Assassinato de Kennedy: registro raro de instante após JFK ser baleado ressurge; veja o vídeo

Sequência filmada de maneira amadora por um executivo é imagem mais recente do episódio a vir à tona em décadas

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Por Colin Moynihan (The New York Times)

Há quase 61 anos, Dale Carpenter se dirigiu à avenida Lemmon, em Dallas, com a esperança de filmar John F. Kennedy em uma carreata. Mas o veículo do então presidente dos Estados Unidos já tinha passado, e ele acabou conseguindo só gravar parte da procissão.

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Ele então correu para a rodovia Stemmons, alguns quilômetros à frente, para tentar novamente. Lá, ele registrou o caos que sucedeu o ataque a tiros contra Kennedy. O conversível do presidente acelerando. Um agente do Serviço Secreto em pé no banco de trás. Jackie Kennedy, pouco mais do que um borrão vestindo um terninho rosa da Chanel.

O próprio Kennedy não podia ser visto. Ele tinha caído e estava à beira da morte.

Por décadas, os fragmentos de 8 mm de Carpenter mostrando o que aconteceu em Dallas em 22 de novembro de 1963 foram um tesouro de família. Quando ele morreu, em 1991, aos 77 anos, o rolo, que incluía imagens da festa de aniversário de seus filhos gêmeos, passou para sua esposa, Mabel, depois para sua filha, Diana, e finalmente para seu neto, James Gates.

Vídeo amador mostra o carro do então presidente John F. Kennedy a caminho do hospital após ataque. Foto: RR Auction/ via Associated Press

No final deste mês, a filmagem de Kennedy será colocada à venda em Boston pela RR Auction, a última de uma série de imagens relacionadas ao assassinato a vir à tona publicamente após décadas em relativa obscuridade.

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A casa de leilões diz que esse é a única filmagem conhecida do carro do presidente na rodovia, enquanto ele se dirigia do Dealey Plaza, o local do ataque atiros, para o Parkland Memorial Hospital, onde Kennedy foi declarado morto às 13 horas.

As filmagens feitas por Abraham Zapruder, outro espectador do atentado, há muito tempo fornecem imagens perturbadoras do assassinato em si, um dos eventos mais traumáticos e mais bem examinados da história americana.

O filme de Carpenter mostra o que aconteceu antes e logo após a filmagem de Zapruder. A primeira parte é uma cena prosaica da caravana do presidente; a segunda, uma corrida em busca de ajuda imbuída de toda a incerteza que preencheu os momentos após os tiros.

Embora o filme de Carpenter, que tem pouco mais de um minuto de duração, não contenha nada que possa influenciar o debate sobre a morte de Kennedy, vários especialistas dizem que ele não deixa de ser um acréscimo importante ao mosaico de imagens sobre aquele dia em Dallas.

“É quase uma espécie de coda ou adendo ao filme de Zapruder”, disse Gerald Posner, autor de “Case Closed: Lee Harvey Oswald and the Assassination of J.F.K.”

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Posner disse que o filme de Carpenter “captura o desgosto do que acabou de acontecer no Dealey Plaza e o que sabemos que estamos prestes a descobrir em breve no hospital Parkland”.

A casa de leilões disse que os lances no dia 28 de setembro começarão em US$ 5.000 (cerca de R$ 28 mil na conversão atual), mas que estima que o filme tenha um valor superior a US$ 100 mil (R$ 560,4 mil).

Só algumas pessoas de fora da família de Carpenter viram as imagens, de acordo com a RR Auction. Entre elas estão Posner, Mark S. Zaid, um advogado que também escreveu sobre o atentado; e Clint Hill, agente do Serviço Secreto que subiu no porta-malas do Lincoln Continental do presidente após o primeiro tiro ser disparado. Os três defendem que as imagens são autênticas.

Hill disse que nos momentos filmados por Carpenter na rodovia, o presidente estava deitado no banco de trás com a cabeça no colo da esposa. Hill é mostrado em uma posição tentando proteger o presidente, com um pé dentro do carro e outro fora, enquanto ele corre para o hospital, uma viagem que levou vários minutos.

A viagem pareceu “uma eternidade”, comenta Hill por telefone. “Cada segundo contava.”

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Agente do Serviço Secreto Clint Hill tenta proteger o então presidente John F. Kennedy.  Foto: James W. Ike Altgens/Associated Press

Stephen Fagin, curador do Sixth Floor Museum, em Dealey Plaza, um museu sobre o episódio situado no local de onde o assassino de Kennedy, Lee Harvey Oswald, atirou contra ele, disse que as imagens daquele dia, criadas por jornalistas e cidadãos comuns, são “a janela pela qual entendemos o momento do assassinato e as suas consequências”. O museu criou um mapa exibindo a rota do cortejo e os registros que fotógrafos e cinegrafistas profissionais e amadores fizeram dele.

Novas imagens do dia atentando continuaram a surgir ao longo das décadas. Por exemplo, Fagin disse que um homem chamado Jay Skaggs entrou no museu em 2002 com fotografias que havia tirado em 1963, incluindo as únicas fotografias coloridas conhecidas do rifle Mannlicher-Carcano de Lee Harvey Oswald sendo retirado do prédio do Texas School Book Depository. Até então, essas fotos haviam sido vistas apenas pela família de Skaggs.

“Vejo essas imagens e filmes como peças de quebra-cabeça que se juntam para formar essa tapeçaria da memória do dia 22 de novembro”, disse Fagin. “Um registro visual de como foi viver essa experiência.”

Carpenter, executivo de uma empresa de concreto, morava em Irving, Texas, a cerca de 19 quilômetros a noroeste de Dallas. Ele não era conhecido por ter uma afinidade especial com Kennedy, disseram dois de seus filhos, mas foi atraído pela pompa da visita presidencial e levou consigo a câmera que costumava usar para filmar eventos familiares. Um de seus filhos, David Carpenter, 63 anos, cuja comemoração de aniversário estava no mesmo rolo da filmagem de Kennedy, disse: “Papai estava sempre atrás daquela câmera”.

Dale Carpenter guardava o filme que havia filmado em um recipiente redondo de metal com o rótulo “Assassinato de JFK”. As exibições eram raras, talvez, como sugeriu David Carpenter, porque a filmagem mostrava “algo que era dramático e terrível”. Os membros da família disseram não ter certeza se o pai chegou a falar com as autoridades sobre o filme.

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Gates disse que ficou de posse do filme em 2009 ou 2010, quando sua mãe lhe entregou uma caixa de leite que incluía cerca de 30 rolos de filme que haviam pertencido ao pai dela. Ele disse que ficou um pouco desapontado quando viu o filme pela primeira vez, porque não mostrava Kennedy. Ainda assim, ele disse que ficou impressionado com a bravura de Hill.

Caixa que continha rara imagem do dia do assassinato de John F. Kennedy. Foto: RR Auction / via Associated Press

Em 2012, Gates se correspondeu com Lisa McCubbin, que escreveu um livro com Hill sobre seu tempo protegendo Jacqueline Kennedy. Logo depois, ele enviou a ela e a Hill uma cópia do filme.

Um novo interesse nas filmagens surgiu recentemente, quando os produtores de um documentário ainda não lançado sobre a vida de Hill, “Agent Number 9″, obtiveram os direitos de incluir as filmagens de Carpenter em seu filme. Ao mesmo tempo, McCubbin, que havia se casado recentemente com Hill, colocou Gates em contato com a RR Auction.

Os líderes da casa de leilões, que já venderam outros itens relacionados a Kennedy e ao assassinato, como a aliança de casamento de Oswald, acharam a filmagem poderosa.

“Há uma sequência icônica de eventos americanos que já vimos várias vezes”, disse Bobby Livingston, vice-presidente executivo da empresa. “E, de repente, 60 anos depois, você tem outra visão, outra perspectiva.”

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Josiah Thompson, autor de “Six Seconds in Dallas” (Seis segundos em Dallas), chamou as filmagens e fotografias de pessoas que estavam no Dealey Plaza naquele dia de “uma grande fonte de evidências”. Ele disse, no entanto, que não achava que a filmagem de Carpenter tivesse “importância especial”, principalmente porque não resolverá as questões persistentes sobre o assassinato.

Imagem amadora do ataque contra John F. Kennedy será leiloada no fim do mês.  Foto: RR Auction / via Associated Press

Não está claro se Carpenter sabia que o presidente havia sido baleado quando gravou as imagens ao longo da rodovia. Ele certamente sabia o que havia acontecido quando retornou a Irving.

Sua filha, Deborah Thornton, que tinha 12 anos em 1963, lembra que seu pai chegou em casa naquele dia com uma aparência “muito solene”.

Ela disse que se lembrava dele dizendo à sua mãe: “Dallas mudou para sempre”.

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