TEL-AVIV – O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, informou ao presidente americano Joe Biden que vai atacar bases militares do Irã, em vez das bases petrolíferas e nucleares, como se cogitou. A informação é de duas autoridades próximas ao assunto e sugere um contra-ataque mais limitado para evitar uma guerra total.
Israel se prepara para atacar o Irã desde que foi alvo de uma série de mísseis iranianos há duas semanas, em um momento de escalada por causa da ofensiva israelense contra a milícia xiita Hezbollah. A ofensiva culminou na morte do líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, uma figura política aliada ao Irã e proeminente entre os muçulmanos xiitas, e aumentou o risco de uma guerra frontal entre os dois países.
Isso acontece a menos de um mês das eleições americanas e deixa os EUA, maior aliado de Israel, em uma posição delicada. Publicamente, Biden disse que não apoiaria um ataque de Israel a bases nucleares.
No dia 9, Biden e Netanyahu conversaram por telefone pela primeira vez em quase dois meses. O premiê afirmou ao presidente americano que planeja atacar a infraestrutura militar do Irã, segundo autoridades dos EUA e de Israel que acompanharam a ligação. Eles falaram em condição de anonimato ao The Washington Post para discutir assuntos sensíveis.
A Casa Branca não fez comentários sobre o assunto. O gabinete do primeiro-ministro israelense disse em uma declaração que “ouvimos as opiniões dos Estados Unidos, mas tomaremos nossas decisões finais com base em nosso interesse nacional”.
Segundo as autoridades, a ação retaliatória de Israel seria calibrada para evitar que haja repercussões nas eleições dos EUA. Isso sinaliza que Netanyahu está consciente do potencial que o ataque pode ter para a corrida presidencial.
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Um ataque às instalações petrolíferas do Irã poderia fazer os preços da energia dispararem, dizem analistas. Um ataque ao programa nuclear acabaria com os limites restantes que evitam uma guerra aberta entre Irã e Israel e envolveria os EUA no conflito de forma mais direta.
As autoridades afirmam que o plano de Netanyahu, focado nas bases militares, foi recebido com alívio pelo governo americano. Israel já fez ataques semelhantes em abril, em retaliação ao primeiro ataque do Irã por ocasião da morte de autoridades iranianas em um ataque israelense à Embaixada do Irã na Síria.
A percepção das autoridades americanas é que Netanyahu estava mais “moderado” agora do que nas últimas conversas com Biden. Isso seria resultado da intenção de Biden de enviar um sistema de defesa antimísseis para Israel. As autoridades afirmaram que depois da ligação o presidente americano ficou mais inclinado a enviá-lo.
Sistema de antimísseis
No domingo, 13, o Pentágono anunciou o envio do sistema, conhecido como THAAD. O sistema chegou a Israel nesta terça-feira, 15, com mais de 100 militares americanos para implantá-lo. “[O envio do sistema] ressalta o comprometimento dos Estados Unidos com a defesa de Israel”, declarou o Pentágono. Mais componentes e militares chegarão nos próximos dias.
Segundo uma autoridade, o ataque israelense ao Irã seria realizado antes das eleições dos EUA, para que a falta de ação não seja interpretada pelo Irã como sinal de fraqueza. “Será uma em uma série de respostas”, disse a fonte.
Zohar Palti, ex-diretor de inteligência da agência de inteligência israelense Mossad, disse que Netanyahu precisaria equilibrar os apelos de Washington por moderação com a demanda pública em Israel por uma resposta esmagadora. “Os iranianos perderam toda medida de contenção que costumavam ter”, disse.
Na semana passada, Netanyahu convocou o gabinete de segurança para discutir as opções disponíveis de respostas ao Irã, mas não buscou autorização oficial para o ataque, o que mantém a programação do ataque em aberto. Dentro da defesa israelense, há preocupações de que o ataque não seja forte o suficiente — ou público o suficiente — para impedir o Irã de outro ataque direto a Israel ou de desenvolver armas nucleares.
“O exército israelense quer atingir a liderança militar do Irã, porque isso não fere o povo e não leva a região a uma guerra maior”, disse Gayil Talshir, cientista político da Universidade Hebraica que está em contato com membros seniores do establishment de defesa de Israel. “Mas não é assim que Netanyahu está pensando.” /THE WASHINGTON POST
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