BUENOS AIRES - O governo de Javier Milei na Argentina anunciou que vai modificar vários artigos de sua Lei de Educação para punir o que chamou de “doutrinação nas escolas”, conforme anunciou nesta quinta-feira, 4, o porta-voz do Executivo, Manuel Adorni. A decisão foi tomada após uma polêmica envolvendo o discurso de uma docente no aniversário da guerra das Malvinas.
“Será disponibilizado um canal para que pais e alunos possam denunciar a doutrinação e a atividade política que não respeita a liberdade de expressão”, acrescentou o porta-voz. Adorni afirmou que esse canal permitirá que pais e alunos “denunciem quando não sentirem que seu direito à educação está sendo respeitado”.
“Ficamos tristes ao ver conteúdos nas salas de aula ou em eventos escolares tingidos de militância”, declarou.
O porta-voz referiu-se a um vídeo postado nas redes sociais no qual, durante um evento por ocasião do Dia dos Veteranos e dos Mortos na Guerra das Malvinas, comemorado em 2 de abril, quando uma professora expressou opiniões sobre a atual situação política na Argentina, provocando reclamações de vários ex-combatentes presentes.
“A mídia convenceu a sociedade de que ir à guerra era bom e necessário”, disse a professora Soledad Reyes no início de seu discurso na Escola Secundária Número 4 de Verónica, no distrito de Punta Indio, em Buenos Aires. De acordo com o jornal Clarín, os veteranos ali presente consideraram suas declarações uma ofensa e abandonaram o evento mais cedo.
O anúncio do governo coincide com uma greve de professores no país, que aconteceu nesta quinta-feira e foi convocada pela Confederação dos Trabalhadores da Educação da República Argentina (CTERA). A greve se seguiu a uma paralisação dos servidores público ontem, em protesto à demissão de milhares de funcionários promovida por Milei.
O sindicato dos professores está reivindicando o restabelecimento do Fundo Nacional de Incentivo Docente, a defesa das aposentadorias dos trabalhadores do setor e o aumento do financiamento para a educação no país.
Leia mais
Adorni foi muito crítico em relação à greve, lembrando que os sindicatos de professores não realizaram nenhuma ação semelhante em 2023, quando o peronista Alberto Fernández governava o país.
O porta-voz também reclamou dos “atrasos e interrupções” que esse tipo de ação acarreta para o calendário escolar na Argentina, onde as aulas começaram no início de março. “Que futuro resta a um país devastado se aqueles que vão liderá-lo são reféns de sindicalistas que os usam para negociar seus privilégios?”, questionou.
Em discurso no dia do aniversário de 42 anos da guerra, Milei reforçou o discurso nacional que reivindica a soberania das ilhas, mas mudou o tom com relação aos militares. O presidente apelou aos argentinos para que se reconciliem com as Forças Armadas que, em 1982, durante a ditadura, declararam guerra ao Reino Unido pelo controle do arquipélago.
Milei é a favor de modificar o papel das Forças Armadas na Argentina, submetida a escrutínio após o fim de sua última ditadura militar. O libertário também defende um revisionismo histórico do período, o que inclui uma revisão do número de mortos e desaparecidos./Com EFE
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.