A Justiça da Argentina determinou nesta quinta-feira, 11, que o atentado à bomba contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em 1994, o mais mortal da história do país, foi planejado e ordenado pelo Irã e executado pelo grupo libanês Hezbollah. O atentado em Buenos Aires matou 85 pessoas e feriu 300, devastando a maior comunidade judaica da América Latina.
O Tribunal de Cassação da Argentina disse que o ataque ocorreu em retaliação pela Argentina ter renegado um acordo de cooperação nuclear com Teerã. Alegando o papel “político e estratégico” do Irã no atentado, o tribunal argentino abriu caminho para que as famílias das vítimas instaurassem ações judiciais contra a República Islâmica. Nas últimas três décadas, o Irã não entregou cidadãos condenados na Argentina. Os mandados de prisão da Interpol não levaram a lugar nenhum.
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A decisão do tribunal não foi nenhuma surpresa, embora não tenha sido fornecido provas concretas do envolvimento direto do Irã ou ter lançado uma nova luz sobre o caso, após 30 anos de reveses. O poder judicial da Argentina há muito tempo sustenta que o Irã esteve por trás do ataque, esfriando as relações entre os países — especialmente após o colapso de uma investigação conjunta. O Irã negou envolvimento.
O tribunal destacou altos funcionários iranianos e comandantes paramilitares da Guarda Revolucionária na determinação de que o Irã executou os bombardeios em resposta ao cancelamento de três contratos pela Argentina que teriam fornecido tecnologia nuclear a Teerã em meados da década de 1980. As conclusões foram baseados em relatórios confidenciais de inteligência.
A Argentina sofreu dois atentados graves, ambos em Buenos Aires: em 1992, contra a sede da embaixada israelense, que causou 29 mortes, e em 1994 contra o prédio da Amia, o pior da história argentina, que deixou 85 mortos. A decisão de 711 páginas examina o contexto geopolítico de ambos os ataques e determina que a sua motivação, embora não tenha sido a única, respondeu à política externa do então presidente Carlos Menem (1989-1999).
Investigações anteriores sobre os atentados resultaram em acusações, não apenas contra autoridades iranianas, mas também contra dois ex-presidentes argentinos. Em 2015, o promotor-chefe do caso foi misteriosamente encontrado morto em seu banheiro, um dia antes de ir a público com alegações de que altas autoridades argentinas conspiraram com o Irã para encobrir a responsabilidade pelo atentado. Ao longo dos anos, testemunhas foram ameaçadas e subornadas.
A decisão de quinta-feira ocorre poucos meses antes do 30º aniversário do evento. Apesar de o caso estar paralisado há anos, as autoridades argentinas programaram grandes anúncios para coincidir com os aniversários do ataque sangrento. Ao completar 25 anos do ataque, a Argentina designou o Hezbollah como organização terrorista e congelou os ativos financeiros do grupo.
À luz da decisão do tribunal, Israel pediu à Argentina que declarasse a Guarda Revolucionária uma organização terrorista. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, disse em comunicado nesta sexta-feira, 12, que entrou em contato com sua contraparte na Argentina, Diana Mondino, para entregar o pedido. Os dois conversaram na noite de quinta-feira, disse Katz.
Representantes da comunidade judaica da Argentina, onde vivem cerca de 230 mil judeus, elogiaram a decisão judicial de quinta-feira como “histórica e única na Argentina”.
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