Argentina realiza debate em meio a disputa acirrada entre Sergio Massa e Javier Milei

Analistas dizem que debate será decisivo para atrair eleitores indecisos em um cenário de empate técnico entre os dois candidatos

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Foto do author Carolina Marins
Atualização:

Os candidatos à presidência da Argentina, o peronista Sergio Massa e o libertário Javier Milei, protagonizarão neste domingo, 12, o único debate antes do segundo turno de 19 de novembro. Com um cenário tão incerto, em que a disputa promete ser voto a voto, este será um debate essencial para atrair o eleitor indeciso, segundo analistas.

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Marcado para às 21h deste domingo (horário de Brasília) na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA), o debate colocará frente a frente os dois candidatos que tem explorado o medo do eleitor em suas campanhas.

Toda esta segunda fase das campanhas tem sido baseada no medo: a de Massa, o temor do que representa uma novidade política com ideias explosivas como o libertário. Já Javier Milei tem explorado o medo do desastre econômico e social que representa a continuidade do peronismo na figura de Sergio Massa, ministro da Economia.

O destaque do segundo turno tem sido as peças publicitárias produzidas por marqueteiros brasileiros ligados ao PT, que associam uma vitória de Milei a armas e fim de direitos.

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Os candidatos Sergio Massa e Javier Milei se cumprimentam durante o primeiro debate do primeiro turno em 1º de outubro em Santiago del Estero Foto: Tomas F. Cuesta/AP

Massa aposta no medo de que Milei seja a anarquia completa e instabilidade, já Milei aposta no medo de que a Argentina continue no mesmo caminho que a colocou em uma crise econômica infinita e uma possível futura crise de segurança.

“O medo é a emoção que joga nessas eleições. São campanhas de medo versus medo. Há também uma esperança, e nesse sentido Milei desperta mais esperança em seu eleitorado do que Massa, mas definitivamente não é essa a emoção preponderante”, aponta o cientista político Pablo Touzon.

“E são medos diferentes. Milei desperta o medo à anarquia enquanto Massa desperta o medo à hegemonia; Massa é visto como um homem obcecado pelo poder. A questão é ver que medo se impõe mais”, completa.

As estratégias

Não à toa Milei tem apostado em peças com o mote “liberdade ou kirchnerismo”. Ele absorveu o lema de “mudança” que trazia a coalizão Juntos pela Mudança que agora apoia o libertário por meio das lideranças de Patricia Bullrich e Mauricio Macri contra a continuidade dos governos de Alberto Fernández e Cristina Kirchner - esta última personagem ativa de seus programas. “Essa eleição é sobre se mudamos ou se mantemos no poder os mesmos que nos arruinaram a vida”, diz sua última peça de campanha.

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Já Massa utiliza das próprias falas de Milei para produzir sua publicidade, citando a manutenção da saúde e educação públicas, “uma Argentina sem armas” e sem venda de órgãos. “Vem uma Argentina com o coração tão grande que jamais venderia seus órgãos”, diz o último spot. Em seu mote, sua presidência seria uma estabilidade e “algo que se espera”, enquanto o adversário seria a surpresa desconhecida.

O peronista também tem apostado em utilizar as relações da Argentina com o Brasil, tanto em suas propagandas quanto em declarações à imprensa. Ele bate na tecla de que Milei pretende romper os laços, o que, em suas palavras, seria um desastre para os empregos na Argentina.

O libertário não fala exatamente de romper relações, mas é a favor de não existir uma atuação do Estado nesse fluxo comercial, defendendo que os empresários dialoguem diretamente uns com os outros. As recentes declarações de Milei sobre Lula, em que o chamou de “comunista”, também viraram munição de campanha.

“O principal dilema para o eleitor é se Massa conseguirá ser presidente sem ter a tutela de Cristina [Kirchner], a exemplo do que vivemos nos últimos quatro anos, um presidente que precisa pedir permissão para tudo. Uma presidência tutelada”, afirma o cientista político da Universidade Católica Argentina Fabian Calle.

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“Enquanto pelo lado de Milei preocupa se ele vai conseguir governar, se vai conseguir controlar as ruas, enfrentar todos os setores ou se vão querer derrubá-lo. Acho que isso preocupa muita gente indecisa, que no fim vão decidir essas eleições”, continua.

Na última quarta-feira, 8, ocorreu o debate entre os candidatos a vice-presidente: Agustin Rossi pela coalizão de Massa e Victoria Villarruel pela lista de Milei. Os dois subiram o tom em vários momentos, um clima que deve ser uma prévia do que será o deste domingo. A libertária focou em expor os erros da gestão peronista, enquanto Rossi apostou na pauta dos direitos humanos.

Já para o domingo, de acordo com os jornais argentinos, a estratégia de Massa será tentar trazer a tona o lado mais descontrolado de Milei, que lhe rendeu o apelido de “el loco”, enquanto o libertário deve bater na tecla da inflação.

Os candidatos a vice, Agustin Rossi e Victoria Villarruel, durante debate no canal TN Foto: Luis Ronayo/AFP

Os temas, determinados pela Câmara Nacional Eleitoral serão: Economia, as relações da Argentina com o mundo, educação e saúde, produção e trabalho, segurança e Direitos Humanos e coexistência democrática.

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O impacto dos debates

Historicamente, os debates não costumam mudar o humor do eleitor de forma contundente, segundo análises feitas pelo Observatório Pulsar da UBA. No caso dos primeiros turnos, eles ajudam a alavancar candidatos menores, como ocorreu com Juan Schiaretti e Myriam Bregman que se tornaram mais conhecidos nacionalmente, e ajudam a traçar quais são as linhas linhas ideológicas em disputa.

Em um estudo conduzido em 2019, durante a disputa entre Mauricio Macri e Alberto Fernández, o observatório notou que os debates presidenciais serviram para motivar o eleitorado a conhecer as propostas dos candidatos e decidir ir votar, mas os impactos acabavam sendo marginais, com a maioria do eleitorado já decidido. Além disso, a disputa se concentrava em duas linhas tradicionais, o peronismo e o macrismo.

Mas agora, com o cenário de empate técnico entre os candidatos, o impacto tende a ser mais significativo. Os debates do primeiro turno já mostraram que esta eleição seria diferente e que a exposição televisiva poderia ter um papel maior. Em vez de duas linhas principais, haviam três, com Patricia Bullrich também em jogo, e às vezes com a disputa do mesmo eleitorado.

Debate presidencial do primeiro turno em 8 de outubro na UBA, Buenos Aires Foto: Agustin Marcarian/AP

“Em ambientes mais disputados, é mais provável que as mudanças de preferências gerem impacto nas posições dos candidatos”, explicou Facundo Cruz, coordenador geral do Observatório Pulsar.

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Agora, a expectativa é de que a audiência seja recorde, superando a anterior. “Acredito que vai ser um debate importante. O anterior teve muita audiência, mais de 4 milhões de público, alguns falam até 5 milhões. Esse com certeza vai ter igual ou mais, e em uma eleição tão disputada como essa, até decisivo”, afirma Calle. “Em geral os debates não movem muito o amperímetro na Argentina, mas frente à séria dúvida que tem a população, uma porcentagem pequena, mas decisiva pode afetar sim”.

As últimas pesquisas de intenção de votos consolidam um cenário de empate técnico entre os candidatos, com Milei liderando a maioria deles. Em praticamente todos os cenários, cujas diferenças variam de dois a quatro pontos percentuais, a disputa será voto a voto e a decisão caberá a quem está indeciso e deixou para escolher no último minuto.

O site La Politica Online, que faz um agrupamento das pesquisas eleitorais e tira uma média delas, indica que Sergio Massa possui uma média de votos de 43%, com seu mínimo variando de 36,46% para 49,49%. Já Milei tem em média 43,8% das intenções de voto, com uma variação de 35,48% até 52,14%.

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