As vezes em que o mundo esteve perto da 3ª Guerra e de uma catástrofe nuclear

A crise dos mísseis em Cuba foi o momento de maior tensão nuclear da história, mas houve outros episódios que incluem até alarmes falsos que quase levaram ao uso das armas

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Por Redação

Sessenta anos atrás, durante a crise dos mísseis em Cuba, o mundo pensou que estava perto de uma catástrofe nuclear, um perigo que volta com as ameaças do presidente russo, Vladimir Putin, de recorrer a armas atômicas na guerra que trava na Ucrânia.

A seguir, alguns dos momentos da história em que o mundo temeu o pior:

Cuba, o maior medo

Em outubro de 1962, no auge da Guerra Fria, o jovem presidente dos Estados Unidos John Kennedy e o chefe da União Soviética Nikita Khrushchev se envolvem numa queda de braço de treze dias que deixou o mundo em suspense.

Foto tirada em 11 de outubro de 2012 mostra um míssil Sopka implantado durante a crise dos mísseis de 1962, exibido no complexo Morro Cabana, em Havana Foto: AFP

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Fotos tiradas por um avião espião americano revelaram a presença em Cuba, aliada de Moscou, de rampas de lançamento de mísseis soviéticos dentro do alcance das costas dos Estados Unidos.

Kennedy considera possível “um ataque nuclear contra o hemisfério ocidental” e decide um bloqueio marítimo contra a ilha.

Forças estratégicas são colocadas em alerta máximo, um nível que antecede o início da guerra nuclear.

Centenas de bombardeios atômicos patrulham o céu e mísseis intercontinentais são preparados.

Os navios soviéticos dão meia-volta e as duas potências negociam um acordo nos bastidores: a retirada dos mísseis soviéticos em troca da retirada dos mísseis americanos na Turquia.

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Nesse momento, um avião espião americano U-2 é abatido sobre Cuba.

Foto de 25 de outubro de 1962 mostra fuzileiros navais dos EUA ouvindo o general Collins, comandante da base naval americana da Baía de Guantánamo, em Cuba, em sua chegada à base durante a crise dos mísseis Foto: AFP

Kennedy envia seu irmão Robert, secretário de Justiça, para negociar com o embaixador soviético. Khrushchov concorda em retirar seus mísseis.

Washington promete não invadir Cuba e retirar secretamente seus mísseis da Turquia.

Após esta crise, em 1963, é instalado um “telefone vermelho” que permitia que a Casa Branca e o Kremlin se comunicassem diretamente.

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Um episódio menos conhecido ocorreu durante a crise. Em 27 de outubro de 1962, o oficial Vasili Arkhipov, a bordo de um submarino soviético com armas nucleares, foi perseguido pela Marinha dos EUA na costa de Cuba.

Sem saber que os Estados Unidos estão usando cargas de profundidade para forçar o submarino a emergir, o comandante soviético decide responder com um torpedo nuclear, algo que ele está autorizado a fazer sem pedir permissão de seus superiores em Moscou.

No entanto, precisava do acordo de outros dois oficiais, um deles Arkhipov, que se opõe e consegue acalmar seu superior, segundo a mídia oficial russa.

Foto tirada em 4 de dezembro de 1962, após a crise dos mísseis, mostra o cargueiro soviético "Okhotsk" carregando mísseis "Ilyouchine IL 28" após o acordo EUA-Soviético sobre a retirada dos mísseis russos de Cuba Foto: AFP

Alerta enganoso na União Soviética

Na noite de 25 para 26 de setembro de 1983, em um momento de grande tensão entre a URSS e os Estados Unidos, um oficial soviético está de plantão em uma base estratégica de alerta ao sul de Moscou.

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Stanislav Petrov tem poucos instantes para interpretar o sinal de alerta dos satélites de vigilância anunciando um ataque de cinco ou seis mísseis americanos contra a União Soviética.

Petrov estima que um ataque americano teria que envolver uma centena de mísseis e não apenas cinco ou seis, e conclui que é um erro no sistema de alerta.

Ele assume a responsabilidade de anunciar aos seus superiores que não há um ataque iminente, mas um alerta falso.

Stanislav Petrov (direita), ex-tenente-coronel das Forças de Defesa Aérea Soviética, recebe prêmio na Alemanha em 2012 Foto: Alex Domanski/Reuters

Mais tarde, especialistas soviéticos estabeleceram que o problema se deveu a uma interpretação errônea do reflexo dos raios solares nas nuvens, confundido com a liberação de energia dos lançamentos de mísseis.

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Petrov será condecorado alguns meses depois por “Méritos à Pátria”, mas o incidente permanecerá em segredo por dez anos.

Índia e Paquistão, a crise mais recente

Em maio de 2002, Índia e Paquistão, que disputam a Caxemira desde a divisão do Império Indiano Britânico de 1947, veem-se à beira de um novo enfrentamento.

A Índia atribui a islamitas do Paquistão um ataque suicida contra o Parlamento em Nova Délhi em 13 de dezembro de 2001 que deixou 14 mortos.

Os dois países, potências atômicas desde 1998, mobilizam quase um milhão de homens nas fronteiras, especialmente na Caxemira.

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Em abril de 2002, o presidente paquistanês Pervez Musharraf analisa “o recurso à arma nuclear” se seu país for ameaçado.

Durante dois anos, Nova Délhi e Islamabad realizam vários testes de mísseis até que, sob pressão dos Estados Unidos, comprometem-se a uma desescalada que dá origem a um cessar-fogo em novembro de 2003 e um processo de diálogo em 2004.

Outros incidentes

Um desertor da KGB, o coronel Oleg Gordievski, revela em 1988 que os líderes soviéticos estiveram perto de iniciar a guerra atômica cinco anos antes, em novembro de 1983, em um momento de pânico em que acreditaram que o Ocidente estava prestes a lançar um ataque nuclear surpresa contra a URSS.

Trata-se, na verdade, de exercícios da Otan.

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Entre outros incidentes parecidos, a mala nuclear do presidente russo Boris Yeltsin foi colocada em alerta em 25 de janeiro de 1995, quando os radares de seu país interpretaram um lançamento de foguete meteorológico como um potencial disparo ofensivo.

Uma semana depois, Moscou chamou o incidente de um “mal-entendido”.