O Estadão passou oito dias na Ucrânia, entre os dias 19 e 26 de maio, onde visitou a cidade fronteiriça de Lviv, conhecida pelo seu valor cultural; a capital altamente protegida de Kiev; a região de fronteira com a Rússia, Chernihiv, onde os combates ainda são ativos; e as cidades da região metropolitana de Kiev que foram ocupadas pelas tropas russas em 2022: Irpin, Bucha e Borodianka, bem como os vilarejos de Moshchun e Andriivka.
No minidocumentário “A vida na Ucrânia em guerra”, a reportagem traz os cenários que encontrou depois de mais de dois anos da invasão em larga escala promovida pela Rússia de Vladimir Putin. Desde a tranquilidade de estar vivendo em cidades distantes do front ou com sistemas de defesa poderosos que permitem aos ucranianos festejar, passando por regiões onde o medo do retorno russo ainda é uma realidade.
O primeiro desafio é chegar até a Ucrânia. Não é possível ir ao país de avião, o que torna a viagem um roteiro de quase dois dias inteiros para ir e mais dois dias para retornar para São Paulo. O mais próximo que é possível chegar pelo ar é até Polônia. O Estadão aterrissou em Varsóvia, capital da Polônia, e seguiu o restante da viagem de carro. Foram quase 5h até a fronteira polonesa-ucraniana, 1h de checagem rigorosa de documentos e mais 1h até a cidade de Lviv.
Em Lviv, considerada um reduto seguro em um país em guerra, a frente de batalha é fisicamente distante, mas os resquícios do conflito estão por todo lado. A cidade viu a sua população dobrar conforme uma onda de deslocados chegava vindo do sul e do leste do país. Classificada como Patrimônio Mundial em Perigo pela Unesco, espaços históricos e culturais são fortemente protegidos de uma guerra onde o patrimônio imaterial se tornou um campo de batalha. Apesar da distância, as constantes sirenes de ataques aéreos são um lembrete quase diário do estado de guerra.
Em um trem que percorre durante toda a noite, a reportagem chega à capital Kiev, onde os impactos da guerra parecem ainda mais distantes. Com plena confiança nos poderosos sistemas de defesa aérea que receberam dos aliados ocidentais, os ucranianos disfrutam de uma vida quase totalmente normal, com direito a bares e restaurantes lotados e baladas que ocorrem durante o dia. Os principais resquícios da guerra estão nos memoriais aos mortos no conflito, aos cemitérios de veículos militares abatidos e prédios do governo altamente protegidos.
Onde a consequência do conflito ainda é muito latente, porém, é nos arredores da capital. As cidades da região metropolitana foram fundamentais para impedir a queda de Kiev para o Exército russo nos primeiros meses de 2022. Mais de dois anos depois, elas ainda lidam com o trauma dos crimes de guerra cometidos ali e tentam se reconstruir em meio aos escombros de prédios e casas destruídos.
Nas regiões de fronteira com a Rússia a guerra também é uma realidade diária. Em Chernihiv, que divide fronteira com a Rússia e Belarus, ainda há combates diários nos vilarejos limítrofes, bem como tentativas constantes de incursão de forças russas. Ali, o medo de um retorno russo ainda assombra a população, que agora vê com atenção a nova ofensiva inimiga na região vizinha de Kharkiv.
O Estadão viajou para a Ucrânia em uma delegação de jornalistas latino-americanos a convite da Fundação Gabo, que tem um projeto para incentivar reportagens em cobertura de conflitos internacionais, em parceria com a organização Ukraine Crisis Media Center, da Ucrânia.
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