As terríveis lições do ataque do Hamas a Israel; leia artigo da Economist

Duas décadas de políticas israelenses em relação aos palestinos viraram cinza

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Por The Economist

É difícil projetar o choque do ataque sangrento do Hamas contra Israel — porque a ação envolveu milhares de foguetes e combatentes atacando o sul do país por terra, mar e ar; e porque a ação foi completamente inadvertida apesar de sua escala, infligindo um golpe humilhante contra os celebrados serviços de inteligência israelenses; mas acima de tudo em razão da matança de centenas de pessoas inocentes e do sequestro de muitas outras pelo Hamas. Conforme as Forças de Defesa de Israel (IDF) ponderam sobre sua resposta, a atenção do mundo se voltará para o seu martírio desesperado.

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É cedo demais para saber como transcorrerão as próximas semanas. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jurou cobrar “um preço enorme”, e ele está certo: o Hamas deve pagar por suas atrocidades, que incluem o massacre de mais de 250 jovens israelenses em um festival no sul do país. Mas a resposta de Israel engendra riscos graves. Mandar tropas terrestres entrar em Gaza poderia envolvê-las em um sangrento combate urbano — além de colocar os reféns em risco. Quanto mais os combates se arrastarem, maior a chance da violência se espalhar para a Cisjordânia e o Líbano. Mortes de muitos civis em Gaza, especialmente se consideradas injustificadas, poderiam prejudicar a posição de Israel no mundo e não deixariam de ser profundamente erradas em seus próprios termos.

Mas não é cedo demais para ser claro afirmando que este ataque marca o fim de uma convicção de décadas em Israel de que as aspirações palestinas por soberania poderiam ser deixadas de lado indefinidamente enquanto o restante do Oriente Médio avança. Além de tudo mais que possa emergir deste conflito, decorrerá uma nova busca por respostas à dúvida sobre como israelenses e palestinos podem viver em paz.

Uma bola de fogo aparece após bombardeio israelense à Faixa de Gaza em 9 de outubro Foto: MOHAMMED ABED/AFP

A política de Netanyahu de escantear os palestinos dependia de três cálculos, e todos foram pelos ares com o ataque do Hamas. O primeiro: mesmo que a questão palestina seja abandonada os israelenses poderão permanecer seguros. Como resultado das baixas terríveis da Segunda Intifada, que terminou em 2005, Israel cercou as populações palestinas com muros de segurança. Superioridade em inteligência e poder de fogo arrebatador, incluindo o sistema antifoguetes Domo de Ferro, significavam que a ameaça armada dos combatentes palestinos era controlável.

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Parece que agora esta noção se rompeu. Uma razão para os serviços de inteligência israelenses poderem ter desviado a atenção de Gaza é que a Cisjordânia está agitada pelos objetivos expansionistas da extrema direita de Israel. No sul do Líbano, o Hezbollah possui um arsenal temível, grande parte fornecido pelo Irã. Não há dúvida de que Israel será capaz de restabelecer seu domínio militar sobre os palestinos, mas mesmo que seus soldados e espiões acreditarem que é possível garantir a proteção dos cidadãos israelenses, os eleitores dificilmente concluirão que um retorno ao status quo seria bom o suficiente.

O segundo cálculo era que a existência do Hamas ajuda Israel a lidar com o Fatah, o partido palestino que governa a Cisjordânia. Assumia-se que a doutrina de dividir para controlar mantinha os palestinos enfraquecidos e que a influência de facções radicais poderia minar a credibilidade dos moderados enquanto parceiros para a paz — o que atendia completamente aos interesses de Netanyahu.

Com estes ataques, essa noção também saiu dos trilhos. Uma razão para o Hamas atacar foi a doutrina de dividir para controlar ter criado condições que deixaram o Fatah decadente e isolado; seu líder, Mahmoud Abbas, está enfermo. Com seu ataque, o Hamas está reivindicando a posição de porta-voz verdadeiro da resistência palestina. As rivalidades internas dos palestinos deveriam proteger os israelenses, mas acabaram transformando-os em alvo.

O terceiro cálculo era que Israel seria capaz de fortalecer sua posição no Oriente Médio perseguindo diplomacia regional mesmo que deixasse os palestinos apodrecendo. Essa visão foi endossada pela assinatura dos Acordos de Abraão, entre Bahrein, Israel e Emirados Árabes Unidos, em 2020 — e a adição posterior de Marrocos e Sudão. Até o fim de semana passado, parecia que a Arábia Saudita também poderia se juntar, e eventualmente os sauditas ainda poderão aderir, mas o Hamas mostrou que os palestinos também têm algo a dizer.

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Pessoas lamentam a morte de seus familiares após bombardeio israelense na Faixa de Gaza Foto: Fatima Shbair/AP

A próxima operação contra o Hamas somente contribuirá para a sensação de que chegou a hora de uma nova abordagem. Após o derramamento de sangue do sábado, Israel não pode fulminar o Hamas mas permitir que o grupo permaneça no poder em Gaza como se nada tivesse acontecido.

Contudo, nenhuma alternativa simples está em oferta. As IDF não querem ocupar Gaza — por este motivo o enclave é autogovernado. A ideia de uma força de paz internacional também é difícil imaginar: nenhum país quer assumir essa responsabilidade. E ainda assim, se as IDF destruírem o Hamas em Gaza e depois marcharem de volta para casa, quem saberá que forças destrutivas poderão ocupar o vácuo deixado para trás.

Ninguém deve subestimar as dificuldades adiante. A Segunda Intifada dissuadiu jovens israelenses de se posicionar por negociações com os palestinos. O atual ultraje certamente criará uma nova geração de israelenses incapazes de imaginar como facções palestinas podem ser parceiras para a paz. Ao mesmo tempo, a coalizão de extrema direita que governa Israel tem colocado foco em anexar partes da Cisjordânia — e redobrará esses esforços.

Apesar disso, israelenses cabeça-dura precisarão aceitar o fato de que devem voltar a negociar na questão palestina. O aparato de segurança de Israel precisa de uma contraparte com a qual possa trabalhar se quiser exercer qualquer tipo de influência sobre os territórios palestinos. Isso significa que os israelenses precisam de um interlocutor palestino.

O que virá depois dependerá enormemente de quem estiver ocupando o poder em Jerusalém. No momento, Israel está unindo esforços, mas logo passará por um amargo acerto de contas que ainda poderá levar a uma nova coalizão ou até a um novo primeiro-ministro. Para os israelenses poderem estar seguros, quem ocupar o poder precisará deixar de pensar nos palestinos como um problema que pode ser engavetado e começar a pensar neles como um povo que deve ser ouvido. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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