O presidente da China, Xi Jinping, enviou uma mensagem de felicitação a Javier Milei pela vitória na eleição argentina e expressou sua disposição a trabalhar com ele para “impulsionar a amizade e a cooperação entre os dois países”. Como reação, o líder argentino respondeu publicamente em tom conciliatório, contrastando com a retórica demonstrada em relação a Pequim durante a sua campanha.
Xi destacou em sua mensagem que a cooperação prática em diversos campos “trouxe benefícios tangíveis aos dois povos”. “Dou um grande valor ao desenvolvimento das relações entre China e Argentina e estou disposto a trabalhar com Milei para impulsionar o desenvolvimento e o rejuvenescimento de ambos os países mediante a cooperação”, escreveu na carta enviada na terça-feira, 21.
Milei publicou uma imagem da tradução da carta enviada pelo líder chinês na rede social X (antigo Twitter). “Agradeço ao Presidente Xi Jinping as felicitações e votos de felicidades que me enviou através da sua carta”, respondeu. “Envio-lhes os meus mais sinceros votos de bem-estar do povo da China”, acrescentou.
As relações entre a China e a Argentina não passam por bons momentos. Durante sua campanha, Milei chegou comparar o governo chinês a um “assassino” e declarou que o povo chinês “não é livre”. O economista que se autoproclama libertário também afirmou que queria encerrar as relações comerciais com o gigante asiático por motivos fundamentalmente ideológicos. “Não fazemos pactos com comunistas”, disse Milei.
O presidente eleito também se opôs à entrada da Argentina no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), conseguida este ano sob o mandato do atual presidente, Alberto Fernández.
Mas o encontro com a realidade econômica do seu país, vista desde dentro do governo, pode frear os impulsos do recém-eleito presidente. Segundo dados oficiais da Argentina, no ano passado, as exportações para a China atingiram a cifra expressiva de mais de US$ 8 bilhões, enquanto as importações alcançaram a marca de US$ 17 bilhões.
Além desse notável desempenho comercial, empresas chinesas possuem uma ampla influência nas indústrias de infraestrutura e mineração no país sul-americano, e na segunda metade deste ano Pequim consolidou sua posição como credor da Casa Rosada ao oferecer créditos de swap em yuan - recursos imprescindíveis para os argentinos e que foram direcionados para saldar obrigações como o empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras pendências oficiais. Este intricado relacionamento financeiro entre as duas nações destaca a crescente interdependência e a relevância estratégica dessa parceria econômica.
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A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse na segunda-feira que Pequim quer “trabalhar com a Argentina para continuar a amizade” entre os dois países e para uma “cooperação onde todos ganham”.
“A China sempre atribuiu grande importância ao desenvolvimento das relações entre a China e a Argentina, numa perspectiva estratégica e de longo prazo”, afirmou. Mao lembrou que “a China é o segundo maior parceiro comercial da Argentina e o principal mercado de exportação de seus produtos agrícolas”.
Pequim e Buenos Aires mantiveram boas relações nos últimos anos: a Argentina aderiu no ano passado à Iniciativa do Cinturão e Rota, principal iniciativa econômica internacional da China para consolidar sua influência por meio de infraestrutura, embora ainda não esteja claro se o país continuará fazendo parte disso na nova gestão.
Em outubro, a Argentina foi um dos países convidados no recente fórum sobre a Nova Rota da Seda promovido pela China - programa massivo de investimentos e infraestrutura que reflete a ambiciosa busca de Xi Jinping novos aliados globais que impulsionem o crescimento da nação na corrida econômica para superar aos EUA como superpotência.
No evento, realizado Pequim, o presidente Alberto Fernández, que se despede da Casa Rosada, elogiou a China e qualificou a nação como “irmã”. Fernández ainda lembrou a importância do apoio financeiro fornecido pela China em momentos desafiadores, durante as negociações com o FMI. “[O país] veio em nosso auxílio financeiro quando a pressão do Fundo Monetário Internacional nos colocou em xeque”, disse ele em um discurso.
Relações com o Brasil
Brasil é o segundo maior aliado comercial da Argentina, depois do gigante asiático. Contudo, as relações entre Buenos Aires e Brasília foram bastante conturbadas nos últimos meses. O líder da coalizão A Liberdade Avança já chamou o petista de “corrupto” e também negou ter disposição para se encontrar com Lula após vencer nas eleições contra Sérgio Massa.
Durante a campanha, Milei recebeu apoio do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e do filho Eduardo, que foi a Buenos Aires no primeiro turno. Enquanto marqueteiros do presidente Lula prestaram apoio ao ministro da Economia argentino durante sua campanha.
Com a vitória de Milei, Lula desejou “sorte e êxito ao novo governo” e acrescentou que o “Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”, mas não mencionou o nome do libertário. Mas o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, afirmou nesta segunda-feira, 20, que o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, deveria ‘pedir desculpa’ ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por tê-lo ofendido de “forma gratuita”.
Recentemente, o tom de Milei e sua equipe parece ter mudado. A futura chanceler da Argentina, Diana Mondino, declarou que gostaria que o Presidente Lula viesse para a cerimônia. “Vamos convidar Lula para vir à posse”, disse ela. O evento oficial deve ocorrer em 10 de dezembro. Diana Mondino complementou afirmando que “o Brasil e a Argentina sempre estiveram juntos e sempre trabalharão juntos”.
Já nesta quarta-feira, 22, em uma entrevista a um canal de TV local, Milei afirmou que “se Lula vier, será muito bem-vindo”./EFE e AFP.
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