As idas e vindas de Lula sobre a guerra na Ucrânia

Conflito tem sido abordado pelo presidente brasileiro em todos os espaços diplomáticos que participou desde o retorno ao poder; declarações muitas vezes destoam uma da outra

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Por Redação
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar sobre a guerra na Ucrânia em um evento diplomático. Desta vez, na cúpula do Brics, que acontece em Johannesburgo, na África do Sul. Durante o principal discurso da cúpula, Lula disse que o bloco – formado por Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul – deve atuar para favorecer o entendimento e reiterou a disposição do Brasil de ajudar a mediar a paz.

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O conflito tem sido abordado por Lula em praticamente todos os espaços diplomáticos que participou desde que retornou à presidência este ano. Declarações sobre o tema também aconteceram em agendas de outra natureza e enquanto ele era candidato. Com a manutenção dos laços com Moscou, as declarações muitas vezes destoam uma da outra.

Lula chegou a declarar em janeiro, durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil, que a Rússia estava errada em invadir a Ucrânia, mas também sinalizou para culpa do próprio país invadido. “Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam”, afirmou. Em maio, ao participar do G-7, no entanto, Lula disse que condenava a violação da integridade territorial da Ucrânia.

Presidente Lula durante discurso na cúpula do Brics nesta quarta-feira, 23, em Johannesburgo, na África do Sul Foto: Gianluigi Guercia/via AP

Um elemento comum nos discursos, no entanto, é a disposição do Brasil para ser mediador pela paz do conflito, algo que muitos analistas consideram irreal hoje. O presidente brasileiro já falou na formação de um clube de nações pela paz, cessar-fogo para discutir um acordo e na necessidade de ambos presidentes em guerra, Vladimir Putin e Volodmir Zelenski, estarem dispostos a ceder exigências. Na cúpula do Brics, Lula reiterou que a paz é “dever coletivo e imperativo”.

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‘Tão responsável quanto Putin’

Em maio de 2022, Lula, então pré-candidato à presidência, afirmou à revista americana Time que Zelenski era tão responsável pelo conflito quando Putin. “Esse cara (Zelenski) é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado”, disse. “(...) o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo.”

Na mesma entrevista, Lula também apontou para uma responsabilidade dos Estados Unidos e da Europa para o estopim da guerra. “Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na Otan’. Estaria resolvido o problema”, afirmou na época.

‘Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam’

Durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil, Lula, já presidente, voltou a responsabilizar a Ucrânia pela guerra contra a Rússia. “Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam”, declarou. A declaração viria a ser repetida em abril, em entrevista coletiva antes de deixar Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, no fim de uma viagem à Ásia.

O presidente brasileiro também negou o envio de armamentos para a Ucrânia no encontro com Scholz e reiterou a posição por uma saída pacífica. “O Brasil não tem interesse em passar munições para que sejam utilizadas na guerra entre Ucrânia e Rússia. O Brasil é um país de paz. Nesse momento, precisamos encontrar quem quer a paz, palavra que até agora foi muito pouco utilizada.”

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Imagem mostra presidente Lula ao lado do líder chinês Xi Jinping durante visita do brasileiro à China em abril. Lula fez críticas aos EUA e a Europa na questão da Ucrânia durante encontro Foto: Ken Ishii/AP

‘É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz’

Na viagem que fez à China em abril, Lula defendeu a criação de um grupo de países dispostos a buscar a paz na região em conversas com o líder chinês Xi Jinping e criticou os Estados Unidos e a Europa pelo fornecimento de armas. Para o brasileiro, o apoio à Ucrânia acaba por incentivar a continuidade da guerra.

“É preciso ter paciência com o presidente da Rússia, é preciso ter paciência com o presidente da Ucrânia. Mas é preciso, sobretudo, convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra pararem”, disse Lula a jornalistas em Pequim. “É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz”, completou.

As declarações do brasileiro contra a posição dos EUA e a Europa foram duramente criticadas por Washington e pela União Europeia, que acusaram Lula de aderir à propaganda russa. “Nós acreditamos que é profundamente problemático como o Brasil abordou de forma substancial e retórica esta questão, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra”, disse John Kirby, porta-voz de Segurança Nacional da Presidência dos EUA, sem citar Lula. “Francamente, neste caso, o Brasil está repetindo propaganda russa e chinesa sem olhar para os fatos.”

‘Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia’

Após as críticas, Lula mudou de tom e passou a evitar fazer declarações direcionadas à Europa e os Estados Unidos. Em maio, na cúpula do G-7, Lula deu sua declaração mais enfática repudiando a invasão russa na Ucrânia. “Em linha com a Carta das Nações Unidas, repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia”, disse.

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“Ao mesmo tempo, a cada dia em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e a destruição de lares. Tenho repetido quase à exaustão que é preciso falar da paz”, acrescentou.

A condenação, no entanto, deixa dúvidas sobre detalhes do conflito, como a Crimeia, por exemplo. Anexada em 2014 do território ucraniano pela Rússia, a retomada da península está nos planos ucranianos para a guerra. Em abril, no entanto, o presidente brasileiro chegou a dizer que a Ucrânia deveria ceder a Crimeia à Rússia para alcançar a paz.

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