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Ativista pelos direitos LGBT+ do Quênia é encontrado morto com sinais de tortura

Edwin Chiloba, designer de moda e ativista, era voz cada vez mais relevante nas redes sociais do país

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Por Redação

NAIRÓBI – O ativista pelos direitos LGBT+ do Quênia, Edwin Chiloba, foi encontrado morto em seu país de origem na terça-feira, 3, dentro de uma caixa de metal e com sinais de tortura. O crime atraiu a condenação e pedidos de justiça por parte de amigos e entidades de proteção aos direitos humanos, e um suspeito de participar da ação foi preso pela polícia.

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Segundo o chefe de polícia local, Eddyson Nyale, o corpo foi encontrado após um idoso de uma aldeia próxima da cidade de Eldored, onde Chiloba morava, notar uma caixa deixada por um automóvel. Eldored fica localizada no oeste do Quênia, distante 312 quilômetros da capital Nairóbi.

Nyale afirmou que o suspeito, identificado como Jactone Odhiambo Luo, de 24 anos, foi preso por ser visto ao lado de Chiloba em diversos locais. O objetivo da prisão seria “reunir informações sobre as circunstâncias da morte” e ajudar na busca do automóvel não identificado visto pelo aldeão, acrescentou o chefe de polícia.

Ativista LGBT+ Edwin Chiloba posa para fotografia em Eldoret, Quênia. Chiloba foi encontrado morto no dia 2 com sinais de tortura Foto: Lawrence Leteipa / AP

Edwin Chiloba era um designer de moda, modelo e proprietário de uma marca de roupas, ChilobaDesigns. Ele é popular nas redes sociais do Quênia e entre a comunidade LGBT+ do país. Chiloba falava sobre a importância da inclusão com relevância cada vez maior. Ele foi descrito por amigos como alguém ousado e apaixonado, que amava as pessoas e a moda e que usava o trabalho como uma ferramenta em prol dos direitos LGBT+.

Nas redes sociais quenianas, a notícia do assassinato provocou um luto generalizado e pedidos para que as autoridades investiguem e processem os responsáveis. “Este é um crime assustador, mas que está se tornando comum no Quênia – evidência de uma crescente epidemia de violência no país”, declarou a Comissão de Direitos Humanos do Quênia (KHRC), uma entidade não-governamental do país, no Twitter.

A KHRC relembrou outro assassinato recente contra LGBT+ no Quênia, contra Sheila Adhiambo Lumumba, de 25 anos, uma lésbica não-binária, em abril de 2022. À Direção de Investigações Criminais e ao Gabinete do Diretor do Ministério Público, a organização pediu que “conduzam investigações rápidas e garantam que os assassinatos sejam detidos e processados”.

No Quênia, cristãos conservadores exercem um enorme poder político e grupos civis têm dificuldades de garantir os direitos LGBT. O sexo entre pessoas do mesmo gênero é criminalizado com penas de prisão de até 14 anos, sob uma disposição do Código Penal da época do domínio colonial britânico. Embora raramente seja aplicada, a Human Rights Watch disse que a legislação contribui para um “clima de discriminação e violência”.

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Em maio de 2019, o Supremo Tribunal do Quênia se recusou a revogar a lei. Pouco antes da decisão, o então presidente Uhuru Kenyatta considerou o sexo entre pessoas do mesmo gênero “uma não-questão” no Quênia em entrevista à CNN. O recém-eleito presidente William Ruto também se posicionou contra os direitos LGBT+ em entrevistas ao dizer que eles não se alinham com valores cristãos.

A cofundadora da entidade LGBT+ Queer Republic e amiga de Chiloba, MaryLize Biubwa, afirmou que o ativista já havia sido atacado duas vezes no ano passado, uma em e outra em setembro. “Ele estava cheio de vida; é tão triste pensar em sua vida dessa maneira no momento, porque ele era vivo”, disse Biubwa.

“Sua luta não é apenas por ele, é por todos que são queer, que são diferentes, que são criminalizados pela sociedade em que vivemos”, acrescentou Biubwa. Ela afirmou que passou a temer pela própria segurança após o ataque ao amigo. “Poderia realmente ter sido qualquer outra pessoa queer, e isso é a coisa mais triste.”

Outro ativista na defesa dos direitos LGBT+, Nyakwar Okinda, de 28 anos, também expressou preocupação com a segurança da comunidade. Ele disse que foi atacado em 2021 e que possui amigos que têm medo de assumir a sexualidade por incidentes como esse. “Não temos direitos? O caso de Chiloba não é o primeiro”, declarou. “Nós morremos, e nos dizem que a justiça será feita, mas esquecem. Isso nos faz pensar se temos direitos.” /WASHINGTON POST

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