O chefe do grupo Wagner Ievgeni Prigozhin estava no avião de pequeno porte que caiu nesta quarta-feira, 23, ao norte de Moscou. A confirmação da agência de aviação da Rússia encerrou horas de especulação sobre o que teria acontecido com o homem responsável pelo motim que abalou Vladimir Putin há cerca de dois meses.
Imagens que circulam nas redes sociais atribuídas a morte de Prigozhin mostram um avião em queda livre antes de pegar fogo. E essa não é a primeira vez que um desafeto do presidente russo morre de forma misteriosa.
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Em setembro do ano passado, Ravil Maganov, presidente gigante petrolífera Lukoil caiu do sexto andar de um hospital em Moscou e não resistiu. Na época, a agência estatal Tass afirmou que o executivo de 67 anos estava internado depois de sofrer um ataque cardíaco e teria tirado a própria vida. Pessoas próximas Maganov, no entanto, disseram não acreditar na versão de suicídio.
A Lukoil, havia adotado uma postura incomum entre as grandes empresas russas ao criticar a guerra na Ucrânia. “Expressamos nossa sincera empatia a todas as pessoas afetadas por essa tragédia”, disse o conselho administrativo liderado por Maganov logo no início do conflito em uma nota que pedia pelo cessar-fogo.
A posição da empresa e o fato de outros magnatas russos terem morrido em circunstâncias misteriosas em meio à guerra na Ucrânia alimentou as suspeitas sobre o caso Maganov.
Mas a lista de alegados suicídios, atentados e envenenamentos é extensa e começou bem antes da guerra já nos primeiros anos do governo Putin. Um dos casos recentes mais emblemáticos é o do advogado Alexei Navalni, principal crítico de Vladimir Putin que quase morreu envenenado enquanto voava da Sibéria para Moscou. O opositor sobreviveu e os testes feitos em um hospital na Alemanha identificaram que a presença do agente nervoso da era soviética, Novichok, o que elevou o tom das suspeitas contra o Kremlin. Já recuperado, Navalni voltou para Rússia e está preso desde então com penas que somam 30 anos.
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Em 2015, o político de oposição Boris Nemtsov foi baleado quatro vezes nas costas por um atirador desconhecido. Na década de 1990, Nemtsov era uma estrela política e foi visto por muito tempo como um possível nome para a presidência. Quando Putin sucedeu ao Boris Yeltsin, ele chegou a apoiar a escolha, mas se tornou cada vez mais crítico aos Kremlin. Uma década depois, liderou os protestos contra os resultados das eleições parlamentares. Horas antes de ser assassinado, convocou marchas contra a o envolvimento militar da Rússia na Ucrânia.
Em 2013, o magnata Boris Berezovski foi encontrado morto no banheiro de casa, no Reino Unido, onde vivia em autoexílio desde que começou a ter desentendimentos com Putin. Ele estava com uma corda no pescoço, o que indicava suicídio, mas os legistas não conseguiram determinar a causa da morte.
Também no Reino Unido, o ex-agente da KGB Alexander Litvinenko foi envenenado em 2006 pelos agentes russos Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun, apontou o inquérito britânico. A suspeita é de que eles teriam recebido uma ordem aprovada por Vladimir Putin. Depois de deixar o serviço secreto russo, Litvinenko passou a ser um forte crítico e acusou o serviço secreto de orquestrar a série de atentados em apartamentos que deixaram centenas de mortos na Rússia, em 1999.
O ex-agente também acusava Putin de ter ordenado o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya. A repórter que criticou o presidente no livro a “A Rússia de Putin” foi baleada à queima-roupa no elevador do prédio onde morava. Cinco homens foram condenados pelo assassinato, mas o juiz concluiu que o crime teria sido encomendado. Putin negou qualquer envolvimento do Kremlin na morte da jornalistas.
Ainda nos primeiros anos da era Putin, o ex-coronel Sergei Iushenkov foi baleado na porta de casa em 2003 em Moscou. Assim como o ex-agente da KGB, ele também acreditava que o governo Putin estaria por trás dos ataques do final da década de 90 na Rússia e estava reunindo evidências que provariam essa tese./The New York Times e W. Post