Milhares de pessoas foram às ruas de Barcelona, na Espanha, durante o último fim de semana para protestar contra o excesso de turistas na cidade. Alguns dos manifestantes estavam “armados” com arminhas d’água coloridas que fizeram com que visitantes perplexos fugissem dos pátios de restaurantes, abandonando refeições pela metade.
Os manifestantes, que carregavam placas com frases como“Turistas, vão para casa”, afirmam que o turismo inflacionou o custo de vida para os locais, enquanto a receita dos visitantes não tem sido distribuída de maneira justa pela cidade. Com o aumento das viagens após o fim das restrições da pandemia, a frustração na Espanha reflete uma crescente reação contra o turismo excessivo em todo o mundo.
Liderados pela Assembleia de Bairros pelo Decrescimento Turístico, os manifestantes listaram 13 demandas em um manifesto publicado no sábado, 6, incluindo restrições às acomodações turísticas, menos terminais de cruzeiros no porto da cidade e o fim de publicidades turísticas financiadas com dinheiro público.
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Autoridades locais estimaram que 2,8 mil pessoas participaram dos protestos. Daniel Pardo Rivacoba, de 48 anos, membro do grupo organizador, disse que até 20 mil pessoas de 170 organizações participaram dos protestos.
Rivacoba afirmou que o uso das armas de brinquedo com água foi uma decisão espontânea de manifestantes individuais e não foi algo sugerido pelos organizadores. “Receber água no rosto não é agradável, mas não é violento”, disse.
Em resposta às crescentes preocupações, o prefeito de Barcelona, Jaume Collboni, prometeu no sábado reservar 10 mil unidades residenciais normalmente usadas por turistas para moradores locais e aumentar os impostos sobre turistas, além de outras medidas.
Barcelona há muito tempo é um destino turístico popular. No ano passado, quase 26 milhões de pessoas visitaram a região, segundo dados oficiais, e a Espanha foi o segundo país mais visitado do mundo, segundo a Organização Mundial do Turismo da ONU.
A população de Barcelona é de 1,7 milhão de habitantes. Juntamente com Veneza, foi onde começou a reação contra o excesso de turismo, disse T.C. Chang, professor de geografia na Universidade Nacional de Singapura que pesquisa turismo urbano.
“Até onde sei, não houve violência explícita. Mas [o excesso de turistas] já era reconhecido pelo menos dois a três anos antes da pandemia”, disse ele em um e-mail, observando que moradores também colocaram placas de “Turistas não são bem-vindos” nos bairros. “O que aconteceu em Barcelona se espalhará para mais lugares lotados de turistas além da Europa”, acrescentou.
O panorama geral
A cidade de Barcelona não está sozinha em sua irritação com os visitantes. Locais no Japão, Indonésia, Grécia, Itália e Holanda também tomaram medidas para conter influxos no último ano.
No Japão, uma cidade tentou instalar uma enorme barreira em um ponto turístico popular em frente ao Monte Fuji para impedir que turistas tirassem selfies e causassem congestionamentos.
No ano passado, o governo grego impôs um novo sistema de ingressos com horário marcado para a antiga Acrópole, Patrimônio Mundial da Unesco, junto com um limite de visitantes de 20 mil por dia.
Veneza experimentou cobrar taxas extras dos turistas, enquanto Amsterdã restringiu a construção de novos hotéis.
“Acho que o ponto chave aqui é o desenvolvimento sustentável do turismo e a gestão sustentável dos fluxos turísticos dentro de um país”, disse J.J. Zhang, geógrafo do turismo na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura.
Como uma possível solução, Zhang sugeriu determinar a capacidade de locais populares e controlar o tráfego, como “usar tecnologia onde dados em tempo real possam ser comunicados aos turistas para que lugares lotados possam ser evitados”, disse.
Mas Bob McKercher, professor de turismo na Universidade de Queensland, na Austrália, levantou outra questão: a maioria dos turistas mundialmente são domésticos. “Então, enquanto o excesso de turistas pode ser um problema de longa data”, disse, “você realmente pode impedir as pessoas de visitar seu próprio país?”
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