Assassinato de líder do Hamas no Líbano sinaliza mudança no esforço de guerra israelense

Pressionado pelos EUA a reduzir o drama humanitário na Faixa de Gaza e em meio a problemas internos, Israel parece entrar em nova fase na guerra

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Por Steve Hendrix
Atualização:

JERUSALÉM — Quando um par de mísseis disparados de drone explodiu um prédio de apartamentos no sul de Beirute, na terça-feira, matando um graduado líder militante e seus tenentes, o evento pareceu marcar uma mudança na guerra de Israel contra o Hamas.

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Por três meses, os israelenses pressionaram com uma invasão militar em escala total a Gaza, arruinando grande parte de Faixa e matando mais de 22 mil pessoas em sua busca pelos militantes que planejaram e perpetraram o ataque de 7 de outubro contra Israel. Até então, os israelenses não tinham atuado em outro objetivo de guerra declarado: mirar líderes do Hamas “onde quer que eles estejam”.

Agora, conforme o conflito entra em seu quarto mês, Israel aparentemente concretizou essa ameaça, arriscando uma guerra mais ampla ao longo de sua fronteira com o Líbano à medida que começa a diminuir o contingente de soldados em Gaza pela primeira vez.

Comandantes militares afirmaram que a retirada parcial foi possível neste momento, em que os ataques enfraqueceram o Hamas no norte, e permitirá que milhares de reservistas retornem para suas casas e voltem a trabalhar. Washington também tem pressionado Israel há meses para se abster do que o presidente Joe Biden descreveu como “bombardeios indiscriminados” e reduzir o número devastador de mortes de civis.

Esses eventos ocorrem em meio a preocupações crescentes a respeito do custo econômico da guerra em Israel e ao retorno gradual de protestos no país e intrigas na política doméstica. Ainda que poucos analistas vejam um fim para a violência em Gaza, eles detectam uma evolução.

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“Nós estamos na 3.ª Fase”, afirmou o ex-subconselheiro de segurança nacional israelense Chuck Freilich, referindo-se ao estágio da guerra esperado para se seguir à reposta inicial aos ataques de outubro e à contínua guerra aérea e terrestre dentro do enclave. “Acho que estamos entrando em um novo modo, algo mais próximo ao que os Estados Unidos têm defendido desde o início.”

O Exército israelense tem afirmado há meses que está pronto para combater uma guerra em duas frentes, concentrou soldados e tanques ao longo da fronteira libanesa e retirou pelo menos 70 mil residentes. Unidades das Forças Armadas de Israel têm trocado fogo frequentemente com o grupo militante libanês Hezbollah, alinhado com o Irã, mas os ataques e contra-ataques não tinham se aproximado de Beirute — até a terça-feira.

Lança foguetes de Israel perto da fronteira com o Líbano. Foto: JALAA MAREY / AFP

Israel recusou-se a confirmar ou negar qualquer papel no assassinato de Saleh Arouri, autoridade do Hamas no exílio que atuava como contato com os iranianos e o Hezbollah. Mas ele estava na lista do país.

“Sem dúvida foi o assassinato mais significativo de qualquer autoridade sênior do Hamas desde o início da guerra, em 7 de outubro”, afirmou na quarta-feira o especialista em assuntos palestinos Avi Issacharoff, num artigo publicado pelo jornal Yedioth Ahronoth.

Ainda que Israel afirme que matou vários comandantes e autoridades do Hamas dentro de Gaza, Yehiya Sinwar, que, acredita-se, arquitetou o ataque de 7 de outubro, e outros líderes graduados ainda estão foragidos.

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Autoridades libanesas e internacionais tiveram dificuldades na quarta-feira para impedir uma aguardada retaliação do Hezbollah. Até aqui, o grupo tem resistido a apelos do Hamas para entrar na guerra com força total. Falando sob condição de anonimato por não estarem autorizadas a discutir o assunto publicamente, autoridades israelenses disseram esperar que o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, mostrasse comedimento, já que nenhum de seus oficiais foi morto no ataque.

“Tem um porta-aviões por lá. Esperemos que seja suficiente”, afirmou uma das autoridades israelenses, referindo-se à presença de uma frota naval com porta-aviões dos EUA no leste do Mediterrâneo.

Nasrallah ameaçou “resposta e punição”, em um discurso na quarta-feira, mas deu poucas pistas a respeito da maneira que seus combatentes responderiam.

Israelenses moradores da cidade portuária de Haifa, no norte, foram aconselhados planejar como se abrigar durante ataques. Analistas militares afirmaram que a retirada de soldados de Gaza provavelmente liberaria mais forças para atuar nas proximidades do Líbano.

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“Nós estamos altamente preparados para qualquer cenário”, afirmou o almirante Daniel Hagari, porta-voz das Forças Armadas de Israel, após o assassinato de Arouri.

Na terça-feira, a artilharia israelense lançou ataques intermitentes a partir do kibutz de Eilon, 1,6 quilômetro ao sul da fronteira libanesa, contra o que as Forças Armadas de Israel qualificaram como “alvos terroristas”. Mísseis antitanque do Hezbollah foram interceptados — e por vezes caíram — sobre os vilarejos esvaziados.

Por todo o norte israelense, esquadrões locais de segurança têm treinado para o que acreditam ser uma guerra iminente. Dotan Razili, morador de Eilon que serve como soldado reservista na localidade, afirmou que a retirada da população permitiu que as Forças Armadas de Israel operem livremente na área, disparando a partir de campos agrícolas. “Nós estamos sendo arrastados para uma guerra que não pedimos”, afirmou ele.

O assassinato no Líbano foi amplamente elogiado em Israel, mas alguns defensores dos estimados 133 israelenses ainda mantidos reféns em Gaza afirmaram se preocupar com a possibilidade do ataque atrapalhar negociações por outra troca de reféns.

“(O governo) está motivado atualmente por um sentimento de vingança”, afirmou Carmit Palti-Katzir, cujo irmão Elad é mantido refém, em entrevista a uma rádio israelense. “Mas eu estou dizendo: pelo amor de Deus, ainda tem gente vivendo lá.”

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Soldados de Israel se posicionam na fronteira com Gaza; ataque aéreo atinge o enclave.  Foto: AP / Ariel Schalit

As Forças Armadas de Israel afirmaram na semana passada que estavam retirando até cinco brigadas do norte da Faixa de Gaza, marcando uma possível mudança da estratégia de bombardeios generalizados para ataques terrestres mais precisos, a partir de bases fora do enclave. Mas autoridades israelenses têm afirmado repetidamente que os combates ainda deverão durar meses.

Sons de bombas e tiros ecoaram pela cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, na quarta-feira, onde testemunhas afirmaram ao Washington Post que os combates continuam intensos. Ambulâncias aceleravam pelas ruas constantemente durante o dia transportando mortos e feridos, de acordo com Hussam Kurdieh, um civil que foi deslocado da Cidade de Gaza e se abrigou no Hospital Nasser.

“As pessoas se acostumaram ao espetáculo pavoroso dos bombardeios”, afirmou ele. “Mas a maior luta diária é garantir alimentos, água e necessidades essenciais.”

Em Israel, contudo, a guerra não parece tão arrebatadora, e os cidadãos começam a encontrar espaço para debates políticos mais amplos. Na segunda-feira, a Suprema Corte israelense reverteu a reforma proposta pela coalizão do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e aprovada pela Knesset que retiraria poderes cruciais de revisão judicial do tribunal superior, uma decisão celebrada pelos críticos da medida como uma vitória para a democracia israelense.

Israelenses protestam contra o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Foto: AP / Ariel Schalit

E os protestos antigoverno que sacudiram Israel ao longo da maior parte do ano passado, mas acabaram suspensos depois de 7 de outubro, voltaram.

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No sábado, multidões se reuniram em Tel-Aviv e Jerusalém pedindo novas eleições em meio a uma raiva que tem se acumulado contra Netanyahu, que é culpado amplamente por não ter sido capaz de evitar o ataque do Hamas e tem visto seu apoio despencar em pesquisas de opinião.

“Nós estamos vendo uma nova fase. As pessoas estão voltando às ruas”, afirmou a cientista política Gayil Talshir, da Universidade Hebraica. “Mas agora as pessoas que marcham à frente desses protestos são os parentes dos reféns, os parentes dos soldados mortos, os reservistas.”

Discórdias são cada vez mais visíveis dentro do gabinete emergencial de guerra, no qual Netanyahu divide poder com seu rival político e ex-chefe do Estado-Maior Geral das Forças Armadas de Israel Benny Gantz, entre outros. Gantz e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, recusaram-se a aparecer ao lado de Netanyahu em algumas conferências de imprensa recentes. Ambos expressaram mais abertura às ideias defendidas por Biden para um governo pós-guerra em Gaza estabelecido por uma Autoridade Palestina reformada, um pensamento que Netanyahu e os membros mais extremistas de sua coalizão rejeitam.

Gantz, cuja popularidade disparou, afirmou que a política e investigações sobre as falhas em 7 de outubro devem esperar até que a guerra alivie. Conforme soldados se retiram de Gaza, observadores políticos observam atentamente em busca de algum sinal de que Gantz esteja pronto para se movimentar.

Gantz poderia acionar novas eleições em Israel persuadindo cinco membros da coalizão de governo, onde muitos têm criticado Netanyahu, a aderir a um voto de desconfiança.

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“No minuto que Gantz sentir que pode deixar o gabinete de guerra, essa bola de neve vai começar a rolar”, afirmou Talshir. “Isso está começando a parecer mais possível à medida que a situação em Gaza se estabiliza.”

“Evidentemente”, acrescentou ela, “se tivermos um segundo front com o Hezbollah, tudo mudará novamente”. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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