeiro esboçou uma visão mais ambiciosa, descrevendo uma cidade utópica sem carros, a mais habitável “em todo planeta”.
A ideia é repensar a vida urbana em uma área de apenas 34 Km² e “responder à crise de habitação e ambiental”, acrescentou, levantando mais uma vez o ceticismo entre alguns especialistas.
“O conceito evoluiu tanto desde sua concepção inicial que às vezes é difícil determinar sua direção”, diz Robert Mogielnicki, do Arab Gulf States Institute, em Washington.
As autoridades mencionaram no passado a quantia de um milhão de habitantes em Neom. O príncipe herdeiro estabeleceu agora o limite em 1,2 milhão de habitantes em 2030, e 9 milhões, em 2045, apostando em um boom demográfico necessário, segundo ele, para tornar a Arábia Saudita uma potência econômica capaz de competir em todos os setores.
Com a cidade, o reino espera atrair mais estrangeiros para morar na Arábia Saudita. Em escala nacional, a meta é chegar a 100 milhões de habitantes em 2040, “cerca de 30 milhões de sauditas e 70 milhões, ou mais, de estrangeiros”, contra cerca de 34 milhões de habitantes hoje, declarou Mohammed Bin Salman.
“O principal interesse da construção de Neom é aumentar a capacidade demográfica da Arábia Saudita. E já que estamos fazendo isso do zero, por que copiar cidades normais?”, detalhou.
Satisfazer todas as necessidades diárias
Com uma largura de apenas 200 metros, “A Linha” deve responder à expansão urbana descontrolada e ambientalmente prejudicial, sobrepondo casas, escolas e parques, segundo o modelo de “urbanismo de gravidade zero”.
Os moradores terão acesso a “todas as suas necessidades diárias” em cinco minutos a pé, além de outras facilidades como pistas de esqui ao ar livre e “um trem de alta velocidade com uma viagem de 20 minutos de ponta a ponta da cidade”, de acordo com o comunicado de imprensa divulgado na segunda-feira.
Neom também deve ser regida por uma lei própria, que está em processo de elaboração, mas as autoridades sauditas já afirmaram que não pretendem suspender a proibição do álcool imposta.
Outro desafio é cumprir as promessas de proteger o meio ambiente do país, que se comprometeu – sem convencer os defensores do meio ambiente – a alcançar a neutralidade do carbono até 2060.
De acordo com um vídeo promocional divulgado na segunda-feira, o local será totalmente alimentado por energia renovável e contará com “um microclima ameno durante todo ano, com ventilação natural”.
Neom está bem posicionada para se beneficiar da energia solar e eólica e a cidade deve abrigar a maior usina de hidrogênio verde do mundo, diz Torbjorn Soltvedt, da consultoria Verisk Maplecroft. “Mas a viabilidade da cidade como um todo não é clara, dada a escala e o custo sem precedentes do projeto”.
O custo da primeira fase, que vai até 2030, é estimado em 1,2 trilhão de riais sauditas (em torno de R$ 1,7 trilhão), segundo o príncipe herdeiro. Além dos subsídios do governo, espera-se que o financiamento venha do setor privado e da oferta pública inicial de Neom prevista para 2024.
O financiamento continua sendo um desafio potencial, embora o contexto atual, marcado pela alta dos preços do petróleo, seja mais favorável ao reino do que durante a pandemia da covid-19.
De qualquer modo, “o financiamento é apenas uma parte da equação”, enfatiza Robert Mogielnicki. “A demanda é mais difícil de comprar, especialmente quando as pessoas estão sendo convidadas a participar de uma experiência sobre a vida e o trabalho no futuro”./AFP
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