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Autoridades russas começam a fugir da Crimeia; Ucrânia pede mais armas e cobra Alemanha

Inteligência da Ucrânia diz que militares e autoridades russas na península estão realocando suas famílias para o território russo em meio ao avanço da contraofensiva ucraniana

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Por Redação

KIEV - Autoridades militares e oficiais de inteligência da Rússia começaram a retirar suas famílias da Crimeia, região ocupada pela Rússia no sul da Ucrânia desde 2014, em meio à contraofensiva ucraniana que vem retomando territórios ocupados por Moscou, informou o setor de inteligência ucraniano. Em meio ao sucesso de sua operação de retomada de cidades importantes, como Kharkiv, Kiev faz um novo apelo por entregas mais rápidas de armas ocidentais e cobra a Alemanha por suas promessas de armamentos pesados.

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Segundo um relatório publicado nesta terça-feira, 13, pela direção de Inteligência do Ministério de Defesa da Ucrânia, autoridades russas presentes na Crimeia começaram a “realocar urgentemente suas famílias para o território da Federação Russa”. “Comandantes de algumas unidades militares estão tentando secretamente vender suas casas e retirar com urgência seus parentes da península”.

E acrescenta: “Ao mesmo tempo, os ocupantes proibiram a celebração de acordos de compra e venda de moradias, estabeleceram restrições à circulação pela ponte da Crimeia e estão tentando de todas as formas impedir o acesso a informações sobre as ações contraofensivas dos defensores da Ucrânia”. As informações, no entanto, não puderam ser checadas de forma independente.

Um veículo blindado de combate russo capturado pelas Forças Armadas Ucranianas durante uma operação de contraofensiva, em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, na região de Kharkiv, Ucrânia Foto: Serviço de imprensa das Forças Armadas da Ucrânia via Reuters

As tropas ucranianas buscam cada vez mais forçar retiradas das forças russas nesta terça, pressionando com uma contraofensiva que produziu grandes ganhos e um golpe para o prestígio militar de Moscou. À medida que o avanço continuava, os serviços de guarda de fronteira da Ucrânia disseram que o exército assumiu o controle de Vovchansk – uma cidade a apenas 3 km da Rússia, tomada no primeiro dia da guerra.

Retomada de territórios

Em poucos dias, as forças militares ucranianas retomaram quase toda a região de Kharkiv que as forças russas ocuparam desde o início da guerra. A rapidez do recuo parece ter surpreendido as tropas e comandantes militares russos, disse autoridades ocidentais. A Rússia reconheceu que retirou tropas de áreas na região nordeste de Kharkiv nos últimos dias.

Segundo avaliaram autoridades americanas sob condição de anonimato ao Washington Post, a contraofensiva ucraniana pode marcar um ponto de virada na guerra e aumentar a pressão sobre Moscou para convocar forças adicionais se espera impedir novos avanços ucranianos, embora a Rússia negue a intenção de fazê-lo.

“Os russos estão em apuros”, disse uma autoridade dos Estados Unidos. “A questão será como os russos reagirão, mas suas fraquezas foram expostas e eles não têm grandes reservas de mão de obra ou reservas de equipamentos.”

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As forças ucranianas parecem estar avançando com cuidado e consolidando seus ganhos, disse outro oficial, observando que as forças russas parecem ter reconhecido que não tinham armas e mão de obra para manter cidades e vilarejos recém-libertados no nordeste do país. Algumas forças russas abandonaram tanques, veículos blindados e munições enquanto fugiam.

Mas apesar dos recentes ganhos ucranianos, os aliados americanos de Kiev tomam o cuidado de não declarar uma vitória prematura, já que o presidente russo, Vladimir Putin, ainda tem tropas e recursos para explorar, como o uso de armas químicas ou nucleares táticas. Apesar de todas as suas deficiências militares, os russos ainda têm a capacidade de se reagrupar e revidar com força, alertaram algumas autoridades.

Diante da maior derrota da Rússia desde sua tentativa fracassada de capturar Kiev no início da guerra, o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov, disse que as tropas estão revidando com “ataques maciços” em todos os setores. Mas não houve relatos imediatos de um aumento repentino nos ataques russos.

Militares ucranianos descansam na estrada enquanto se dirigem para a linha de frente, enquanto o ataque da Rússia à Ucrânia continua, na região de Kharkiv, Ucrânia 13 de setembro de 2022 Foto: Gleb Garanich/Reuters

Na noite de segunda-feira, 12, o presidente Volodmir Zelenski disse que suas tropas até agora retomaram mais de 6.000 km² em questão de semanas.

No entanto, a Rússia ainda detém grandes quantidades de território no leste e no sul, incluindo as cidades estrategicamente importantes de Mariupol e Kherson Os avanços ucranianos lá seriam mais significativos do que os dos últimos dias, disseram autoridades. Mas os combates nessas regiões tiveram um grande impacto nas forças ucranianas, que dizem não ter a artilharia necessária para desalojar as forças russas mais bem equipadas e entrincheiradas.

A vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar, disse que Kiev está tentando persuadir ainda mais soldados russos a desistir, lançando bombas cheias de panfletos antes de seu avanço. “Os russos usam você como bucha de canhão. Sua vida não significa nada para eles. Você não precisa dessa guerra. Renda-se às Forças Armadas da Ucrânia”, diziam os panfletos.

Civis fugidos das áreas antes controladas pela Rússia que foram entrevistados pelo New York Times relataram que as tropas de ocupação estão mostrando sinais de estresse, ansiedade e raiva. De acordo com pessoas que acabaram de fugir dos territórios ocupados no sul, as tropas russas estão reposicionando rapidamente o equipamento militar, indo de casa em casa em busca de potenciais colaboradores e saqueando mais casas, aparentemente temendo um avanço ucraniano.

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Maksim Bratienkov, um apicultor que fugiu nesta terça de um território controlado pela Rússia, disse que passou por 16 postos de controle no sul da Ucrânia. E uma coisa se destacou sobre os soldados que ele viu lá. “Eles estão nervosos”, disse ele. “Realmente nervoso.”

Moradores locais caminham em uma rua na cidade de Izium, recentemente libertada pelas Forças Armadas Ucranianas, em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, na região de Kharkiv, Ucrânia Foto: Serviço de imprensa das Forças Armadas da Ucrânia via Reuters

“Eu até ouvi alguns jovens soldados russos dizerem: ‘Só espero que os ucranianos liberem este lugar logo para que possamos ir para casa’”, disse Bratienkov, que escapou da cidade portuária de Berdiansk e falou na terça-feira de um estacionamento de um shopping center em Zaporizhzhia, que foi transformada em área de recepção para aqueles que fogem do território controlado pela Rússia.

Segundo, Hanna Maliar, cerca de 150 mil pessoas foram libertadas do controle russo nos últimos dias. Mas 1,2 milhão de pessoas ainda vivem em áreas ocupadas pela Rússia, incluindo meio milhão na região sul de Kherson.

Kiev cobra entrega de armas

Enquanto avança sobre territórios antes ocupados por russos, Kiev pressiona o Ocidente a entregar mais rapidamente as armas pesadas que foram prometidas, especialmente a Alemanha, a maior economia da Europa, que se encontra em uma posição delicada ao depender fortemente do gás russo para aquecimento durante o inverno.

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, lembrou a Berlim que as armas ocidentais são cruciais para o sucesso militar de seu país e instou os líderes alemães a acelerar o carregamento de tanques de batalha alemães. “Para melhor proteger e equipar nossos soldados, a Ucrânia precisa urgentemente de mais entregas de armas agora”, disse Klitschko ao tablóide alemão Bild em comentários publicados no domingo, 11, fazendo referência específica aos tanques Leopard da Alemanha.

Um prédio danificado por um ataque militar na cidade de Izium, recentemente libertada pelas Forças Armadas da Ucrânia Foto: Serviço de imprensa das Forças Armadas da Ucrânia via Reuters

“Meu pedido ao governo alemão é: entregue o que puder para expulsar os soldados russos de nosso país rapidamente”, disse ele.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro, o chanceler alemão Olaf Scholz surpreendeu o mundo e seu próprio país ao anunciar um plano de 100 bilhões de euros (R$ 517 bilhões) para rearmar a Alemanha e enviar armas para a Ucrânia, acabando com um tabu de décadas contra o fornecimento de armas a países estrangeiros.

Porém, seis meses depois, muitas armas que a Alemanha prometeu a Kiev ainda não chegaram. Scholz não explicou totalmente os atrasos e não divulgou sobre as armas alemãs que foram entregues.

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Nesta terça, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse que a Alemanha está enviando “sinais decepcionantes” em resposta a pedidos urgentes de mais ajuda militar, incluindo tanques Leopard. “Nem um único argumento racional sobre por que essas armas não podem ser fornecidas”, ele twittou.

Durante uma visita a Kiev no sábado, 10, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, pareceu evasiva quando seu colega ucraniano pediu explicitamente tanques Leopard. “À medida que a situação no terreno muda, continuamos analisando nosso apoio e discutiremos outras etapas junto com nossos parceiros”, disse ela. “Eu sei que o tempo é essencial. As próximas semanas e meses serão cruciais”.

Mas no domingo, em meio aos ganhos da Ucrânia no campo de batalha, havia sinais de que o esforço da Alemanha para ajudar a Ucrânia poderia acelerar. “Nesta nova fase da guerra, a Ucrânia precisa de armas que lhe permitam libertar o território controlado pela Rússia e mantê-lo sob controle permanente”, disse Michael Roth, legislador do Partido Social Democrata de Scholz e presidente da comissão de Relações Exteriores do Parlamento alemão. “Isso não teria sido possível sem a entrega de armas ocidentais modernas – também da Alemanha”./AP, AFP, NYT e W.POST