MAR DEL PLATA, ARGENTINA - O governo da Argentina reconheceu neste domingo, 18, que “não há meios técnicos ou recursos” para retirar o submarino ARA San Juan do oceano. Ele foi encontrado na sexta-feira, 16, após um ano e um dia de buscas, em uma área de cânions marítimos, a 907 metros de profundidade. A admissão da impossibilidade frustrou algumas das famílias dos 44 tripulantes que tinham esperanças de recuperar os corpos dos seus parentes.
“Eu não vou criar a expectativa de que se pode desencalhar o submarino, porque não pode”, disse o ministro da Defesa da Argentina, Oscar Aguad, à Rádio Mitre. “Não temos meios nem recursos para resgatá-lo. Aliás, não deve existir no mundo tecnologia capaz de trazer à superfície uma massa de 1.300 toneladas presa a 907 metros de profundidade.”
As palavras do ministro revoltaram parentes das vítimas que aguardaram 367 dias por informações. Luis Tagliapietra, pai do tenente de corveta Alejandro Tagliapietra, um dos tripulantes do San Juan, resumiu em uma mensagem divulgada pelos meios de comunicação os sentimentos das famílias. “Não tenho palavras para descrever, sinto uma profunda dor e angústia, mas, ao mesmo tempo, sabemos onde estão e é o primeiro passo para saber a verdade e o que aconteceu”, declarou.
A juíza federal encarregada da investigação, Marta Yáñez, também afirmou que não pretende pedir a remoção do submarino. “Estamos falando de um barco que pesa 2.500 toneladas com água, então não vou arriscar perder vidas humanas para resgatá-lo”, disse neste domingo, 18.
Ela pretende analisar, com peritos, todas as imagens registradas pelo navio Seabed Constructor, da empresa americana Ocean Infinity, que localizou o submarino. “São 67 mil fotografias e filmes que serão enviados nos próximos dias para análise”, disse. A partir das análises, a ideia é criar uma maquete em solo que possa auxiliar no trabalho de investigação sobre o que levou ao acidente. Para a juíza, só se justifica tentar retirar o submarino do fundo do mar se for essencial para determinar o que aconteceu há um ano.
“Se com o que conseguirmos reconstruir com as imagens e vídeos, entendermos que existe a necessidade de retirar o submarino da água, seria preciso um estudo para corroborar se é factível economicamente e tecnicamente”, acrescentou a juíza ao jornal La Nación.
A empresa informou que levaria entre quatro e cinco dias para analisar as 67 mil imagens e entregar o relatório final da descoberta com análise de especialistas, conforme estabelecido no contrato. “As imagens precisas do submarino serão prova no processo, e garantem um grau muito mais alto de certeza sobre o que aconteceu e quais as causas do acidente do que com depoimentos de pessoas que não estavam no local e suporte documental”, explicou Marta.
Ao jornal Clarín, ela afirmou que vai começar a chamar os parentes da tripulação para depoimentos, e já tem evidências das causas do acidente, deixando em aberto a possibilidade de negligência.
Quase 80 depoimentos já foram colhidos no caso, entre eles os de ex-tripulantes e autoridades da Marinha. “Em julho de 2017, quatro meses antes da última viagem, o submarino havia tido um incidente parecido com a válvula do snorkel. É preciso determinar se isso ocorreu de novo”, afirmou a juíza Marta.
O desaparecimento do submarino ARA San Juan
O último contato com o submarino ocorreu em 15 de novembro, quando ele navegava no Golfo de São Jorge, a 450 km da costa. Ele voltava de Ushuaia, no extremo sul da Argentina, e se dirigia para Mar del Plata. Segundo uma comissão investigadora criada pelo Ministério da Defesa, uma série de eventos, alguns simultâneos e outros em sequência, levaram à implosão do submarino. Tudo teria começado com um incêndio no tanque de bateria localizado na proa. O incidente foi causado pela entrada de água através do snorkel, na noite anterior ao naufrágio. O fogo forçou a ARA San Juan a emergir, à noite e no meio de uma tempestade.
Controlar o incidente, tirar a fumaça e o hidrogênio pode ter levado horas, no escuro e com clima hostil. Segundo o relatório, a tripulação do San Juan decidiu submergir a 40 metros de profundidade com a intenção de seguir para Mar del Plata escapando das ondas.Segundo o relatório dos especialistas do Ministério da Defesa, a tripulação ele acumulou "desgaste físico e psicológico" por ter estado nessa situação a noite toda.
Em algum momento, o fogo teria reaparecido. Novamente no escuro, com a tripulação cansada, o fogo teria se alastrado e provocado falha no sistema de comando e de direção do submarino. A embarcação teria ido a pique para o fundo. A morte da tripulação teria sido imediata - e por isso não teriam pedido ajuda. A explosão detectada, na verdade, teria sido a implosão do submarino, provocado pela pressão da água sobre o casco ao exceder 720 metros de profundidade./ AFP e REUTERS
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.