Balão espião da China: o que é e como funciona o objeto

Balão supostamente enviado para os EUA pode ser usado para coletar informações sobre sistemas de defesa aérea ou condições atmosféricas, segundo especialista

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Por Redação

Autoridades militares dos Estados Unidos confirmaram na tarde deste sábado, 4, que abateram um balão chinês acusado por Washington de realizar atividades de espionagem. Um fotógrafo da agência Reuters relatou a ação, testemunhando a queda do artefato na costa do Estado da Carolina do Sul.

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O outrora humilde balão é uma das muitas tecnologias que as forças militares da China aproveitaram como uma ferramenta potencial em sua rivalidade com os Estados Unidos e outras potências. Outras máquinas avançadas incluem drones e veículos hipersônicos que podem manobrar em altas velocidades na atmosfera.

Em estudos e artigos de jornais, os especialistas do Exército Popular de Libertação da China acompanharam os esforços dos EUA, França e outros países para usar balões avançados de alta altitude para coleta de informações e para coordenar operações no campo de batalha. Segundo eles, novos materiais e tecnologias tornaram os balões mais resistentes, manobráveis e de maior alcance do que as gerações anteriores de balões.

Desde 2001 a China usa balões para investigações e finalidades de espionagem. O Ministério da Defesa de Taiwan disse que no início de 2022, a China lançou balões sobre a ilha. “Os avanços tecnológicos abriram uma nova porta para o uso de balões”, afirmou um artigo do Liberation Army Daily – o principal jornal militar da China – no ano passado. Outro artigo no mesmo jornal observou que os dirigíveis nas camadas superiores da atmosfera também podem se tornar como “mil olhos” ajudando a monitorar o espaço sideral.

Imagem de arquivo das bandeiras americana e chinesa; balão abre nova crise entre os países Foto: Kiichiro Sato/AP - 02/02/2022

O balão supostamente enviado para os EUA pode ser usado para coletar informações sobre sistemas de defesa aérea ou condições atmosféricas, disse Su Tzu-yun, analista do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança em Taipei.

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As forças americanas teriam poucos problemas para seguir o balão agora, mesmo em altitudes muito mais altas do que as vistas sobre Taiwan, disse ele. “Basicamente, eles são muito óbvios e, devido ao seu grande volume, são facilmente rastreados pelo radar”, disse Su.

O que é o balão e como ele é operado?

Um balão espião é apenas isso - um balão usado para fins de vigilância. “Claramente, eles estão tentando voar com isso – este balão sobre locais sensíveis - para coletar informações”, disse o oficial de defesa dos EUA na quinta-feira.

Um balão espião pode ter uma ou várias câmeras suspensas sob um balão que flutua acima de uma determinada área, carregado por correntes de vento. O equipamento acoplado aos balões pode incluir radar e ser movido a energia solar.

Os balões normalmente operam a 24 mil metros - 37 mil metros (80.000-120.000 pés), bem acima de onde voa o tráfego aéreo comercial - os aviões quase nunca voam acima de 12 mil metros.

E os balões espiões não são novidade: durante a Guerra Civil Americana, a União até usou balões de ar quente para rastrear os movimentos das tropas confederadas. Durante a 1ª Guerra, a seção fotográfica do Serviço Aéreo do Exército dos EUA usou balões para realizar vigilância e fornecer imagens aéreas.

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O porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, fala com a imprensa, em imagem de arquivo Foto: Alex Brandon/AP - 24/01/2023

E na década de 50, a Força Aérea dos EUA lançou o Projeto Genetrix, que descreveu como sua primeira “operação de inteligência de balão de grande escala, não tripulada e de alta altitude”, projetada para tirar fotos sobre “a massa terrestre do bloco soviético”.

A atividade de vigilância de balões continuou nos últimos anos, de acordo com autoridades dos EUA. “Instâncias desse tipo de atividade de balão foram observadas anteriormente nos últimos anos”, disse o secretário de imprensa do Pentágono, general de brigada Patrick Ryder, sem dar mais detalhes.

Por que um balão e não um satélite?

“Nas últimas décadas, os satélites eram o protocolo, o estado da arte da espionagem”, disse ao jornal britânico The Guardian John Blaxland, professor de segurança internacional e estudos de inteligência na Australian National University e autor do livro Revealing Secrets. “Mas agora que lasers ou armas cinéticas estão sendo inventados para atingir satélites, há um ressurgimento do interesse por balões”.

Eles não oferecem o mesmo nível de vigilância persistente que os satélites, mas são mais fáceis de recuperar e muito mais baratos de lançar. Para enviar um satélite ao espaço, você precisa de um lançador espacial – um equipamento que normalmente custa centenas de milhões de dólares.

Os balões também podem varrer mais território de uma altitude mais baixa e passar mais tempo sobre uma determinada área porque se movem mais lentamente do que os satélites, de acordo com um relatório de 2009 do Air Command and Staff College da Força Aérea dos EUA.

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Craig Singleton, especialista em China da Fundação para Defesa das Democracias, disse à agência Reuters que esses balões foram amplamente usados pelos EUA e pela União Soviética durante a Guerra Fria e eram um método de coleta de inteligência de baixo custo.

Qual é o tamanho do suposto balão espião?

As autoridades americanas deram poucos detalhes sobre o balão, incluindo seu tamanho. No entanto, ele podia ser visto a olho nu, apesar de estar em grande altitude. Autoridades americanas dizem que o balão é “grande o suficiente para causar danos do campo de destroços se o derrubarmos em uma área”.

Os EUA “o acompanham há algum tempo”, pois o balão entrou no espaço aéreo do continente americano “alguns dias atrás”, disse o oficial de defesa.

Onde está o balão?

O balão foi visto sobre Montana na quarta-feira, mas as autoridades de defesa não deram mais detalhes sobre sua localização exata. Antes de chegar ao continente americano, o balão sobrevoou as Ilhas Aleutas do Alasca e o Canadá, informou o Washington Post, citando autoridades americanas. Autoridades canadenses disseram em um comunicado que estavam tomando medidas de segurança – “incluindo o monitoramento de um possível segundo incidente”.

Balão chinês sobrevoa Billings, em Montana; segundo autoridades americanas, ele passa sobre locais sensíveis do ponto de vista militar Foto: Chase Doak via Reuters - 01/02/2023

O caminho do balão cruza “vários locais sensíveis”, disse um oficial de Defesa dos EUA. Montana tem ao menos 150 silos de mísseis balísticos intercontinentais, mas o Pentágono está “tomando medidas para ser mais vigilante para que possamos mitigar qualquer risco de inteligência estrangeira”.

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Balões semelhantes, carregando sistemas de orientação, foram detectados sobre o Havaí e Guam, de acordo com oficiais de inteligência dos EUA, mas este balão em particular se destaca por quanto tempo permaneceu sobre o território dos EUA.

A que altura o balão está voando?

Mais uma vez, as autoridades americanas se recusaram a fornecer detalhes específicos ou a altitude exata do balão. No entanto, eles disseram na quinta-feira que estava voando “bem acima do tráfego aéreo comercial e não representava uma ameaça militar ou física para as pessoas no solo”.

O balão “está na atmosfera e sobre o espaço aéreo dos EUA. Não está no espaço sideral”, acrescentou o oficial de defesa.

Por que as autoridades não derrubaram o balão?

Os líderes militares desaconselharam fortemente a “ação cinética” - ou atirar no balão - por preocupação com a segurança dos civis no solo que poderiam ser feridos pelos destroços, disse o oficial de defesa.

“Estávamos analisando se havia uma opção ontem sobre algumas áreas pouco povoadas em Montana. Mas simplesmente não conseguimos reduzir o risco o suficiente para nos sentirmos à vontade para recomendar derrubá-lo”, disse o funcionário, acrescentando que o balão não representava uma ameaça física nem uma ameaça substancial de inteligência.

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“Temos observado o balão por vários meios, incluindo aeronaves tripuladas”, disse o oficial, acrescentando que os militares têm “autoridade suficiente” para “fazer tudo o que for necessário para proteger o povo americano”, autoridade que inclui legislação capacitação para usar a força contra aeronaves não tripuladas.

É sabido que os EUA e a China espionam uns aos outros, e o alto funcionário americano disse que as capacidades do balão não parecem ser “além” dos satélites chineses existentes e outras ferramentas.

Por que a China está fazendo isso?

O professor Steve Tsang, diretor do Instituto da China na Universidade SOAS de Londres, disse que, dado o acesso da China a tecnologia avançada, qualquer balão espião provavelmente teria mais “valor simbólico, mostrando que os chineses são capazes de enviar algo para o ar para inspecionar as instalações militares dos EUA.”

“E eles estão fazendo isso porque, por décadas, os EUA enviaram aviões espiões ao longo da costa chinesa e, às vezes, sobre o espaço aéreo chinês para monitorar os chineses de maneiras que eles não podiam fazer muito”, disse ele. “Agora eles podem, então eles fazem.”

Ao jornal britânico The Guardian, John Blaxland, professor de segurança internacional e estudos de inteligência na Australian National University, disse achar improvável que os chineses não esperassem ser pegos. “Ser pego provavelmente era o objetivo, com dois resultados em mente. A primeira razão pela qual o balão foi lançado foi para constranger os EUA. Ainda melhor se capturasse alguma inteligência ao longo do caminho”, disse Blaxland.

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Em imagem de arquivo, a sede do Pentágono, em Washington Foto: Eva Hambach/AFP - 12/03/2022

“É difícil imaginar como eles poderiam ter pensado que não seria detectado. O espaço aéreo americano é estudado de perto pelas autoridades da aviação civil dos EUA, pela Força Aérea dos EUA, pela Força Espacial dos EUA, pelas redes meteorológicas – é um espaço aéreo extremamente escrutinado”, diz ele.

A segunda razão é tornar os EUA cientes do fato de que a China tem mantido secretamente sua tecnologia e a replicado. “As agências de segurança chinesas são mestres no comportamento de imitação. Eles são muito, muito bons em estabelecer o que é tecnologia e depois tentar replicá-la”, disse Blaxland ao Guardian.

É algo como “qualquer coisa que você pode fazer, podemos fazer melhor” e é “apenas a ponta do iceberg”, diz Blaxland. A espionagem da China acontece “em escala industrial”, com pequenos pedaços de inteligência reunidos e transmitidos de inúmeras maneiras. Juntos, eles formam imagens detalhadas.

O analista de segurança com base em Cingapura, Alexander Neill, disse à Reuters que, embora o balão provavelmente forneça um novo ponto de tensão para os laços China-EUA, provavelmente teve um valor de inteligência limitado em comparação com outros elementos que as forças militares modernizadoras da China têm à sua disposição.

“A China tem sua própria constelação de satélites espiões e militares que são muito mais importantes e eficazes em termos de observação dos EUA, é justo supor que o ganho de inteligência não é enorme”, diz Neill, que é um membro adjunto no grupo Pacific Forum do Havaí. /WP, AP, NYT e AFP

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