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Os Hermanos

'Capitán del Espacio', alfajor low profile, é bastião do anti-marketing

A sociedade argentina é plena de antagonismos. Um dos poucos consensos existentes é o alfajor, quitute de origem árabe (o "al-hasú") com um touch espanhol que transformou-se no principal doce de consumo dos argentinos.

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Por arielpalacios
Atualização:

Segundo pesquisas, quase todos os argentinos apreciam este doce de linhas simples. Do total, um quarto da população inexoravelmente come alfajores todos os dias. A cada jornada, 9 milhões de alfajores são devorados pelos argentinos.

A unanimidade, no entanto, somente predomina sobre seu conceito geral. Na hora de discutir as nuances, os argentinos voltam ao antagonismos. Motivos para o debate culinário existem de sobra, pois existe uma miríade de sub-espécies de alfajores, que vão desde a cobertura de chocolate negro, passando pelo branco, açúcar de confeiteiro e o alfajor de maizena. Existem marcas produzidas por grandes indústrias, pequenas e médias, além de alfajores artesanais, que em vez do recheio de doce de leite optam por doces de frutas da Patagônia e de outras regiões do país.

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ORTODOXO E RETRO - Mas, esta ampla variedade dos tipos de alfajores - e até o surgimento de alguns alfajores quadrados (para horror dos conservadores) - foi derrotada pela ortodoxia hiper-fundamentalista do "Capitán del Espacio", vencedor no ano passado do Campeonato Mundial dos Alfajores, organizado por um bloggers argentinos.

O "Capitán del Espacio" - com apenas dois sabores - derrotou os populares alfajores "Jorgito" e os refinados "Havanna" (estes últimos, segundo o quituteirólogo inglês Neville Reid, 'se algum dia você for para o céu, com certeza haverá alfajores Havanna ali'). Os "Havanna" agora contam com um rival, o também requintado "El Cachafaz".

Low profile, o "Capitán del Espacio" transformou-se em "cult" nos últimos anos. Ele é produzido no município de Quilmes, na zona sul Grande Buenos Aires (município que é famoso há mais de um século pela cerveja Quilmes, que desde a virada do século é propriedade da AmBev). No entanto, apesar do sucesso do produto, a empresa não possui interesse em vender o "Capitán del Espacio" na cidade de Buenos Aires, o maior mercado consumidor do país.

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BASTIÃO DO ANTI-MARKETING - Os donos da empresa atendem - com sua máxima capacidade - a demanda da área Quilmes e estão satisfeitos com isso, descartando qualquer espécie de ampliação de suas instalações para atender os insistentes pedidos provenientes da capital argentina. Quiosques em Buenos Aires precisam colocar cartazes com os dizeres "Não insistam! Não temos Capitán del Espacio!" para evitar a perda de tempo de explicar aos clientes a ausência inexplicável desse procurado alfajor.

"Capitán del Espacio" não trocou seu packaging desde que foi lançado no mercado há mais de 40 anos. O marketing é um conceito praticamente desconhecido pela empresa. Além disso, ela contraria a lei da procura e da oferta, que indica que um produto, se muito requerido, aumenta seu preço. Na contra-mão dessa lei econômica, "Capitán del Espacio" tem preços que costumam ser 60% mais baratos que a média dos outros alfajores.

A empresa não conta com publicitários (não investe um centavo sequer em publicidade), não possui assessores de imprensa, e nem se interessa em atender os pedidos de entrevistas da mídia. Site de internet? Nem pensar.

Os alfajorólogos afirmam que o sucesso deste anti-herói dos alfajores é que ao contrário de outras marcas que ao longo do tempo modificaram seus ingredientes por outros mais baratos, o "Capitán del Espacio" mantém o mesmo sabor nas últimas quatro décadas (aliás, os especialistas sustentam que este alfajor deve ser degustado frio, após, pelo menos, uma hora na geladeira).

Embora o "Capitán del Espacio" seja famoso na cidade de Buenos Aires, poucos portenhos o experimentaram. Isso elevou o "Capitán del Espacio" à categoria de "lenda urbana", pois muitas pessoas em Buenos Aires acreditam que tal alfajor - alvo de inúmeras enfáticas apologias - simplesmente não existe. Diversos blogs na internet dedicam a este mítico alfajor as mais exaltadas apologias.

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SERVIÇO - O turista brasileiro que quiser experimentar o quitute terá que dedicar-se com insistência na procura do "Capitán del Espacio" nos quiosques, além de necessitar de grande sorte, pois sua escassa distribuição em Buenos Aires é errática. Eu costumo comprá-los em um "Kiosco" da avenida Callao, entre a calle Marcelo T. de Alvear a a Avenida Santa Fe. É um quiosque grande, do lado esquerdo da avenida. No caso de extrema curiosidade e gula, a pessoa pode ir até Quilmes, no sul da Grande Buenos Aires e comprar diretamente na fábrica, na rua Gran Canaria, número 350. Telefone: 4253 5224.

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