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As alianças surpreendentes que ajudam Putin na Ucrânia; leia artigo de Thomas Friedman

Arábia Saudita, Irã, direita republicana e esquerda democrata fortalecem plano russo de chantagem energética

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Por Thomas L. Friedman

Hoje, vemos os EUA e seus aliados da Otan apoiando os bravos ucranianos que lutam para evitar que seu país seja feito aos pedaços por Vladimir Putin. E vemos Rússia, Arábia Saudita, Irã, Bernie Sanders, a bancada progressista da Câmara dos Deputados dos EUA e o Partido Republicano inteiro trabalhando juntos – deliberadamente ou porque são trouxas – para garantir que Putin obtenha mais lucro com o petróleo do que jamais obteve matando ucranianos e congelando os europeus neste inverno até que eles abandonem Kiev.

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Em outro rincão obscuro, Putin e o líder saudita de facto, o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman (MBS), provavelmente, estão esperando também que a estratosférica inflação da energia provocada desde que Rússia invadiu a Ucrânia ajude os republicanos, liderados por Donald Trump, a reconquistar o controle pelo menos da Câmara dos Deputados na eleição do próximo mês.

Seria a cereja no bolo de ambos, que consideram Trump um presidente que ainda ama mais o negro petróleo do que a verde energia solar e sabe desviar o olhar quando coisas ruins acontecem com pessoas boas. Cínicos demais, você acha? Não, desculpe, é impossível ser cínico demais nessa casta de brutos, bandidos e idiotas voluntariosos. Basta olhar para os fatos.

O corte de produção da Opep

Na quarta-feira, com o mundo já caminhando para a recessão e os mercados globais de petróleo e gás natural já pressionados, o cartel Opep+, que inclui Arábia Saudita e Rússia, concordou em reduzir a produção em 2 milhões de barris ao dia – para garantir que os preços do petróleo não retrocedam e, em vez disso, o barril volte a custar US$ 100 e o valor permaneça nesse patamar.

Mesmo que o corte real na produção provavelmente fique em cerca de 1 milhão de barris ao dia, porque muitos países menores da Opep já extraem abaixo de suas cotas, no mercado de hoje isso ainda será um considerável beliscão. Conforme notou o Financial Times: em cerca de US$ 90 o barril, atualmente, o preço do “petróleo está bem abaixo dos níveis alcançados logo após a invasão da Rússia à Ucrânia, contudo mais elevado do que em qualquer momento entre 2015 e o início de 2022″.

A motivação de Putin para esta alta não é mistério. Com seu Exército sofrendo constantes perdas de território na Ucrânia – e tendo anexado porções do país que nem sequer controla –, Putin tem ainda uma esperança antes de ser forçado a fazer algo realmente irresponsável: sufocar a oferta e fazer os preços do petróleo e do gás subirem o suficiente para forçar a União Europeia a abandonar Kiev e Washington e aceitar suas anexações em troca de um cessar-fogo e da retomada das exportações de energia da Rússia. Os sauditas entraram na onda.

Putin e Bin Salman na reunião do G-20 na Argentina em 2018: aliança estratégica  Foto: REUTERS/Kevin Lamarque/File Photo

Em razão das duas décadas em que os países ocidentais deixaram de pensar estrategicamente sobre energia, a estratégia de Putin não é nem doida nem impossível. Eles desejaram os fins – um mundo não mais dependente de combustíveis fósseis o quanto antes, mas não desejaram os meios para alcançar esse objetivo de maneira estável: maximizar simultaneamente sua segurança climática, energética e econômica.

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Em vez disso, eles fingiram. Na Europa, e com o encorajamento dissimulado de Putin, eles fingiram que eram capazes abandonar a energia nuclear – produzida em grande escala e em grande parte neutra de carbono –, como os fizeram alemães, e saltar diretamente para as intermitentes fontes eólica e solar, além de outras fontes renováveis. E tudo seria formidável.

A farsa da Europa verde

Ai, meu Deus. Os alemães se sentiram tão virtuosos ao fazer isso – sem reconhecer que a única razão pela qual eles conseguiam almejar esse sonho impossível era porque Putin lhes vendia gás barato para compensar a diferença. E quando Putin pôs fim à farsa, veja o que aconteceu: em 28 de setembro, a Reuters noticiou de Frankfurt, “o gabinete alemão aprovou nesta quarta-feira dois decretos para prolongar a operação de duas usinas de geração termoelétrica até 31 de março de 2024 e reativar a capacidade não utilizada de produção a carvão até 30 de junho de 2023 para aumentar a oferta”.

Nos EUA, também houve uma versão de sinalizações de virtudes verdes. Progressistas verdes demonizavam a indústria de petróleo e gás – por bons motivos, em alguns casos, em razão da intensidade com que o setor trabalhava para negar a realidade das mudanças climáticas e se recusava a limpar sua barra – e pediam a ela que por favor desaparecesse e morresse silenciosamente enquanto avançávamos para energia eólica e solar.

Usina térmica alemã de Niederaussem e turbinas eólicas: transição energética alemã foi financiada por gás barato da Rússia  Foto: INA FASSBENDER / AFP

Investidores da indústria de petróleo e gás entenderam a mensagem e começaram a atrasar investimentos ou deixar de investir domesticamente em novas prospecções – e, em vez disso, colocaram o foco em conseguir quanto lucro pudessem dos poços em atividade.

Conforme colocou uma newsletter do Goldman Sachs, am abril: “Quanta produção futura perdemos por causa de todos os atrasos em investimentos em novos projetos de petróleo e gás?

A resposta é: 10 milhões de barris de petróleo ao dia, que equivalem à produção diária da Arábia Saudita, e o equivalente a 3 milhões de barris ao dia em gás natural liquefeito (GNL), que equivalem a mais do que a produção diária do Catar. Se não tivéssemos atrasado tanto novas decisões de investimento em petróleo e gás desde 2014 poderíamos ter, essencialmente, uma nova Arábia Saudita e um novo Catar”.

Transição energética

Mesmo que os EUA ainda sejam capazes, teoricamente, de atender à maioria de suas necessidades de petróleo e gás atualmente, ao contrário da Europa, eles não têm o suficiente para exportar na escala necessária para compensar os cortes de Putin e da Opep+ e facilitar a transição da Europa para um futuro neutro em carbono.

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Mas os progressistas verdes não entenderam essa mensagem. Em uma audiência de comissão na Câmara, duas semanas atrás, a deputada Rashida Tlaib exigiu saber se o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, e outros executivos do setor bancário que eram ouvidos pelo painel, tinham alguma política “contra financiamento de novas produções de petróleo e gás”. Dimon respondeu: “Absolutamente nenhuma, e isso seria o caminho do inferno para os EUA”.

Tlaib disse então a Dimon que qualquer estudante que tenha recebido empréstimos estudantis e possua conta no JPMorgan deveria retaliar fechando sua conta. Não duvide: esse tipo de moralidade juvenil exaltada por Tlaib certamente alegrou o dia de Putin.

Ela não é nem de perto tão ruim quanto os senadores republicanos inspirados por anos pelas mentiras da ExxonMobil, afirmando que as mudanças climáticas não existem e usando isso posteriormente para bloquear a transição para a energia limpa dos EUA. Mas, mesmo assim, Tlaib alegrou o dia de Putin.

Mitch McConnell e Joe Manchin (sentados) discutem projeto de lei no Senado americano, ao lado do democrata Bernie Sanders (no centro)  Foto: HANDOUT / via REUTERS

Bloqueio democrata

O que deixou Putin ainda mais feliz foi ver Sanders, a bancada dos democratas progressistas na Câmara e o Partido Republicano inteiro se unirem para derrubar um projeto de lei apoiado pelo presidente Joe Biden e pela liderança democrata para acelerar o processo de licenciamento de projetos de energia nos EUA, que facilitaria especialmente a instalação de gasodutos e linhas de transmissão de eletricidade produzida em fazendas eólicas e painéis solares – atualmente um dos maiores impedimentos do país para uma transição verde estável.

É difícil saber quem é pior, os progressistas que não entenderam o quanto a energia solar e eólica necessita de um licenciamento mais ágil para a linhas de transmissão, que garanta fornecimento em escala de energia limpa, ou os republicanos, que sabem o quanto empresas de petróleo e gás precisam de licenciamentos mais ágeis de gasodutos para poder aumentar a produção de gás – ambos derrubaram o projeto de lei apenas para que Biden não assinalasse outra vitória.

Conforme colocou Joe Manchin, democrata amigável aos combustíveis fósseis que defendeu a aprovação da legislação: “O que eu não esperava era ver Mitch McConnell e meus colegas republicanos alinhando-se com Bernie Sanders ou tentando esse mesmo desfecho não aprovando a reforma no licenciamento”. No fim das contas, Putin teve um mês ruim na Ucrânia – mas um mês bom no Congresso dos EUA.

Meus caros, a coisa não é complicada: você quer provar um ponto ou fazer a diferença? Se quisermos fazer a diferença, precisamos maximizar simultaneamente nossa segurança climática, energética e econômica. A única maneira de fazer isso efetivamente é incentivando nosso mercado a produzir uma oferta estável e segura de energia – com o mínimo possível de emissões e o mínimo possível de custos o mais rapidamente possível.

No fim das contas, Putin teve um mês ruim na Ucrânia – mas um mês bom no Congresso dos EUA

A única maneira verdadeiramente eficaz de fazer isso é com um forte sinal de preço – sejam impostos sobre as coisas sujas ou incentivos para as coisas limpas – e aumentando constantemente os padrões de geração de energia limpa segundo as linhas propostas por Hal Harvey e Justin Gillis em seu livro The Big Fix: Seven Practical Steps to Save Our Planet (O grande reparo: Sete atitudes práticas para salvar nosso planeta).

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Enquanto não estivermos prontos para isso, estaremos apenas fingindo, entregando-nos a sinalizações de virtude da esquerda e da direita – e Putin e MBS estarão rindo a caminho do banco. TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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