Argentina realiza eleições primárias com peronismo em baixa, oposição dividida e Milei como 3ª força

As PASO deste domingo pretendem definir os candidatos de cada coalizão para as eleições gerais de outubro; Sergio Massa, Horacio Larreta, Patricia Bullrich e Javier Milei são os principais nomes

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Foto do author Carolina Marins

Os argentinos vão às urnas neste domingo, 13, para as eleições primárias, que devem definir o cenário para as eleições gerais de 22 de outubro. Chamadas de PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), essa fase serve para definir quem vai disputar a eleição por cada coalizão.

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Com um cenário que já mudou várias vezes desde o início do ano, analistas são cautelosos em fazer previsões. Pelo governismo, Sergio Massa chega como o candidato do peronismo e é uma vitória certa.

A oposição, na coalizão Juntos pela Mudança, está dividida, com dois candidatados igualmente competitivos após uma série de brigas internas tanto no pleito nacional quanto na disputa em províncias.

Enquanto isso, o libertário Javier Milei, do A Liberdade Avança, que surpreendeu crescendo nas pesquisas e consolidando como terceira força, convive com um teto de votos.

Nas eleições deste ano, os argentinos votam para presidente e vice-presidente do país, além de 24 senadores em uma renovação de um terço do Senado e 130 deputados nacionais para renovação de metade da Câmara dos Deputados. Quem vencer as disputas internas das prévias deste domingo, 13, vai para a disputa nacional de 22 de outubro.

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Caso nenhum presidenciável atinja 45% dos votos válidos ou ultrapasse 40% com mais de 10 pontos de diferença do segundo colocado, haverá segundo turno no dia 19 de novembro entre os dois candidatos mais votados. Pesquisas sugerem que há grandes chances de segundo turno.

Quem são os pré-candidatos

Há muitas candidaturas e coalizões. Ao todo, 27 duplas de presidente e vice-presidente vão para a disputa dentro de 15 partidos ou alianças. Mas apenas três são mais competitivas: a peronista União pela Pátria (UP), a oposição Juntos pela Mudança (JxC) e a libertária A Liberdade Avança (LLA).

Pela UP, há duas listas concorrendo: o atual ministro da Economia, Sergio Massa, cujo vice é o chefe de Gabinete, Agustín Rossi; e Juan Grabois, cuja vice é a socióloga Paula Abal Medina. No entanto, Massa recebeu o apoio oficial do peronismo, incluindo da vice-presidente, Cristina Kirchner, e deve capturar quase todos os votos dos eleitores.

O candidato peronista Sergio Massa e a vice-presidente Cristina Kirchner são fotografados juntos em um simulador de voo em 17 de junho de 2023 Foto: Charo Larisgoitia/Vice-presidência argentina via Reuters

A grande disputa, e a mais imprevisível, estará na oposição, o JxC. Os eleitores terão de decidir entre dois candidatos altamente competitivos: o atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich. Há pesquisas que colocam Larreta a frente para vencer, enquanto outras mostram um cenário mais favorável a Bullrich.

Seja quem for o vencedor da coalizão oposicionista, as pesquisas apontam que será o candidato mais provável a ir para um segundo turno, ou contra Massa ou contra Milei.

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Por fim, o libertário Javier Milei e sua vice Victoria Villarruel, conhecida por defender uma revisão histórica da ditadura argentina, serão os únicos candidatos da sua coalizão e são uma certeza para outubro.

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“Acredito que esta eleição tem dois componentes predominantes, que não são os únicos: o voto econômico, ou voto de bolso, que não vai ser um voto pensando em quem vai ser o presidente que vai resolver os problemas macroeconômicos da Argentina, mas sim quem vai resolver o meu problema econômico e o da minha família”, afirma ao Estadão Ana Paola Zuban, cientista política e diretora da consultoria de pesquisas eleitorais Zuban Córdoba. “O outro componente vai ser o voto castigo, mais voltado ao governo.”

Massa e a economia

O clima para as eleições não poderia ser pior para o governo. Com uma popularidade de menos de 30%, o atual presidente Alberto Fernández desistiu de tentar a reeleição - embora ainda possa, se quiser. Sua vice Cristina Kirchner, que já havia dito em 2022 que não seria candidata em meio a casos de corrupção na Justiça, era considerada como a opção mais competitiva do UP até o último segundo.

Com uma inflação de 115%, ao ano, o dólar blue - câmbio paralelo que mais circula no país - já tendo ultrapassando a barreira dos 500 pesos, e em meio à negociação da dívida com o FMI, a candidatura governista parecia derrapar.

Além disso, havia disputas internas entre vários possíveis pré-candidatos. Mas o peronismo conseguiu dar uma virada no cenário ao se unir em torno de Massa - a ponto de mudar o nome da coalizão de Frente de Todos para União pela Pátria, sugerindo que não havia brigas.

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O ministro da Economia e pré-candidato do Unidos pela Pátria, Sergio Massa Foto: Juan Mabromata/AFP

Sendo a economia o grande tema destas eleições, era arriscado lançar o ministro que prometeu conter os preços e não conseguiu. Mas a candidatura de Massa vingou, a ponto de animar o setor financeiro, que o vê como um peronista moderado e com capacidade de conversar com o FMI. Logo após a definição de sua candidatura, as pesquisas eleitorais começaram a mostrá-lo como o candidato com maior número de votos - ainda que sua coalizão fique atrás da oposição.

“O peronismo ´pode ter um resultado eleitoral que dê fôlego para o primeiro turno e depois para ir ao segundo turno”, afirma Facundo Cruz, cientista político e analistas de dados do Centro de Investigação para a Qualidade Democrática (CICad, na sigla em espanhol), “A candidatura principal, de Sergio Massa, busca isso. Ele foi definido em virtude das qualidades que tem como líder e a capacidade que tem de conseguir um bom resultado eleitoral em um cenário de muita adversidade.”

Oposição dividida

Frente ao sentimento de cansaço e rejeição do eleitorado ao governo, a oposição parecia ter caminho fácil para vencer essas eleições, sugeriam analistas desde o começo do ano. Mas as brigas internas, em que ao menos quatro grandes nomes eram cotados, pulverizavam os votos. Além de Bullrich e Larreta, María Eugenia Vidal e o ex-presidente Mauricio Macri despontavam como opções.

Depois de muitas disputas e trocas de acusações, a definição ficou entre os dois atuais. Nas sondagens, o Juntos pela Mudança é a coalizão que recebe mais intenção de votos, mas seus eleitores estão divididos. Vidal, que é ex-governadora de Buenos Aires, declarou apoio a Larreta, prometendo impulsionar sua candidatura. Mas Macri, que lidera a coalizão, preferiu não declarar voto até o momento.

O prefeito de Buenos Aires e pré-candidato pelo Juntos pela Mudança, Horacio Rodríguez Larreta  Foto: Juan Mabromata/AFP

Larreta tende a atrair um eleitorado mais tradicional da direita argentina, ligado à centro-direita tradicional e ao estilo Maurício Macri. Porém, o ex-presidente - que não conseguiu se reeleger em 2019 - também amarga um baixa aprovação e sua decisão de não declarar apoio pode ser uma estratégia para evitar que essa impopularidade grude no apadrinhado.

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Enquanto isso, Bullrich, embora seja de uma das famílias mais tradicionais da política argentina, tem capturado um eleitorado mais desacreditado nos atores políticos tradicionais. Seu discurso de oposição forte ao governo de esquerda e ao desastre econômico da gestão Fernández não se radicalizou a ponto de ser considerado exremista. Sua experiência em segurança também lhe deu pontos extras em um tema que começa se tornar uma questão entre os argentinos, principalmente em províncias dominadas pelo narcotráfico.

“O grande desafio que tem o Juntos pela Mudança é mostrar para o eleitorado que estão unidos e podem ficar unidos independentemente de quem ganhe”, afirma Cruz. “Se o JxC tem interesse em voltar para a Casa Rosada, quem perder terá que acompanhar quem ganhar e o espaço que for dado ao perdedor será chave.”

A ex-ministra da Segurança e pré-candidata do Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich Foto: Juan Mabromata/AFP

A novidade Milei

Desconhecido na política até 2021, mas uma voz ativa na imprensa argentina, o economista Javier Milei surpreendeu ao sair de uma baixa posição nas pesquisas para uma terceira opção viável. Antes do fechamento das listas, em junho, algumas pesquisas o colocaram a frente dos demais, e analistas começaram a se perguntar quais eram as chances de ele se tornar o novo presidente da Argentina.

As sondagens, porém, parecem ter atingido um teto, com o candidato estacionado em 20% ou menos. Escândalos de venda de candidaturas chegaram a abalar por um tempo a sua imagem, derrubando esses números, mas logo ele se recuperou e ainda tem chances de ir para o segundo turno, a depender de quão desacreditado o eleitor argentino está.

O deputado e pré-candidato pela A Liberdade Avança, Javier Milei Foto: Juan Mabromata/AFP

Milei captura um eleitorado que já não confia em seus políticos tradicionais e acredita que existe uma “casta política” que pensa apenas em si própria. Ele personifica o populismo anti-establishment de direita que tanto sucesso fez recentemente. O diploma de economista também dá confiança no eleitorado que quer ver o seu poder de compra voltar. Mas outros economistas são céticos quanto aos planos de Milei para a pasta, como a ideia de dolarizar a Argentina.

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“Para além das análises que alguns colegas fizeram, acho que pelo menos ainda não conseguimos verificar nos estudos de opinião que há uma queda vertiginosa na intenção de votos em Milei, que é o partido libertário de extrema direita”, avalia Ana Paola Zuban. “Acho que pelo menos nas PASO o ‘voto bronca’ será canalizado através do voto a Javier Milei e que mais tarde nas eleições gerais pode haver uma mudança para expressões mais moderadas.”

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