Três semanas antes do referendo que decidirá se a Grã-Bretanha deve ou não deixar a União Europeia, o avanço da campanha eurocética preocupa cada vez mais Bruxelas. A média das últimas pesquisas indica a tendência de vitória da campanha pelo “não” a Bruxelas, que teria 51% dos votos.
A campanha pelo “sim” à permanência britânica no bloco teria 49%. A perspectiva de ruptura já faz as autoridades europeias projetar os ritos de separação dos britânicos, que podem levar até seis anos.
O sinal de alerta soou no final de semana, quando uma nova rodada de pesquisas dos institutos YouGov, ICM e Opinium foi divulgada. O levantamento realizado pela Opinium para o jornal The Observer, por exemplo, indicou 44% em favor do “Leave” e 40% pelo “Stay”. Segundo a organização apartidária WhatUKThinks, que faz a média das pesquisas, a campanha pela permanência da Grã-Bretanha na União Europeia perdeu 4 pontos porcentuais em relação à rodada anterior e foi superada pela campanha em favor do Brexit (“British exit”).
O problema é que o resultado apertado é ainda mais impreciso dado que as pesquisas não conseguem medir o impacto da abstenção e do voto de protesto, considerado mais volátil por analistas.
Segundo o cientista político Tony Travers, da London School of Economics and Political Science (LSE), à incerteza causada pelo resultado apertado se somam as dúvidas sobre a capacidade das sondagens de capturar o que de fato pensa o eleitorado britânico. “Não conseguimos avaliar, por exemplo, o volume de eleitores que cogita um voto de protesto e pode mudar de opinião no último momento”, diz Travers.
De acordo com o jornal francês Le Monde, as autoridades de Bruxelas já traçam um plano de contingência para eventual a saída da Grã-Bretanha – para evitar a implosão da UE. Uma das hipótese é que Bruxelas e Londres abram imediatamente discussões para um novo acordo de livre comércio, que levaria de quatro a seis anos para ser sacramentado. Mas questões persistem sobre a natureza da associação eventual – se um acordo de livre-comércio ou um acordo de associação mista, com cooperação comercial e política – entre a Grã-Bretanha e a UE.
Bruxelas também estuda o impacto para Londres que uma saída teria em acordos comerciais firmados pela UE com os Estados Unidos, a Ásia, a América Latina e a África. Juristas entendem que a Grã-Bretanha retornaria à estaca zero ao se dissociar da Europa. Pressionada pelas pesquisas, a libra esterlina caiu ontem a seu menor valor face ao euro em quase um mês.
A instabilidade também acirrou ainda mais as disputas no interior do Partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro, David Cameron. Cada vez mais questionado por seu próprio campo, o premiê enfrenta a concorrência interna do ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, que lidera a campanha pelo Brexit.
Nesta segunda-feira, Cameron voltou a criticar seu correligionário, acusando-o de mentir sobre o impacto econômico de uma vitória do "Leave" no referendo do dia 23. "É a hora de ele dizer a verdade sobre seu projeto econômico para a Grã-Bretanha fora da Europa", exortou Cameron.
Outro líder conservador a entrar na disputa foi o ex-primeiro-ministro conservador John Major, que governou entre 1990 e 1997, sucedendo a Margaret Thatcher. Major tomou partido pela permanência na União Europeia, e acusou Johnson e os líderes favoráveis ao "Leave" de conduzirem uma campanha "sórdida" e "enganadora".
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